Angelita Correia era "extremamente alegre, muito excêntrica, super sorridente". Era uma "miúda muito vistosa", que se fazia sempre notar. Era extrovertida, de "gargalhada solta".

Quem a descreve é Mafalda Gomes, amiga e colega da instrutora de fitness, que foi encontrada sem vida na terça-feira, 11 de janeiro, na praia de Matosinhos. Conheceram-se há pouco mais de ano e meio: "Nós tornámo-nos próximas através do Fit Dance, que foi a modalidade que nos uniu, por nos termos tornado instrutoras", conta. "Ela também estava a tirar um curso de instrutora de fitness. O sonho dela era trabalhar nesta área."

Instrutora de dança transexual encontrada morta na praia de Matosinhos
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Foi uma das que se empenhou em procurar a brasileira transgénero de 31 anos, desaparecida desde a madrugada de 1 de janeiro: juntamente com outras seis pessoas (que não incluíam o marido, com quem um dos elementos foi mantendo contacto), criou cartazes que espalhou pelas redes sociais e pelas ruas do Porto. Contactaram as pessoas mais próximas, foram perceber quais é que foram os últimos contactos que tinham sido feitos.

Um dos últimos sinais foi dado pela uma da manhã, através de um direto no Instagram. "Houve pessoas que assistiram e fizeram alguns relatos: foi breve, na rotunda da Boavista e todas as pessoas que a conhecem dizem que ela não estava em si. Não dizia coisa com coisa. Dizia que estava a receber ameaças", conta Mafalda. "Nos últimos posts no Instagram também é visível que ela estava completamente alterada."

A irmã, Susana Alcântara, foi uma das que viu o vídeo: "Eu e minha sobrinha vimos e ficamos desesperadas", conta ao jornal "A Redacção". Ao "G1" terá disse: “À noite, eu vi uma notificação no Instagram dela fazendo uma live. Ela disse que estava sendo ameaçada, mas que não tinha medo. Em seguida, a live pausou. Minha sobrinha chegou a ligar para ela depois e contou que a Angelita estava muito nervosa, olhando para os lados e pedindo para ligar para o marido dela”.

 "A mensagem dizia: 'Acho que fui sequestrada. Lembrei-me de tudo. Estou com medo de tudo'"

Mas este não terá sido o único contacto feito nesta noite, em que terá saído de casa para se encontrar com uma amiga. Antes, na praia de Matosinhos, conta Mafalda Gomes, terá feito uma videochamada, pela meia noite, a uma prima. "Na videochamada, ela garante que ela tinha de estar com alguém, porque a ouviu dizer: 'Amiga, já vou'".

O marido Jorge diz ter sido o último contacto da instrutora. "Ela estava na área da Rotunda da Boavista [no Porto], onde tinha ido visitar uma amiga e falamos ao telefone. Quando lhe voltei a ligar, era já 1h12, o telefone dela já deu sinal de desligado", contou ao "Jornal de Notícias. Mas, conta Mafalda, exatamente por esta hora terá também enviado uma mensagem a uma familiar. "A mensagem dizia: 'Acho que fui sequestrada. Lembrei-me de tudo. Estou com medo de tudo'." Depois, o telefone ficou desligado.

O marido, contou ao "Jornal de Notícias", passou várias horas à procura da mulher na zona da Boavista. Acredita ter-se tratado de um rapto: "É tudo muito misterioso, mas alguém quis fazer mal à nossa Angelita. Acreditamos, eu e a família dela, que pode ter sido sequestrada", disse o português, casado com a instrutora de dança desde 2019. 

Mafalda Gomes conta que, "nos últimos tempos, ela [Angelita] estava mais cabisbaixa e mais preocupada", relatando alguns problemas conjugais "normais".

Mafalda não acredita que Angelita tenha posto termo à vida. "Nós não acreditamos que a Angelita se tenha suicidado", diz a colega e amiga. "Há muitas coisas aqui mal contadas." O marido vai no mesmo sentido: "Não cremos que se tenha suicidado, não tinha razões para isso", diz Jorge. "Alguém lhe fez mal...".

Os pertences encontrados e o telemóvel desaparecido

Logo depois de ter desaparecido, e muitos dias antes de ser encontrada sem vida, pelas 9 horas de dia 2 de janeiro, muitos dos seus pertences foram encontrados no areal da praia de Matosinhos — mas o telemóvel não. O marido foi alertado pelas 11 horas desse dia.

Na sequência disto, foram então efetuadas buscas entre os dias 2 e 4, "por terra e por mar", relatou Santos Amaral, comandante da Polícia Marítima do Porto e de Leixões, "não tendo sido encontrado nenhum corpo."

Só a 11 de janeiro, terça-feira, é que o corpo, já em estado avançado de decomposição, foi encontrado nesta praia por um surfista. Com suspeita de ter havido crime, o caso foi entregue ao Ministério Público. A investigação está a cargo da Polícia Judiciária, que ao jornal "Público", avançou de que “é prematuro estar a avançar qualquer tipo de conclusões”, estando a averiguar se houve ou não intervenção de terceiros. "Só depois da autópsia"

O marido de Angelita Correia terá já, segundo o "Jornal de Notícias", fornecido o IMEI - International Mobile Equipment Identity, número de identificação do telemóvel, que permitirá aceder à localização do aparelho.