Pouco se sabe sobre o período de namoro, mas a relação de Johnny Depp e Amber Heard revelou-se tumultuosa (quase) desde o início do casamento. O casal conheceu-se durante as gravações do filme "O Diário a Rum", em 2009, e, segundo a atriz, o caso entre os dois terá começado "entre o final de 2011 ou o início de 2012". Depp e Heard casaram-se em 2015 e, quinze meses depois, rebenta o escândalo. Ou, melhor dizendo, arranca um processo complexo que culminou (e continua) em tribunal e em que ambos se assumem como vítimas de violência doméstica.
Em 2016, Amber Heard pede o divórcio e consegue uma ordem de restrição de aproximação contra o ator, alegando que Depp havia abusado dela fisicamente ao longo da relação, normalmente sob o efeito de álcool e drogas. A partir daí, o caso torna-se mais rebuscado. Depois de um acordo de milhões fora do tribunal, ameaças via chamadas telefónicas e um dedo cortado, agora, o ex-casal defronta-se novamente em tribunal. Desta vez, nos Estados Unidos.
Depp já esteve no banco dos réus para testemunhar contra a ex-mulher ao longo de quatro sessões no tribunal de Fairfax, no estado norte americano da Virgínia, desde 11 de abril. E Heard deve ser ouvida pela justiça norte-americana dentro de quatro semanas, período estipulado para o fim do julgamento.
Johnny Depp afirma que Amber Heard o difamou quando escreveu um artigo para o "The Washington Post", em dezembro de 2018, no qual relatou ser vítima de violência doméstica e interpôs uma ação no valor de 50 milhões de dólares (46,3 milhões de euros) por difamação. No entanto, a atriz alega que o ex-marido e os seus advogados proferiram falsas acusações a seu respeito com o principal objetivo não só de a atacar, mas também destruir a sua carreira. Razão pela qual exige agora uma indemnização de mais de 92 milhões de euros.
Ambos os processos baseiam-se em alegadas difamações, mas o ex-casal acusa-se mutuamente de atos de violência física durante a sua relação. Para perceber as recentes declarações de Johnny Depp perante o tribunal de Virgínia, que terminaram esta segunda-feira, 25 de abril, com o ator a declarar que Amber Heard o deixou "destruído", importa perceber os principais pontos deste caso.
2009 - 2015: Do momento em que Depp e Heard se conhecem ao pedido de casamento
A história de Johnny Depp e Amber Heard remonta a 2009, ano em que os atores se conheceram nas gravações do filme "O Diário a Rum", baseado no livro homónimo de Hunter S. Thompson. Na ficção, Depp e Heard interpretam um casal que se apaixona desde o primeiro momento, mas fora do ecrã, de acordo com Amber Heard, o caso entre os dois só terá começado "entre o final de 2011 ou o início de 2012".
Período em que Depp anunciou a separação de Vanessa Paradis, com quem manteve uma relação de 14 anos, e teve dois filhos: Lily Rose e John Cristopher. E, em simultâneo, altura em que Heard se separou da fotógrafa Tasy van Ree, com quem manteve uma relação entre 2008 e 2012, que, tal como reportou o "USA Today", em julho de 2016, também teve acusações de violência doméstica.
Heard terá sido presa em 2009, acusada de agredir a, à data, namorada no aeroporto Seattle-Tacamo International, em Washington. Todas as acusações foram retiradas, com a fotógrafa a alegar que se tratou de um mal entendido. Segundo disse, os dois polícias interpretaram mal o seu testemunho e extrapolaram o incidente.
Mas adiante. O casal começou a namorar e, em setembro de 2015, o ator confirmou o noivado ao "Daily Mail", confirmando assim as suspeitas que já existiam desde 2014. Isto, no caso, depois de o anel de Heard não ter passado despercebido e de o "USA Today" ter descrito a joia como "a pedra que afundou o Titanic".
Em 2015, dá-se o casamento. Em 2016, rebenta o escândalo
No mesmo ano em que o noivado é confirmado, 2015, Johnny Depp e Amber Heard dão oficialmente o nó, numa cerimónia privada, que decorreu na casa do casal, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Já em maio de 2016, a relação dos atores volta novamente a estar na ordem do dia. Desta vez, pelos piores motivos.
Amber Heard pede o divórcio e consegue também uma ordem de restrição contra o ex-marido, alegando ter sido vítima de abusos físicos e psicológicos ao longo da relação, normalmente sob o efeito de álcool e drogas. Esta acusação veio a público em 2016, mas seis anos depois continua em discussão.
Esta segunda-feira, 25 de abril, o quarto dia de Depp no banco das testemunhas num tribunal da Virgínia terminou com os seus advogados a reproduzirem a gravação de uma conversa que aconteceu depois de Heard ter obtido a ordem de restrição em causa, em 2016.
Segundo o ator, Depp e Heard estavam juntos já depois de a ordem de restrição ter sido emitida por vontade da atriz. Depp diz ter concordado com o pedido de Heard de se encontrar num quarto de hotel, em São Francisco, nos Estados Unidos, porque pensou que a ex-mulher poderia retirar a acusação.
Na gravação, citada pelo jornal "Público", Depp sugeria que o casal emitisse um comunicado conjunto. No caso, dizendo que se amavam e que os meios de comunicação social estavam no cerne do mal entendido, aquilo a que chamou uma tentativa de "solução pacífica".
No mesmo áudio, Heard desafia o ator a contar publicamente que tinha sido ele a sofrer abusos. "Diz ao mundo, Johnny", começou por dizer. "Diz-lhes que 'eu, Johnny Depp — um homem —, também sou uma vítima de violência doméstica'", ouve-se. Provocação a que o ator garante ter respondido: "sim, sou".
"Eu não te magoei (...) estava só a bater-te"
Estas gravações foram recentemente reproduzidas no tribunal norte-americano, em que Depp contou a sua versão dos factos, ao longo de quatro sessões de julgamento, que terminaram esta segunda-feira, 25. No entanto, esta não é a primeira vez que surgem registos que ligam Heard a questões de violência doméstica. Já em 2020 foram divulgados pelo "Daily Mail" registos áudio em que o casal falava de um suposta agressão que teria acontecido durante o período de casamento. Ou seja, entre 2015 e 2016.
Nas conversas telefónicas, a atriz admite ter agredido Depp, mas descarta a ideia de que "esmurrou" o ex-marido. "Desculpa por ter-te... batido na cara com um estalo. Mas eu estava a bater-te, não estava a dar-te murros. Querido, não foste esmurrado", cita o jornal. "Não sei qual é que foi o movimento real da minha mão, mas estás bem, eu não te magoei, não te dei um murro, estava só a bater-te".
"Fui-me embora ontem à noite. Porque, honestamente, juro-te, não aguentava a ideia de mais abuso físico um no outro", terá dito o ator. "Porque, se tivéssemos continuado, teria ficado muito mau. E, querida, eu disse-te isto uma vez: morro de medo de sermos uma cena de crime agora", terá acrescentado.
"Não te consigo prometer que não vou tornar-me agressiva outra vez. Meu Deus, eu às vezes fico tão zangada que perco [o controlo]", ter-se-á ouvido Heard confessar.
O dedo cortado
Ainda face aos alegados abusos durante o casamento, o assunto do dedo cortado de Johnny Depp voltou a ser tema de discussão em tribunal, esta segunda-feira, 25 de abril, com a presença de Ben King. O mordomo da casa onde o casal ficou, em 2015, na Austrália, quando o ator estava em rodagem de um dos filmes da saga "Os Piratas das Caraíbas", disse em tribunal ter encontrado o dedo de Depp.
"Havia um pedaço de papel de cozinha amarfanhado, com muito sangue. E [a ponta do dedo de Depp] estava nesse pedaço de papel, nos azulejos no chão do bar, junto a uma cadeira", revelou. À data, de acordo com mensagens entre o ator e o médico, Depp terá revelado ter cortado o dedo.
A defesa de Heard levantou a hipótese de automutilação, mas o ator alegou que só distorceu os factos para proteger a ex-mulher. "Não queria revelar que foi a Sra. Heard que me atirou uma garrafa de vodka e me cortou o dedo", disse, durante o seu depoimento. "Eu não queria metê-la em problemas. Tentei tornar as coisas o mais pacíficas e fáceis possível para todos".
Agosto de 2016. Heard retira as acusações contra Depp em troca de acordo de sete milhões, fora do tribunal
No mesmo ano, em 2016, o caso foi a tribunal e Heard defendeu a sua versão dos factos, em que alegava ser vítima de violência doméstica, mas o casal chegou a um acordo fora do tribunal, depois de a atriz retirar a ordem de restrição de aproximação contra o ator por alegada violência doméstica e anular o pedido de pensão de alimentos de 50 mil dólares por mês.
Pelo divórcio, oficializado em 2017, a atriz recebeu sete milhões de dólares, que admitiu ter doado a instituições de solidariedade, de acordo com a revista "People".
"O nosso relacionamento foi intensamente apaixonado e por vezes vezes instável, mas sempre vinculado no amor. Nenhuma das partes fez falsas acusações para ganho financeiro", lia-se num comunicado conjunto divulgado pela dupla de atores. "Nunca houve qualquer intenção de dano físico ou emocional".
De acordo com a mesma publicação, o divórcio foi oficializado em 2017, com a premissa de que nenhum dos elementos teceria novamente comentários negativos sobre a relação. Escusado será dizer que não aconteceu. Meses depois, surge o gatilho para o processo que está atualmente em tribunal: o artigo de opinião que Amber Heard escreveu para o "Washington Post".
2018-2020. O artigo de opinião de Heard e o processo contra o jornal "The Sun"
Num artigo de opinião publicado no "Washington Post" , Heard falou sobre a forma como são tratadas as mulheres nos casos de violência doméstica — e sem nunca mencionar o nome de Johnny Depp. "Tornei-me numa figura pública que representa a violência doméstica e senti toda a ira que a nossa cultura tem contra as mulheres que falam abertamente", escreveu.
"Ela não é uma vítima de violência doméstica, ela é uma perpetradora", lia-se no processo que o Depp avançou como resposta ao artigo escrito pela ex-mulher, e no qual negou os alegados crimes de abuso de que é acusado. Segundo o processo, Depp acredita que Heard estava a "elaborar um embuste para gerar publicidade positiva" .
"O artigo dependia da premissa central de que a Sra. Heard foi vítima de violência doméstica e que o Sr. Depp perpetrou violência doméstica contra ela", lia-se. Mas o caso não ficou por aqui.
Na sequência do artigo assinado por Heard, o jornal "The Sun" caracterizou o ator como "wife-beater" ("agressor de esposas"), relativamente à relação com Heard. E o ator entrou numa nova luta em tribunal: desta vez, contra a publicação.
A luta jurídica arrancou em julho de 2020. O julgamento decorreu no Reino Unido, durou três semanas e incluiu acusações de Depp contra a ex-mulher, onde, mais uma vez, mencionava que esta o havia agredido com murros, falando ainda em casos extraconjugais, com James Fraco e Elon Musk. Acusações que Amber Heard, até à data, nega veementemente.
Em novembro de 2020, Depp perdeu oficialmente o caso. O tribunal decidiu a favor do "The Sun" e concluiu que o jornal — que deu 14 relatos de incidentes para justificar a expressão "agressor de esposas" — agiu corretamente ao reportar as atitudes de teor violento e abusivo contra a ex-mulher.
A partir daí, a carreira do ator nunca mais foi a mesma e, em agosto de 2021, Depp culpou a "absurda matemática dos media".
Na sequência das acusações, Depp perdeu trabalhos como ator
Ainda em 2020, o ator foi forçado a abandonar o próximo capítulo da saga "Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los".
E, mais tarde, já em 2021, voltou a acusar a indústria de sabotar a sua carreira depois de a estreia do seu filme "Minamata" ter sido suspensa nos Estados Unidos. "Os MGM decidiram 'enterrar o filme' (palavras do diretor Sam Wollman), porque estavam preocupados com a possibilidade de os assuntos pessoais de um dos atores do filme se virem a refletir de forma negativa", lê-se na carta escrita pelo realizador Andrew Levitas e publicada pelo "Deadline", endereçada particularmente aos MGM Studios.
Abril de 2022. O caso volta a tribunal e é transmitido em canal aberto
Depois de ter perdido o processo interposto num tribunal em Inglaterra, Johnny Depp voltou a recorrer à justiça para avaliar o caso. Desta vez, nos Estados Unidos, mais precisamente em Fairfax, no estado de Virgínia. O processo arrancou no passado dia 11 de abril e o ator submeteu-se às questões do tribunal e da defesa de Heard ao longo de quatro sessões, tendo a última acontecido esta segunda-feira, 25 de abril.
O caso voltou a marcar a atualidade não só pela força mediática dos intervenientes, mas porque, desta vez, as sessões em tribunal, que, até à data, contaram com Depp no banco dos réus, foram transmitidas em direto no Youtube e, mais tarde, partilhadas em redes sociais como o Twitter ou o TikTok.
Na última semana, o ator prestou declarações sob juramento e garantiu que "jamais" bateu numa mulher na sua vida, identificando a ex-mulher como o elemento violento da relação. "Ela tem necessidade de conflito. Ela tem necessidade de violência", acusou.
"Ao longo da relação, houve discussões e coisas dessa natureza, mas nunca atingi o ponto de agredir a Sra. Heard sob qualquer forma, tal como nunca agredi nenhuma mulher na minha vida", rematou.
Confrontado com algumas mensagens nas quais dizia que Heard "iria ser completamente humilhada" e que "o karma iria dar cabo dela", Depp assumiu, em declarações citadas pelo "Expresso", que "a única pessoa de quem abusou em toda a vida" foi de si próprio. "Sou vítima de violência doméstica", acrescentou.
Já no contra-interrogatório, a defesa de Heard recorreu a mensagens escritas e enviadas por Depp, em que o ator fala sobre o seu desejo que ver a ex-mulher morta. Entre vários conteúdos, estão frases como "espero que o cadáver em decomposição dessa vaca esteja na mala de um Honda Civic". "Vamos afogá-la antes de a queimarmos. Depois, vou foder o seu cadáver queimado para ter a certeza de que ela está morta", disse o ator, em mensagens trocadas com o amigo Paul Bettany.
"Não estou orgulhoso de nenhum dos termos que usava nos momentos de raiva", disse Depp, alegando tender a usar "humor negro" para se expressar, considerando que terá sido esse o caso.
Na última sessão, esta segunda-feira, 25, Depp confessou que "estava destruído" e revelou que chegou a ter intenções de se suicidar. "Tinha uma faca no bolso, peguei nela e disse-lhe: 'Toma. Corta-me. É o que queres fazer. No fundo, tiraste-me tudo. Queres o meu sangue, toma', conta o ator. "E ela [Amber] disse: 'Não, não'".
"Se ela não o fizesse, eu ia fazê-lo porque era assim que estava emocionalmente e psicologicamente. Estava no fim. Estava destruído", acrescentou.
Amber deve ser ouvida em tribunal já na próxima segunda-feira, 2 de maio
Está previsto que o julgamento termine dentro das próximas quatro semanas. Depois de Johnny Depp, Amber Heard deve ocupar o banco dos réus já na próxima segunda-feira, 2 de maio. A atriz ainda não falou em tribunal, no entanto, o seu nome tem sido escrutinado nas redes sociais. Principalmente, depois de a sua advogada de defesa, Elaine Bredehoft, ter recorrido a uma caixa de maquilhagem para comprovar as alegadas marcas e nódoas negras resultantes dos abusos físicos de Depp.
Durante o contra-interrogatório de dia 12 de abril, Elaine Bredehoft exibiu o Kit de Correção All-In-One da Milani Cosmetics enquanto contava ao júri como Heard disfarçava as alegadas nódoas negras no rosto.
"Isto é o que Amber tinha na sua mala durante toda a relação com Johnny Depp", disse Bredehoft, segurando o produto de maquilhagem para o júri ver. "Ela é uma atriz — acha mesmo que ela teria saído do apartamento sem maquilhagem? Acha que ela alguma vez quereria que outras pessoas vissem os seus hematomas e cortes? Isto é o que ela usou", rematou.
No entanto, este momento em concreto revelou-se controverso. Num vídeo no TikTok, a marca Milani Cosmetics negou que o seu produto pudesse ter sido usado uma vez que não foi vendido até 2017, e o casamento de Heard e Depp terminou no ano anterior, em 2016. "Você perguntou-nos... que fique registado que o nosso Kit de Correção foi lançado em 2017!", lê-se na descrição.
Segundo a revista "People", uma fonte anónima defendeu que a advogada da atriz estava apenas a usar o produto da Milani Cosmetics como um exemplo do tipo de maquilhagem a que Heard recorria para tapar as marcas dos abusos. Ou seja, não estaria necessariamente a dizer que Amber Heard usava a marca em questão.