Nilton dormiu pouco na madrugada de segunda-feira, 16 para 17 de março. Às 5h42 terminava de editar um vídeo que envolve 45 humoristas portugueses que se juntaram para animar os portugueses que estão em quarentena. Antes disso, ao telefone, do outro lado da linha, recebia o apoio moral de Marco Horácio, o humorista e apresentador que reuniu todos os artistas num grupo de WhatsApp, depois de afinar alguns detalhes com Herman José — que "melhorou a ideia", conta à MAGG.

Marco Horácio não quer o protagonismo de quem pensou primeiro. Este trabalho, explica, é fruto do esforço de todos os intervenientes que, prontamente, alinharam na iniciativa que resulta num vídeo de 24 minutos, com 45 clips de 30 segundos que cada artista gravou a partir de casa e que começa agora a ser divulgado nas redes sociais de cada um. Para lá dos que já referimos, participaram ainda nomes como António Raminhos, Nuno Markl, Rui Unas, Eduardo Madeira, Ana Garcia Martins ou Guilherme Duarte.

"Isto é uma ideia de todos. Eu fui só o rastilho, porque toda a gente quis participar e envolver-se nesta iniciativa", explica. "A classe humorista está junta, estamos a fazer coisas para trazer alguma felicidade e sorrisos às pessoas."

A alegria em tempos de quarentena é um dos dois principais motivos que levoaram a que todos estes humoristas portugueses se reunissem. "É a nossa forma de fazer as pessoas sentirem-se mais felizes e acompanhadas. O principal motivo foi este. O vídeo está acessível aos seguidores de qualquer pessoa que o partilhe, pode ser partilhado em qualquer rede, em qualquer canal de youtube. É feito exclusivamente para as pessoas", diz. "Nesta altura, é o que temos de fazer: dar o melhor de nós e agradecer ao povo português tudo o que tem feito pelos humoristas."

Mas há mais uma mensagem importante neste vídeo (que procurou ser "transversal" e, por isso, animar pessoas de todas as faixas etárias). Ao mesmo tempo que a classe do humor quer combater o sentimento de pânico, dá o exemplo e mostra que está em casa. "Outro motivo passa por consciencializar as pessoas que têm de ficar em casa. Não devem entrar em pânico e ceder ao medo, mas têm de levar isto a sério. É preciso entender que, por mais que custe, é o que tem de ser feito. Por nós e para respeitar todos os que estão a trabalhar e a pôr a saúde e vida em risco."

Marco Horácio tem passado os últimos dias em casa e diz-nos que tem sentido o mesmo que "a maioria das pessoas". Ressalva, no entanto, que o ser humano vai ganhar a batalha contra o vírus. "Isto vai passar, nós vamos ganhar ao vírus, as pessoas podem ter a certeza. Temos é de ser auto disciplinados."

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Por último, lembra o lado positivo das circunstâncias negativas em que vivemos: "Eu tenho a certeza de que as pessoas vão sair mais fortes, perceber o que é que é importante na vida. Isto é um momento de reflexão. E acho que dentro do mau, se vão fortalecer relações, fortalecer as famílias, o espírito de entreajuda, que deverá permanecer quando isto terminar." E acrescenta: "No final disto tudo, talvez toda a gente perceba que temos de conversar mais, abraçar mais e não nos perdermos nas redes sociais, no trabalho, porque há coisas mais importantes na vida. Que se aproveitemos este tempo para nos equilibrarmos, para trabalharmos o autoconhecimento, para conhecermos quem nos rodeia, porque com o stresse da vida deixamos passar muita coisa."

Alguns humoristas de peso ficaram de fora, como é o caso de Ricardo Araujo Pereira, Salvador Martinha ou Luís Franco Bastos. "Sei que vai haver uma iniciativa nestes dia com outras pessoas [humoristas] que estão comprometidas de outro lado. A classe artística está toda unida."