Portugal poderá registar em 2020 o maior saldo natural negativo do século, caso a tendência do número de mortes superior ao de nascimentos, verificada nos primeiros dez meses do ano, se mantenha até ao final de dezembro. Desde 2009 que o número de mortes ultrapassa o total de nascimentos, mas em nenhum ano se verificou os valores atuais, noticia esta quarta-feira , 2 de dezembro, o jornal "Público".
As estatísticas têm em conta o número de "testes do pezinho" feitos nos primeiros dez meses deste ano. O teste, que consiste na recolha de gotículas de sangue no pé do recém-nascido ao terceiro dia de vida, cobre quase a totalidade dos nascimentos no País, permitindo confirmar o número total de nados-vivos. Os dados do programa de rastreio neonatal aos quais o "Público" teve acesso, revelam que entre janeiro e outubro, foram feitos 71.719 testes — quase menos dois mil do que nos dez primeiros meses de 2019 e menos cerca de mil do que no mesmo período de 2018.
Quanto à mortalidade, esta está a assumir uma dimensão crescente. Este ano deverá ser batido o recorde do número de óbitos provocado, não só pela pandemia da COVID-19, como também pelas restrições e dificuldades de acesso aos cuidados de saúde e pelas ondas de calor no Verão. De acordo com o sistema de monitorização da Direcção-Geral da Saúde, que atualiza ao dia o número de mortes em Portugal, entre janeiro e outubro morreram perto de 100 mil pessoas.
"O que explica o saldo natural extremamente negativo são os óbitos, porque este ano, e desde o início da pandemia, o número de mortes acima do esperado tem sido significativo”, afirma a demógrafa e professora na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Maria João Valente Rosa, citada pelo "Público". Entre março, mês em que foram detetados os primeiros casos de COVID-19 no País, e novembro, registaram-se mais 9640 óbitos do que a média, em período homólogo, dos últimos cinco anos, avança o mesmo jornal.
A diminuição da natalidade e o aumento da mortalidade são fatores, que conjugados, fazem elevar o saldo natural negativo. Nos primeiros dez meses de 2020, a diferença era já de 27.770, um valor nunca antes registado neste século. Apesar de serem dados provisórios, sujeitos a alterações, é provável que a tendência se venha a agravar visto que novembro e dezembro são meses que normalmente registam maior mortalidade. Com a exceção de 1918, quando o País foi invadido pela gripe pneumónica, não há registo de um ano com uma taxa de mortalidade tão alta.