Depois de os quatro arguidos terem sido ouvidos no Tribunal de Santarém, incluindo Ivo Lucas, que descreveu o dia do acidente, foi a vez de quatro das 11 testemunhas do caso deporem no julgamento do acidente que vitimou Sara Carreira, que começou esta terça-feira, 24 de outubro.
António Silva, Cabo da Guarda Nacional Republicana (GNR), foi a primeira testemunha a ser ouvida, tendo sido este a assinar o relatório final das investigações. O militar chegou ao local do acidente uma hora depois, quando já lá estavam os bombeiros e o INEM.
O militar referiu que o carro em que Ivo Lucas e Sara Carreira seguiam percorreu 96 metros após colidir no carro de Cristina Branco, sendo que os destroços se concentraram junto ao separador central. O Cabo recorda que falou com Paulo Neves e Tiago Pacheco, dois dos arguidos, no local do acidente, mas que Ivo Lucas e Cristina Branco já tinham sido transportados para o hospital.
As fotografias do acidente não foram mostradas em tribunal, devido à violência das imagens, segundo o “Correio da Manhã”, mas apresentaram as imagens de videovigilância da A1 da noite de 5 de dezembro de 2020, data em que a cantora morreu.
Depois de o veículo de Cristina Branco embater na viatura de Paulo Neves, passaram no local pelo menos oito carros. Nos dois vídeos exibidos, mostraram a colisão da fadista com o carro de Paulo Neves e o carro de Ivo Lucas a colidir com o carro de Cristina Branco, seguindo-se o choque entre o carro de Tiago Pacheco e o de Ivo Lucas.
“No primeiro embate, os dois condutores contribuem para a causa do acidente. Um estava a 30km/h e o outro estava distraído, a condutora não identifica que há um carro à sua frente”, afirma António. “O Evoque [carro de Ivo Lucas] aproxima-se daquele local e não identifica que há um obstáculo na via, há uma distração interna por parte desse condutor. Já há muitos destroços na via e o último condutor ainda assim segue em excesso de velocidade, o que aparenta uma irresponsabilidade por parte do condutor”, continuou.
Além disso, o Cabo da GNR afirma que a colisão do carro de Tiago Pacheco com o de Ivo Lucas “tem inércia suficiente para agravar o estado de saúde” dos passageiros, dado que se vê nas imagens “que o Evoque vira”.
Nuno Lopes, militar da GNR que escreveu o auto de notícia do acidente, contou que quando chegou ao local perguntou se havia feridos e que lhe disseram “que havia até uma vítima mortal”, além de que Ivo “tinha uma fratura exposta”.
“A vítima mortal foi transportada, tem de ser sempre acompanhada pela GNR, fui eu que fui acompanhar, assim que deixámos o corpo na morgue fizemos o teste de álcool ao sangue”, contou. “Foi um cenário onde havia bastantes destroços na via, havia muitos intervenientes, pessoas que paravam só porque sim, outras porque colidiam com destroços. Eu tenho ideia de que onde estávamos apanhámos ali pequenos focos de nevoeiro, mas no local do acidente não havia nevoeiro”, continuou.
Joaquim Barbeiro, ex-bombeiro, também foi ouvido tribunal, já que quando se deparou com o acidente fez “a avaliação do local” e ligou para o 112. “O Ivo estava muito nervoso e desorientado, fui à frente e encontrei os senhores de outro carro que estava a incendiar”, descreveu.
“E quando voltei vi que estava uma menina inconsciente”, disse, começando a descrever de forma pormenorizada o estado em que encontrou Sara Carreira. “Apareceu lá uma senhora que é médica, juntos cortámos o cinto para conseguir pôr a vítima em posição [lateral de segurança], mas já estava em paragem cardiorrespiratória”, recordou.
“Quando lá chegámos encontrámos o Ivo, sentámos o Ivo no banco do pendura do nosso carro e pedi à minha companheira para ir avaliando”, disse Joaquim, acrescentando que deu o seu casaco ao cantor que estava sem t-shirt. “Ele estava muito confuso na altura, só dizia que tinha um familiar que tinha tido um acidente ali”, continuou.
Helena Oliveira foi a quarta testemunha a ser ouvida em tribunal. “O Ivo estava muito nervoso também e tinha o pulso partido, estive sempre com o Ivo, saía às vezes para ver como estava a situação no outro lado”, recordou a mulher, que levou o cantor para o seu carro.
“Fiquei sempre ao pé do senhor Ivo. Eu tentava falar com ele, porque estava com medo que ele adormecesse. O Ivo só dizia que parecia que estava num sonho, eu tentei mantê-lo calmo. Ele queixava-se com muitas dores. Ele disse que estava a ter um sonho que um amigo tinha tido ali um acidente”, acrescentou.
“Visualizei uma menina que estava em mau estado e que já tinha falecido”, referiu a mulher. Fernanda Antunes, ao ouvir este relato, abandonou a sala de audiências e Tony Carreira saiu para reconfortar a ex-mulher. O primeiro dia do julgamento da morte de Sara Carreira chegou ao fim, recomeçando esta quarta-feira, 25 de outubro.