Um novo vídeo divulgado este domingo, 21 de novembro, mostra a tenista chinesa Peng Shuai, desaparecida desde o início do mês após ter acusado um ex-alto cargo do governo chinês de agressão sexual, num evento desportivo. A divulgação do vídeo, feita por jornalistas da imprensa chinesa, associada ao governo, surge depois de a preocupação pela saúde e bem-estar da tenista ter chegado até ao Ocidente.
Embora o vídeo em questão mostre a tenista a ser apresentada durante um evento desportivo e, mais tarde, a assinar bolas de vários fãs, a verdade é que, até à data, não foi possível confirmar quando é que as imagens terão sido captadas e se serão, de facto, referentes a este domingo e reais (ou seja, não encenadas).
Além disso, não é possível perceber se Peng Shuai estará, de facto, livre, ou se, caso o vídeo seja recente, estará a ser forçada a realizar estas aparições públicas.
Foi essa, aliás, a posição expressa por Steve Simon, presidente da Associação de Ténis Feminino (WTA, na sigla original) que, após a divulgação das novas imagens, considerou-as insuficientes.
"Este vídeo é insuficiente. Embora seja um sinal positivo vê-la [em público], não é claro se está livre e capaz de tomar decisões por si. Como tenho vindo a dizer desde o início, continuo preocupado acerca da saúde e da segurança de Peng Shuai e temo que a alegação de agressão sexual esteja a ser censurada e varrida para debaixo do tapete. Fui claro sobre o que precisa de acontecer, mas, neste momento, a nossa relação [referindo-se à WTA] com a China está numa encruzilhada", diz Steve Simon, citado pelo jornal britânico "The Guardian".
As imagens surgem depois de Hu Xijin, diretor do jornal "Global Times", associado e controlado pelo governo chinês, ter feito saber que Peng Shuai deveria aparecer em público muito em breve.
A garantia decorre da preocupação internacional acerca da acusação de agressão sexual feita pela tenista sobre Zhang Gaoli, que entre 2013 e 2017 foi vice-primeiro-ministro da China e com quem, no início da sua carreira, manteve uma relação consensual de intimidade.
O e-mail suspeito e a preocupação internacional
Terá sido logo após a sua saída do governo, em 2017, que Gaoli a terá forçado a ter relações sexuais, depois de a ter convidado para jogar ténis em sua casa.
Depois de mais de duas semanas longe do olhar público, um e-mail alegadamente assinado por Peng Shuai e divulgado pela imprensa chinesa — que em tempos a descreveu como a "princesa" nacional — levantou ainda mais preocupações sobre a sua segurança, já que a mensagem contradizia as declarações iniciais da atleta.
"As informações que constam naquele comunicado de imprensa [emitido pela WTA] não são verdadeiras, inclusive a de agressão sexual. Não estou desaparecida nem em risco. Tenho estado a descansar em casa e está tudo bem. Obrigado pela vossa preocupação", lê-se.
A mensagem gerou ainda mais preocupação, dando origem ao movimento #WhereIsPengShuai? que, em tradução livre para português, significa #OndeEstáPengShuai?. As primeiras reações ao e-mail surgiram através da própria WTA, que garante que se nada for feito para assegurar a segurança da atleta, o circuito poderá retirar todas as competições de ténis da China.
"Tenho muita dificuldade em acreditar que a Peng Shuai terá, de facto, escrito aquele e-mail que recebemos", diz Steve Simon.
Esta posição foi corroborada por Lü Pin, ativista chinesa que fundou a plataforma online Vozes Feministas, entretanto banida pelo governo. "Ela não é a primeira a ser forçada a desaparecer e ao silêncio. Este tipo de abordagens não são, de todo, pouco comuns na China. As autoridades têm demasiado poder e não há ninguém capaz de as chamar à responsabilidade", diz em declarações ao "The New York Times".
À pressão internacional sobre a China juntou-se também a Casa Branca com Jen Psaki, responsável pela relação com a imprensa americana, a garantir que a administração de Joe Biden quer que o governo chinês divulgue "provas facilmente verificáveis e independentes" que atestem à localização e segurança de Peng Shuai.
Da mesma forma, também as Nações Unidas exigem uma investigação transparente face às acusações da tenista. Colegas de desporto, como Serena Williams, já falaram sobre o caso, exigindo uma investigação sem precedentes.
"Estou devastada e chocada com as notícias acerca de Peng Shuai. Espero que esteja sã e salva, e que seja encontrada o mais brevemente possível", escreveu a tenista Serena Williams nas suas plataformas oficiais, exigindo ainda que o caso "seja investigado" até às últimas consequências. Também outros jogadores, como o sérvio Novak Djokovic, exigiram uma investigação completa e imediata.