Com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) avançou com um estudo sobre o perfil nutricional dos alimentos para crianças dos seis aos 36 meses e concluiu que "31% dos alimentos têm, pelo menos, uma fonte de açúcar indicada na lista de ingredientes" e "97% apresentaram, pelo menos, um tipo de alegação nutricional ou de saúde na embalagem", que pode induzir os pais em erro.
Entre março e julho de 2021, o INSA recolheu informação nutricional de 138 alimentos rotulados como adequados para a faixa etária dos 6-36 meses e vendidos em cinco superfícies comerciais da região de Lisboa.
Os investigadores distribuíram os alimentos por três categorias — papas infantis, refeições “de colher” (incluindo as subcategorias: sobremesas lácteas, purés de fruta, purés de carne/peixe) e bolachas/snack — e procuraram analisar a presença de sal e açúcar, que "não devem ser consumidos durante o primeiro ano de vida", afirmam os autores do estudo: Filipa Matias, Rui Vaz, Ricardo Assunção, Mariana Santos, Isabel Castanheira.
No entanto, a conclusão não é favorável à saúde das crianças.
"Foi verificado que 25% (n=35) dos alimentos têm sal adicionado e 47% (n=16) das papas infantis, 50% (n=5) das bolachas/snacks e 23% (n=22) das refeições 'de colher' têm pelo menos uma fonte de açúcar na sua formulação", pode ler-se no documento.
O açúcar e sal podem estar de certo modo camuflados por designações menos diretas, encontradas em 97% dos alimentos estudados. "As alegações mais frequentes são: 'sem adição de açúcares' (69%), 'sem corantes/conservantes' (54%), 'fonte de vitaminas/minerais'/ 'enriquecido com vitaminas/minerais' (36%), 'sem adição de sal' (33%)", exemplificam os investigadores e lembram que a promoção inadequada dos alimentos vai conta as orientações da OMS e do Codex Alimentarius.
Outro estudo do INSA divulgado em novembro de 2020 revelava que a maioria das bolachas e dos cereais de pequeno-almoço têm açúcar e sal a mais e o novo relatório, focado na alimentação das crianças após iniciarem o período de introdução progressiva de novos alimentos, a partir dos 6 meses, chega a resultados semelhantes.
De acordo com os autores do estudo, no qual foi possível constatar que "dos 138 alimentos analisados, 69% não cumpriam todos os critérios nutricionais propostos pelo modelo da OMS", é preciso adotar medidas para melhorar a oferta alimentar disponível às crianças para um adequado aporte nutricional e energético.
"Os resultados obtidos revelam a necessidade de implementar medidas que limitem a promoção de alimentos menos saudáveis destinados à faixa etária dos 6-36 meses, de modo a garantir que pais e cuidadores tenham acesso a informações claras e fiáveis sobre as escolhas alimentares que fazem para os seus filhos", defendem.