Estudantes com a cara pintada de preto, vestidos com latas e saias de palha, entoando um cântico que inclui a expressão "somos conhecidos por canibais". São estas as imagens que podem ser vistas num vídeo de praxe da licenciatura de Biologia e Geologia da Universidade do Minho que está a ser acusado de conter "teor extremamente racista", segundo as palavras da Quarentena Académica, uma plataforma reivindicativa formada por estudantes de várias zonas do país.

O vídeo terá circulado pelas redes sociais na terça-feira, 8 de dezembro, a propósito da celebração da Latada, que em 2020 foi realizada virtualmente, solicitando-se a cada Comissão de Praxe que publicasse um conteúdo no Youtube. 

"Neste vídeo constata-se que todos os estudantes nele presentes fazem uso de 'blackface' (pintar a cara e o corpo de preto), enquanto entoam cânticos, dos quais se destaca o seguinte trecho: ‘Este é o nosso curso / Nos enche de orgulho e respeito / (…) / Nós somos conhecidos por canibais’”, diz a organização, citada pelo jornal "O Minho".

Na rede social Instagram, a Quarentena Académica repudiou "severamente esta situação", apelando a que "a Reitoria da Universidade do Minho e restantes entidades competentes averiguem esta situação, tomando todas medidas necessárias”.

Miguel Martins, estudante de Sociologia e responsável distrital deste movimento, em entrevista ao jornal universitário "ComUM", considera que a situação é "surreal, terrível e grave", e explica que a denúncia surgiu depois de terem notado as reacções negativas de quem se deparava com o conteúdo. “O vídeo, infelizmente, é de um teor extremamente racista. Eu acho que não faz qualquer sentido a sua existência nem compreendo o porquê de ter sido feito”.

A reitoria da Universidade do Minho já reagiu. Além de surpreendida, viu com "profundo desagrado" o conteúdo partilhado pelos alunos. “Os tempos de distanciamento físico não podem, em caso momento, significar que os estudantes se distanciem dos valores, princípios e missão da Universidade do Minho."

A prática da "blackface" ter-se-á tornado popular no século XIX, nos Estados Unidos, tendo-se estendido à Europa, até, pelo menos, ao final dos anos 70, altura em que terminou o programa popular britânico "The Black and White Minstrel Show". Era uma prática em que, além de se pintar a cara e corpo de preto, se ridicularizavam pessoas negras, em prol do divertimento de pessoas brancas, fazendo recurso a estereótipos imprecisos e ofensivos, numa altura em que, entre muitas outras desigualdades, era negado o acesso ao teatro e cinema a esta fatia da população.

"O 'blackface' tem raízes no racismo, que está ligado ao medo de pessoas negras e à ridicularização delas", disse Kehinge Andrews, da Birmingham City University, no Reino Unido, à BBC. "É um problema racial de longa data na Europa."