A atriz Regina Duarte, secretária da Cultura do Brasil, não gostou dos comentários feitos por Maitê Proença, que criticou a posição do governo de Jair Bolsonaro em relação à preocupação com a classe de artistas do país. A atriz, que ficou conhecida dos portugueses com o papel de Viúva Porcina na novela "Roque Santeiro", recusou-se a responder às questões colocadas pela colega. A entrevista à CNN Brasil acabou mesmo por ser interrompida uma vez que Regina Duarte tirou os auriculares durante a emissão e exigiu que a entrevista terminasse.

“Quem é você que está desenterrando uma fala de Maitê, quem é você?”, perguntou a secretária da cultura, de 73 anos, à pivô Daniela Lima, que estava nos estúdios da CNN brasileira. “Eu tive que dar um chilique aqui, vocês estão desenterrando mortos, trazem um cemitério nas costas. Sejam leves”, pediu. A pivô explicou que a gravação tinha sido enviada horas antes e mesmo assim Regina Duarte recusou responder. “Daniel, isso não foi combinado. O combinado foi uma entrevista com você”, dirigindo-se ao repórter que a estava a entrevista no seu gabinete em Brasília.

Em comunicado, a CNN Brasil lamentou a situação, explicando que Regina Duarte tinha interrompido a entrevista. “A CNN Brasil esclarece que a secretária de Cultura, Regina Duarte, interrompeu a entrevista exclusiva concedida ao âncora Daniel Adjuto no final da tarde de hoje, dia 7, no programa 360º. A interrupção aconteceu quando foi exibido um depoimento da atriz Maitê Proença, solicitado pelo canal no início da tarde de hoje, para debater as questões do setor cultural no Brasil. A secretária entendeu que o vídeo de Maitê se tratava de uma gravação antiga e decidiu encerrar sua participação. A CNN lamenta o episódio e reafirma seu compromisso de sempre ouvir todos os lados para informar melhor o país”, pode ler-se.

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O depoimento de Maitê Proença visava a falta de apoios e informação à classe de artistas brasileira e pedia esclarecimentos diretos por parte da secretária da cultura. “A cultura está perplexa com a falta de informação com o que tem sido feito. O proposto. É inexplicável o silêncio sobre uma política para o setor. Nós estamos a sobreviver de vaquinhas. Nesse túnel comprido, e sem futuro à vista para arte, que afinal, se faz juntando gente. Mas, afinal, até quando isso vai se sustentar? São muitos poucos os que têm reservas financeiras para milhares [de artistas] que estão à míngua. Enquanto isso, morrem os nossos gigantes: Rubens, Aldir... Nenhuma palavra de nosso presidente, de nossa secretária. Regina, eu apoiei desde o início o seu direito a posição que divergia da maioria. Regina, fala com a gente”.

Horas mais tarde, e depois da atitude de Regina Duarte de recusar responder a estes comentários, Maitê Proença comentou a situação.

“Como a Regina foi ontem conversar com o Presidente, a CNN me ligou e eu topei falar. Achei que estava na hora de fazer alguma coisa como classe. Eu acho que ela não quis ouvir. Ela presumiu que era uma coisa do passado, não era. Eu estou absolutamente viva. A cultura está perplexa com esse silêncio abissal em relação à política pelo setor, nós estamos vivendo de vaquinhas. Fomos os primeiros a parar e seremos os últimos a voltar, pois nosso trabalho pressupõe uma aglomeração", disse a atriz à revista “Veja”.

“Nossos grandes estão morrendo, como Rubem Fonseca e Flávio Miglliaccio, e ela e o presidente não dizem uma palavra. Eu fui a primeira pessoa a defender a Regina por ter o direito de pensar diferente. Mas agora estou clamando para ela mostrar os feitos e para conversar com a sua classe. Eu pedi para ela, mas ela não quis escutar. É isso que nós temos para hoje. Eu gosto dela. Eu penso diferente dela, mas eu respeito o direito de enxergar o mundo de forma diferente. Eu acredito que a Regina é bom caráter”.