O primeiro-ministro, António Costa, revogou na manhã desta quinta-feira, 30 de junho, a decisão sobre a construção dos aeroportos no Montijo e Alcochete, anunciada esta quarta-feira, 29, pelo governo.

A alternativa ao aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, "tem de ser negociada e consensualizada com a oposição, em particular com o principal partido da oposição e, em circunstância alguma, sem a devida informação prévia ao senhor Presidente da República”, diz a nota do primeiro-ministro, citada pelo "Diário de Notícias".

A oposição começará a ser ouvida quando o líder do PSD retomar "funções este fim de semana para definir o procedimento adequado a uma decisão nacional, política, técnica, ambiental e economicamente sustentada", diz ainda o comunicado.

O anúncio dos novos aeroportos aconteceu após décadas de discussão sobre a alternativa ao aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, mas ainda não é desta que há uma reviravolta, como era intenção do Ministério das Infraestruturas e da Habitação, de Pedro Nuno Santos, que passou o processo de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) das mãos do mãos do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) para o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), como anunciou no despacho publicado esta quarta-feira.

A ideia seria que, dentro de um ano, se começasse a acelerar a construção do aeroporto do Montijo, que serviria de apoio temporário ao aeroporto Humberto Delgado, e, ao mesmo tempo, ao aeroporto em Alcochete. O objetivo era que o primeiro estivesse pronto em 2026 e o segundo em 2035.

Daqui a 13 anos, quando o aeroporto de aeroporto de Alcochete estivesse totalmente operacional, fechar-se-ia o aeroporto Humberto Delgado, “libertando a cidade dos impactes associados a uma infraestrutura aeroportuária tão perto do centro urbano”, justificou o Ministério das Infra-Estruturas, citado pelo jornal "Público".

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Os ambientalistas manifestaram-se contra a decisão do governo, considerando que é "ilegal e inaceitável", além de ser "uma decisão precipitada, sem o suporte de uma verdadeira avaliação ambiental estratégica (AAE) devidamente enquadrada num Plano Aeroportuário Nacional", diz o texto assinado pelas organizações Almargem, Associação Natureza Portugal / WWF, A ROCHA, FAPAS, GEOTA, Liga para a Proteção da Natureza, Quercus, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e ZERO, citado pelo "Observador".

O anuncio feito numa altura controversa, dado que decorre a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas até 1 de julho em Lisboa, como frisaram os ambientalistas, representando assim um “péssimo exemplo dado por Portugal”. Criticaram ainda a "intenção do governo de instalar um aeroporto provisório no Montijo até 2035 sem qualquer tipo de instrumento estratégico que o sustente” e, sobre Alcochete, disseram que é “incompreensível” o governo fazer este anúncio e o de uma nova AAE à nova localização do aeroporto.

Por outro lado, a decisão (entretanto anulada por António Costa) foi aplaudida pela ANA - Aeroportos de Portugal, para quem a nova "solução permitirá obter a capacidade aeroportuária que o País necessita, da forma mais rápida e economicamente viável, com benefícios para a economia, o turismo, e a continuidade territorial portuguesa", disse em comunicado.

Também o presidente da Câmara do Montijo, Nuno Canta, saudou o anúncio, dizendo que "estamos perante uma decisão que é histórica para o País". "Resolvemos um problema que tem 60 anos e é preciso realmente o País avançar e começarmos efetivamente a ter construção de infraestruturas estratégicas e que permitam reformular estruturalmente o País", comentou na CNN Portugal.

Em termos de ganhos, o presidente do Montijo destacou benefícios para o País, mas em especial para "a península de Setúbal". "Estamos a falar de uma coisa muito importante para a vida das pessoas, empresas e certamente de toda uma estratégia futura que temos de encetar no nosso território e da península de Setúbal", rematou.