Nylah Anderson é a quinta criança a morrer devido a um desafio do TikTok. A menina de 10 anos, de nacionalidade norte-americana, morreu depois de suster a respiração durante demasiado tempo, e até desmaiar, no apelidado “blackout challenge” na rede social. Agora, a mãe está a acusar o TikTok de homicídio.
Na quinta-feira passada, 12 de maio, Tawainna Anderson apresentou em tribunal um processo judicial no qual acusa o TikTok e a sua empresa-mãe, ByteDance, de serem uma "aplicação manipuladora e predatória que promove desafios excessivos e perigosos", tal como escreve o "Observador".
No mesmo processo, a mãe de Nylah explica que, dias antes da morte da filha, a rede social já tinha sugerido vídeos do “blackout challenge” à menina de 10 anos. Sendo assim, a norte-americana culpa o algoritmo da plataforma pela decisão de Nylah Anderson de levar a cabo o desafio.
O “blackout challenge” consiste em suster a respiração até desmaiar. No caso de Nylah Anderson, a menina enforcou-se por acidente com um cabide e uma mala, seguindo as indicações dos vídeos do TikTok, enquanto a mãe estava no andar inferior da casa. Depois de Tawainna encontrar a filha, Nylah foi transportada para o hospital, onde esteve cinco dias até morrer. Após a morte da criança norte-americana, uma análise ao telemóvel da jovem revelou que Nylah viu um dos vídeos do desafio antes do acidente.
"Não consigo parar de reviver esse dia na minha cabeça“, afirmou na quinta-feira, segundo o "The Washington Post", Tawainna Anderson.”É altura de estes desafios perigosos terminarem, para que outras famílias não vivam o luto que nós vivemos todos os dias", salientou a norte-americana.
Nylah Anderson é a quinta criança a morrer devido ao “blackout challenge”: em abril de 2020, um rapaz de 14 anos morreu na Austrália e, no ano seguinte, em janeiro, uma criança de 10 ano teve o mesmo destino em Itália. Também em 2021, em abril, um rapaz de 12 anos morreu no estado do Colorado, nos Estados Unidos, e outro de 12 anos perdeu a vida em julho, no Oklahoma.
"Blackout challenge" — o que podem fazer os pais para impedir?
Infelizmente, este não é o primeiro desafio que coloca os mais jovens em perigo. Desde a baleia azul aos perigos do Momo, com a proliferação das redes sociais nos últimos anos, assistimos aos crescentes perigos do online para as crianças. Mas, enquanto pais e educadores, o que podemos fazer para proteger os nossos filhos sem medidas mais drásticas, como proibir a 100% o acesso à internet?
Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, explicou à MAGG — no contexto do caso Jonathan Galindo — que estes desafios virais têm-se "repetido e proliferado nos últimos anos". "São o lado menos bom das redes sociais e da internet, o que só aumenta a importância de os pais e educadores ensinarem às crianças boas práticas em torno do uso do online."
A especialista explica que é "fundamental" que os pais e educadores lidem com esta nova realidade de redes sociais, e alerta que o caminho não é assustar os mais novos, mas sim informá-los e dotá-los da capacidade de fazerem escolhas conscientes.
"Mais do que vigiar, temos de lhes passar a capacidade de fazerem escolhas sensatas que os possam proteger. Não nos podemos esquecer que estes desafios têm sempre como público-alvo uma faixa etária mais vulnerável e sugestionável, que gosta de ter segredos com os seus pares, algo escondido dos pais e professores. Temos de educar as crianças para o uso da internet, das redes sociais, e reservar tempo para explicar aos miúdos o que são boas práticas e, pelo contrário, o que pode representar perigos."
Para Filipa Jardim da Silva, mais do que "causar o pânico ou restringir o acesso ao online", o acompanhamento atento por parte dos pais é importante para ensinar os jovens "a serem eles próprios a detetar conteúdos perigosos e a denunciá-los em contexto familiar".
E como podem os pais e educadores estar atentos e ensinar essas práticas sem o fazer de uma forma intrusiva ou controladora? "É importante mapear o acesso a conteúdos online, nomeadamente através dos vários softwares de controlo parental que existem. Depois, para além do tal tempo que devem reservar a ensinar as boas práticas do online, os pais devem ter conversas abertas sobre os conteúdos a que os filhos tiveram acesso nesse dia. Por exemplo, para além daquelas conversas que se tem sobre o dia na escola, sobre os amigos, os pais devem também perguntar sobre os ecrãs. Se os filhos viram algo na internet que tenham achado piada, e que queiram partilhar, e também se viram algo que os deixou desconfortáveis ou que não tenham compreendido", referiu a psicóloga clínica.
"Diálogo e observação é muito importante", mas a psicóloga assume que é um exercício que nem sempre é fácil. "É verdade que é um exercício muito desafiante, porque os pais não têm bolas de cristal, e a observação é mais uma maratona. Temos de insistir e estarmos preparados para perguntar várias vezes o que se passa, e não obter resposta."