Mal os valores da tensão estão um pouco acima da média, está ditada a sentença. "Corte com o sal", diz-nos o médico, a mãe, o vizinho e todos aqueles que cresceram a ouvir que aquele aparentemente inofensivo condimento está, afinal, na origem de todos os males.
Mas sabe explicar exatamente porquê?
No Dia Mundial da Hipertensão, que se assinala a 17 de maio, o cardiologista Paulo Alves explica à MAGG que o consumo excessivo de sal, ao provocar um aumento do conteúdo de sódio nos fluidos corporais, contribui para a retenção de água e consequente aumento da pressão arterial.
A Sociedade Portuguesa de Hipertensão completa esta ideia desmistificando conceitos e retirando do sal o rótulo de mau da fita. "O sal não faz mal, é o seu excesso que faz mal", explicam no site que usam também para passar informação sobre a forma como a alimentação influencia os resultados obtidos na hora de pôr a tensão arterial em teste. "Consumido em demasia faz o organismo reter mais líquidos e aumentar o volume, levando a uma sobrecarga no sistema circulatório, prejudicando os rins e contribuindo para o aumento da pressão sanguínea", pode ainda ler-se.
A este corte com o sal, há que juntar outros hábitos saudáveis para que os níveis voltem aos considerados normais. "Diz-se que uma pessoa tem valores de pressão arterial normais, quando apresenta a pressão arterial máxima (sistólica) abaixo dos 130mmHg e a mínima (diastólica) inferior aos 85mmHg. Para valores entre 130-139mmHg de pressão arterial sistólica e/ou 85-89mmHg de pressão arterial diastólica, diz-se que os valores são normais-altos e, portanto, essa pessoa apresenta um maior risco de vir a ter hipertensão arterial", explica ainda Paulo Alves, cardiologista no Hospital Lusíadas Lisboa. O primeiro número e mais elevado, diz respeito à pressão que o sangue exerce nas paredes das artérias quando o coração está a bombear sangue. É a chamada pressão arterial sistólica — habitualmente chamada “máxima”. O segundo número indica-nos a pressão que o sangue exerce nas artérias, quando o coração está relaxado. É a chamada pressão arterial diastólica — habitualmente chamada “mínima”.
Diminuir o consumo de álcool, ter uma alimentação mais saudável, cortar com o tabaco, fazer exercício físico — tudo conjugado — é o antídoto perfeito para um coração saudável. Mas se é para começar por algum lado, que se comece pela cozinha. Não pense que é por diminuir no sal que a vida deixa de ter encanto. Há formas de cozinhar que disfarçam a falta do tempero a que está mais habituado e, quem sabe, descobrir até uma nova forma de apreciar os alimentos.
1. Adicionar menos sal à comida
Já nem vamos falar do saleiro que tende a pairar nas mesas de alguns restaurantes. Esse utensílio é para esquecer. Agora, quando está nas suas mãos a confeção do prato, vá provando à medida que cozinha para que nunca peque por sal em excesso. Experimente diminuir aos poucos as quantidades, até porque o palato também pode (e deve) ser educado.
2. Variar nas especiarias
Orégãos, ok. Salsa, ok. Pimenta, ok. Mas, vá lá, podemos ser tão mais criativos. Basta ir ao supermercado e reparar melhor nas especiarias que fazem companhia na prateleira àquelas que traz mais regularmente. Vai ver que encontra por lá algumas surpresas. Uma dica: se tiver oportunidade, visite um supermercado indiano, é o paraíso das possibilidades do sabor diminuido a pó.
3. Usar gomásio
É um condimento muito utilizado na macrobiótica e que funciona como substituto do sal. Ainda que leve sal na sua composição, é tão diluído que, feitas as contas, promove uma redução no seu consumo diário. Além disso, é um tempero remineralizante devido ao elevado teor em sais minerais e especialmente em cálcio.
Pode comprá-lo já feito ou fazê-lo em casa. Basta para isso juntar uma proporção de 18 colheres de sobremesa de sementes de sésamo para uma colher de sobremesa de sal marinho. Começa-se por tostar o sal numa frigideira para que perca toda a humidade e moer até obter um pó fino. Tostam-se também as sementes de sésamo e, de seguida, junte-as ao sal e mói-se até ficarem parcialmente desfeito. Pode ser consumido logo ou armazenado num frasco de vidro fechado, no qual dura vários meses.
4. Medir com uma colher
A ingestão de sal recomendada pela Organização Mundial de Saúde é de até 5 gramas por dia. E todos nós sabemos que aquela "pitada" de sal é mesmo só uma pitada.
Em vez de usar as mãos para deitar o sal na panela, use uma colher e, nas primeiras vezes, pese a quantidade para ter uma noção do que realmente está a pôr.
5. Fazer marinadas
Deixar o peixe ou a carne — e o tofu ou o tempeh, porque não? — numa marinada ajuda a que, depois, nem seja preciso acrescentar sal à cozedura. Experimente juntar limão, alho em pó e, por exemplo, paprika fumada e deixe a proteína repousar ali umas horas. Vai ver que nem se lembra que o sal era uma opção.