No início do surto do novo coronavírus na China, o país divulgou dados mais otimistas em comparação com aqueles que eram, na altura, os números reais. Além disso, as autoridades de saúde terão tardado em confirmar casos já diagnosticados, avança a CNN que cita documentos internos e privados a que teve acesso através de denunciantes que pediram o anonimato. O relatório foi analisado por vários especialistas independentes, através da CNN, que comprovaram a sua veracidade.

O mesmo documento mostra que as autoridades de saúde da província de Hubei, local onde foram reportados os primeiros casos de infeção, terão sido incapazes de reportar milhares de novos casos diários nos estágios iniciais da pandemia.

A 10 de fevereiro, por exemplo, a China divulgou 2.478 novos casos de infeção. No entanto, os especialistas e responsáveis por acompanhar a evolução da doença na região registaram, internamente, 5.918 novos casos. Os motivos para esta discrepância de valores têm que ver com a lentidão com que as autoridades de saúde conseguiam identificar os casos.

Um dos documentos cedidos à CNN mostra que, no início de março, o tempo de médio entre o reportar de sintomas por um pessoa suspeita de estar infetada e o diagnóstico podia demorar cerca de 23 dias. Mas houve também vários testes com erros, o que significa que a maioria das pessoas que estavam, de facto, infetadas, receberam resultados negativos a 10 de janeiro — contribuindo assim para o aumento exponencial da transmissibilidade em comunidade.

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No relatório, que cobre o período de outubro de 2019 até abril deste ano, revela-se ainda que as primeiras medidas para travar a transmissão foram prejudicadas não só pela burocracia, mas também pela falta de dinheiro e profissionais suficiente.

A divulgação do relatório à estação de televisão norte-americana surge meses depois de o governo dos EUA ter acusado o executivo chinês de ter ocultado, de forma deliberada, informações sobre a forma como a situação sanitária estava a evoluir no país. Foi ainda em junho, aliás, que o Conselho de Estado da China defendeu a atuação do governo alegando que o executivo procedeu á divulgação de informações sobre a pandemia "de forma oportuna, aberta e transparente".

"Ao fazer um esforço total para conter o vírus, a China também agiu com grande sentido de responsabilidade para com a humanidade, o seu povo, a posteridade e a comunidade internacional. Forneceu informações sobre a COVID-19 de forma totalmente profissional e eficiente e divulgou informações confiáveis e detalhadas o mais cedo possível numa base regular", explicou fonte oficial do Conselho de Estado da China, avança a Agência Lusa citada pelo jornal "Observador".

Ainda que estes novos documentos não revelem de que a ocultação da informação aconteceu de forma deliberada, a CNN diz que são esclarecedores quanto às inconsistências entre aquilo que, de facto, estava a acontecer no país e aquilo que as autoridades de saúde acreditam ser a conjuntura do momento.