A história de Constança Braddell tornou-se pública na passada quinta-feira, 4 de março, quando a jovem de 24 anos decidiu usar a rede social Instagram para partilhar com o País o seu estado de saúde e pedir ajuda. "Não quero morrer, quero viver! Nunca pensei chegar ao ponto de ter de escrever sobre a iminência da minha morte", começou por dizer captando de imediato a atenção dos portugueses.

Na mesma publicação, a jovem, que sofre de fibrose quística, mostrou qual o impacto que esta doença pode ter na vida quotidiana. Apesar de ser uma doença "mortal e incurável", tal como a própria descreve, Constança explicou que havia um medicamento capaz de a salvar. "Kaftrio/Trikafta é um medicamento “ LIFE CHANGING”, o único que me pode salvar. O Kaftrio já está disponível em vários países. Este medicamento não é a cura mas tem a capacidade de prolongar a vida de um paciente com Fibrose Quística. Pode prolongar a minha vida."

"Não quero morrer". Constança precisa de um medicamento para viver e pede ajuda
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Este medicamento foi aprovado pela Comissão Europeia em agosto de 2020, mas, em Portugal, só pode ser disponibilizado mediante Autorização de Utilização Excecional, coisa que Constança não tinha uma vez que a doença só se manifestou em setembro. "O INFARMED está ciente da eficácia deste medicamento e continua em negociações intermináveis para aprovação do financiamento do mesmo", explicou.

A publicação da jovem de 24 anos começou rapidamente a circular bem como uma petição e uma angariação de fundos com o objetivo de juntar dinheiro para que Constança conseguisse comprar o medicamento a título individual. O País uniu-se e, em menos de 48 horas, os donativos excederam o valor necessário. Constança conseguiu quase 200 mil euros — o valor de que precisava era 192 mil euros.

Esta segunda-feira, 8 de março, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) submeteu cinco pedidos de Autorização de Utilização Excepcional (AUE) para o tratamento inovador destinado a pacientes com fibrose quística, e Constança está incluída nestes pedidos.

Logo após a indignação gerada nas redes sociais sobre o caso da jovem de 24 anos, o Infarmed explicou que não tinha recebido nenhum pedido de AUE do Hospital Santa Maria. Ao jornal "Público", fonte hospitalar explicou  que estava a ser negociada a integração de Constança no programa de acesso precoce ao medicamento, mas o hospital decidiu esta segunda-feira fazer o pedido de AUE para garantir que a jovem tivesse acesso ao medicamento.

Constança Braddell está internada no Hospital Pulido Valente

Após a mediatização do caso, a jovem teve de ser internada no Hospital Pulido Valente. "O meu estado de saúde agravou-se. Estou a ser bombardeada com muita coisa e tenho de me manter calma, mas estou super ansiosa. Estou muito feliz com todo o apoio, mas muito, muito ansiosa. Não consigo falar muito. Estou com aparelho. Não sei nada do que está a acontecer. A minha família é que está a tratar de tudo", explicou Constança ao "Jornal de Notícias". 

Herculano Rocha, presidente da Associação Portuguesa de Fibrose Quística, critica a burocracia que, em seu entender, está a encravar o processo e a levar ao desespero de doentes como Constança. "O Infarmed coloca empecilhos ao desenvolvimento, a burocracia atrasa os tratamentos de quem mais precisa", disse ao "Correio da Manhã".

Constança encontra-se neste momento "muito ansiosa, na expectativa e à espera do medicamento", disse Pedro Marques, pai da jovem, em entrevista à "CMTV". Quanto aos quase 200 mil euros que foram angariados a irmã de Constança, Vera Marques, garantiu: "O dinheiro vai ficar parado até concluirmos que não vai ser necessário. Será com certeza para a comunidade científica na área da fibrose quística".