Volodymyr Zelensky deu a sua primeira conferência de imprensa este sábado, 23 de abril, numa estação de metro. Durante o evento marcado por segurança apertada, o presidente ucraniano ameaçou abandonar as negociações de paz caso a Rússia mate os resistentes ucranianos que ainda se encontram na fábrica de Azovstal, em Mariupol.
A CNN Portugal esteve presente e adianta o que aconteceu. A conferência foi organizada secretamente e marcada pela presença de "cerca de 200 pessoas, entre jornalistas, repórteres de imagem, muitos elementos da segurança e do exército ucraniano, além dos enviados especiais de defesa do presidente".
Zelensky deixou claro que não aceita que as tropas russas matem os resistentes ucranianos que estão na fábrica de Azovstal, em Mariupol, nem vai deixar que a Rússia avance com “pseudo-referendos” em Kherson e Zaporizhzhia, para criar “pseudo-repúblicas” nestas regiões ocupadas. Em risco ficam as negociações de paz caso isso aconteça. O governante ucraniano também garantiu que não tem medo de se encontrar com Putin: "Esta guerra pode ser interrompida por quem a começou".
O líder falou em ucraniano e emocionou-se ao referir as vítimas da guerra, sublinhando que está a sofrer "pelas crianças que têm morrido". A difícil situação em Mariupol também é motivo de tristeza e preocupação de Zelensky.
Também aproveitou o momento para deixar uma crítica a António Guterres, uma vez que está previsto que o secretário-geral da NATO visite primeiro Moscovo, na terça-feira, 26, e só depois Kiev, na quinta-feira, 28.
A conferência para os jornalistas aconteceu num local simbólico — numa das primeiras estações de metro construídas em Kiev — que continua a funcionar, "numa tentativa de numa demonstração da normalidade possível na capital ucraniana", escreve a CNN Portugal.
Embora Kiev esteja num clima aparentemente calmo após a retirada das tropas russas há cerca de três semanas, Zelensky continua rodeado de segurança e os locais onde vai mantém-se em segredo. Entretanto, o chefe de gabinete adjunto de Zelensky garantiu à CNN Portugal que o primeiro-ministro português, António Costa, será bem-vindo à Ucrânia, desde que traga "resultados concretos".
Rússia alarga ofensiva para o sul da Ucrânia
Após a Rússia ter revelado as suas intenções de atacar o sul da Ucrânia, já as está a colocar em prática. Atingiu Odessa, no sul da Ucrânia, este sábado, 23, com sete mísseis, matando oito pessoas - incluindo um bebé de 3 meses — e ferindo 18 pessoas, revelou Zelensky na conferência de imprensa: "Eles mataram um bebé de 3 meses. A guerra começou quando este bebé tinha apenas 1 mês de idade. Conseguem sequer imaginar o que está a acontecer aqui?".
Sabe-se ainda que a mãe do bebé também morreu, de acordo com a jornalista ucraniana Olda Rudenko. Esta partilhou no Twitter uma foto partilhada pela mãe do bebé, há cerca de 11 semanas, onde mencionava a felicidade de ter chegado à maternidade.
O número de mortos deste ataque em Odessa também foi confirmado no Telegram pelo presidente da Câmara da região, Hennadii Trukhanov. A quarta maior cidade do país já não era bombardeada há três semanas. As narrativas voltam a não coincidir no que toca a esta ofensiva militar — a Ucrânia diz que os mísseis atingiram uma zona residencial, e 86 pessoas tiveram de ser deslocadas, segundo as autoridades ucranianas.
Já a Rússia garante que utilizou mísseis de alta precisão para destruir um terminal logístico com de armas doadas pelos Estados Unidos e os outros aliados europeus.
"As forças armadas russas neutralizaram hoje, com mísseis de longo alcance e de alta precisão, um terminal logístico de um aeródromo militar situado perto de Odessa, onde estava armazenado um importante lote de armas estrangeiras entregues pelos Estados Unidos e por países europeus", indicou em comunicado o Ministério da Defesa russo, citado pela CNN Portugal. A entidade garante que o objetivo da Rússia era atacar "22 instalações militares ucranianas, incluindo três depósitos de armas e munições perto de Ilitchiovka e de Kramatorsk que foram destruídos".