No sábado, 1 de junho, foi dia de crismas na ilha do Pico, nos Açores, e algumas cerimónias foram marcadas por alegadas agressões por parte dos padres, devido a algumas madrinhas estarem apenas casadas pelo civil.
Lisa Toste contou o “triste episódio” que lhe aconteceu na Igreja de Nossa Senhora da Piedade, nas Lajes do Pico. “Como está visível nas fotos, o padre Luís Manuel Rodrigues Garcia Dutra, pároco da Igreja da Ribeirinha, Santo Amaro e Prainha, agarrou o meu braço com violência e afastou-me para eu não pôr a mão no ombro do meu afilhado”, relatou ao “Notícias ao Minuto”.
“O meu afilhado já é também de batismo. No momento do batismo estava em união de facto e não houve problema. Atualmente, sou casada pelo civil. Daí a atitude do Padre Luís”, disse, acrescentando que, dias antes da cerimónia, entregou ao padre Paulo Baptista da Igreja da Piedade um documento onde o padre da sua Igreja declarava que Lisa podia exercer o “múnus de ser madrinha” e que este a autorizou a “pôr a mão em cima do ombro” do afilhado.
A diocese de Angra afirma que foi uma “falta de comunicação” entre os dois padres, mas que a situação foi resolvida e Lisa pôde ser madrinha do afilhado. A mulher pondera apresentar queixa na PSP e enviar uma carta ao bispo de Angra, Armando Esteves Domingues, a expor o caso, já que, além do constrangimento, a força exercida pelo padre piorou uma luxação em processo de cura.
No mesmo dia, ocorreu um caso semelhante na Igreja de Santo António, em São Roque, também no Pico. “O Papa Francisco diz que a Igreja é para todos, que a Igreja não tem portas, que está aberta para todos, mas este senhor Tomás Brito, a quem nem consigo chamar padre, não é seu discípulo”, disse César Ferreira, pai de uma jovem que fez o crisma e que foi impedida de ter como madrinha quem tinha escolhido por esta estar casada apenas pelo civil.
“As fotografias comprovam, houve agressão física. Ele agarrou, empurrou, sacudiu. Foi visto por toda a gente”, atirou. A jovem de 16 anos saiu da Igreja perante aquela confusão e, mais tarde, foi crismada com outra madrinha, esta casada pela Igreja.
O pai garante que, face às agressões “morais e físicas”, “vai ser apresentada uma queixa na PSP por agressão” e que vão “constituir advogado para levar isto a outras instâncias”. Além disso, a família vai expor o caso à diocese de Angra e ao Vaticano.
Veja as fotos.
Carmo Rodeia, porta-voz da diocese de Angra, afirmou que o que sucedeu não pode acontecer, mas recordou que quem frequenta a Igreja tem de cumprir as regras inscritas no código de direito canônico aprovado em 1983.
“Aquilo que se passou no Pico não poderia ter acontecido, não deveria ter acontecido. Nem no Pico nem em lugar nenhum. Mas no fundo, o que aconteceu, foi um gesto irrefletido do sacerdote que quis acautelar estas regras que estão em vigor, que são aceites por todos, porque quem se abeira do altar para celebrar o sacramento do crisma está perfeitamente ciente e consciente deste conjunto de normas”, expliou ao “Notícias ao Minuto”.
“Há questões que já estão ultrapassadas, que já estão desadequadas e de facto o Papa já o tem dito várias vezes que precisam de ser necessariamente alteradas, mas estas são as regras que estão em vigor às quais temos de corresponder”, continuou, acrescentando que a diocese de Angra “está a acompanhar a situação com o cuidado que todas estas coisas merecem” e que “os padres em questão já tiveram oportunidade de falar com o senhor bispo”.