Esta é uma pergunta cuja resposta devia ser um não redondo. Mas a realidade não é essa. Quem o diz é Caroline Criado Perez, autora de "Invisible Women". A escritora, conhecida por defender várias causas feministas, lançou este livro nos Estados Unidos a 7 de março, onde expõe uma série de dados sobre as diferenças entre ser mulher e homem no mundo atual.
É do conhecimento geral que no cinema e na televisão os mais bem pagos continuam a ser os homens, mas Caroline Criado Perez partilha vários outros exemplos que provam que vivemos numa sociedade construída a pensar no homem. Coisas do dia a dia tão simples como pegar num telemóvel: "Os designers de produto não têm em conta a estrutura das mulheres. Com o tamanho atual dos smartphones, torna-se muito mais difícil para uma mulher mexer no telemóvel só com uma mão do que para um homem", explicou a autora ao "Daily Mail".
Se no seu local de trabalho está sempre com frio, há uma explicação. Existe uma temperatura standard para os escritórios definida através de uma fórmula desenvolvida nos anos 60, tendo como base um homem de 40 anos, com 70 quilos. Mas, num estudo mais recente, foi revelado que o ritmo do metabolismo de uma jovem mulher é bastante mais baixo do que o do homem. "Isto significa que os escritórios atualmente estão com temperaturas cerca de cinco graus mais baixas do que deviam para uma mulher." Está explicado o motivo pelo qual as mulheres se queixam tanto do frio no trabalho.
A mulher é, por isso, invisível, segundo Perez. "Assume-se que a perspetiva masculina é a base, enquanto que a mulher — metade da população mundial — é apenas um nicho." E tudo começa na escola, com os livros escolares, onde entre 1960 e 1990 havia apenas 9% de figuras femininas. Numa análise feita em 2017, percebeu-se que apenas 10,8% das páginas continha referências a mulheres, segundo contou Caroline Criado Perez em entrevista.
Mas os exemplos não ficam por aqui. No que diz respeito à segurança rodoviária, também o homem foi tido sempre como modelo. "Quando uma mulher tem um acidente de carro, tem 47% mais de probabilidade de se magoar do que um homem e mais 17% de morrer. Isto porque a maioria das mulheres se senta mais perto do volante, por serem mais pequenas, e isso, segundo os fabricantes de automóveis, aumenta o risco de lesões internas." Os testes de colisão são habitualmente feitos com manequins de 1,77 metros, com 76 quilos e com a massa muscular e espinha dorsal de um homem, segundo a autora.
Também na medicina, são várias as diferenças entre homem e mulher. Visto como demasiado complexo, o corpo da mulher é muitas vezes excluído dos ensaios clínicos, fazendo com que os estudantes de medicina aprendam sobre o corpo e saúde da mulher como um extra, conforme explica Caroline Criado Perez.
O facto de os estudos serem feitos na maioria das vezes em apenas um dos sexos, faz com que um deles seja prejudicado, pois o que resulta num pode não resultar no outro. "É por isso que há medicamentos que não têm tão bons resultados nas mulheres. Nos Estados Unidos, entre 2004 e 2013, houve dois milhões de reações más de mulheres a medicamentos, comparado a 1,3 milhões nos homens."
À venda no Wook na versão original, para já ainda não existe previsão da chegada do livro em português.