Yevhen Mezhevyi, um pai ucraniano, foi separado dos três filhos após as crianças terem sido raptadas e deportadas para a Rússia, em seguimento da invasão russa à Ucrânia. O homem não desistiu de procurar os filhos, duas meninas e um rapaz, e acabou por conseguir reencontrá-los.

Este caso representa o reflexo de milhares de pais ucranianos cujos filhos lhes foram retirados e levados para a Rússia desde o começo dos conflitos. As deportações forçadas constituem um crime de guerra, que já levou o Tribunal Penal Internacional a emitir um mandado de captura a Vladimir Putin na sexta-feira, 17 de março, escreve a "SIC Notícias".

A história deste pai solteiro de 40 anos, cujos filhos foram deportados enquanto o homem se encontrava preso pelas tropas russas, acabou por ter um desfecho diferente do normal, visto que a grande maioria dos pais que perderam os filhos continuam sem ter informações relativamente ao seu paradeiro. Porém, o processo até ao reencontro não foi fácil para Yevhen, que passou a fronteira entre os dois países, encontrando os filhos em Moscovo, a capital russa.

Ao "The Guardian", o homem recordou o dia da invasão, em fevereiro de 2022. "Assim que começámos a ouvir os disparos, os meus primeiros pensamentos foram o meu filho, Matvii, de 13 anos, e das minhas filhas, Sviatoslava, de 9, e Oleksandra, de 7. Eu estava no trabalho e apanhei um táxi direto para casa, junto dos meus filhos. Passámos os dias seguintes a mudar de um abrigo para outro, a dormir em colchões insufláveis, sem água e eletricidade."

Porém, a 17 de março, quando a família se encontrava num abrigo de bombas de um hospital em Mariupol, apareceram no local tropas russas, que já tinham conseguido entrar na cidade. A família acabou por ser reencaminhada pelos militares para Vynohradne, a sul da cidade onde se encontravam, até que um "oficial russo viu algo" nos documentos de Yevhen.

O homem, que tinha servido no exército ucraniano de 2016 a 2019, sabia que à medida que as cidades fossem sendo ocupadas, as tropas russas iriam procurar e prender antigos militares, e mesmo tendo deitado fora o seu uniforme com o intuito de não ser descoberto, isso não foi suficiente.

"Já te apanhámos", afirmou um militar russo ao pai solteiro, que sugeriu que o homem arranjasse uma ama para cuidar dos filhos, que questionou durante quanto tempo iria ser preciso. "Podem ser duas horas, podem ser sete anos", responderam os militares. O pai pediu então a uma mulher que também se encontrava no abrigo que tomasse conta dos filhos enquanto este estivesse fora, achando que seria apenas por umas horas.

Contudo, acabou por ser transferido para uma prisão em Donetsk, que acolhia prisioneiros de guerra ucranianos, onde permaneceu durante 45 dias. Após esse período, foi à cidade levantar os seus documentos e tentar perceber onde estavam os seus filhos, quando se apercebeu que os certificados de nascimento das crianças haviam desaparecido. Questionou um oficial das tropas russas do seu paradeiro, que afirmou que, nessa manhã,  tinham sido levadas para Moscovo, "para um campo".

Uma vez que não tinha dinheiro para a viagem de busca pelos filhos, o homem tentou arranjar trabalho e contactar o campo onde as crianças estariam. Até que em junho foi contactado pelo filho mais velho, Matvii. "Pai, foi-me dito que o campo está a fechar, em cinco dias, e nós temos de ir ou para uma família de acolhimento ou para um orfanato."

Face a estas informações, o pai percebeu que não poderia perder mais tempo, e arriscou viajar até à Rússia com o intuito de ir buscar as crianças. "Graças a Deus, encontrei voluntários que me ajudaram a chegar a Moscovo. Foi muito difícil entrar para a Rússia a partir dos territórios ocupados e fui interrogado várias vezes, apesar de já ter passado 45 dias na prisão deles e só queria ir buscar os meus filhos. Mas ninguém se importava com isso. Eventualmente, entrei na Rússia e apanhei um comboio para Moscovo", contou Yevhen ao "The Guardian".

Quando chegou ao campo onde os filhos se encontravam, foi interrogado por várias pessoas, e obrigado a preencher vários formulários, e foi nessa altura que teve uma surpresa. "Enquanto eu estava a preencher o último documento, ouvi as vozes das minhas meninas e parei. Elas correram e abraçaram-me, durante imenso tempo. Depois disso, o meu filho, Matvii, apareceu."

Já com os filhos, o homem estava radiante. "Mesmo hoje, não consigo acreditar em tudo o que eu e os meus filhos passámos. Mas, felizmente, consegui tê-los de volta. Felizmente, agora estamos juntos. E isso é tudo o que importa", concluiu o pai ucraniano.