O último relatório de monitorização da gripe do Instituto Nacional Ricardo Jorge, referente ao período entre 30 de novembro e 6 de dezembro, aponta para uma taxa de incidência de gripe de zero por cem mil habitantes. "A taxa de incidência de síndrome gripal (SG) foi de 0,0 por 100.000 habitantes", lê-se no relatório, publicado na quinta-feira, 10 de dezembro. Desde o início da época gripal, e desde o início da monitorização, que arrancou há nove semanas, foram registados apenas casos pontuais de gripe.

No entanto, destacam os relatórios deste instituto, citados pelo jornal "Público", “este valor deve ser interpretado tendo em conta que a população sob observação foi menor do que a observada em período homólogo de anos anteriores”.

Assim, e apesar dos números baixos, ainda é cedo para se tirar conclusões. “Não podemos tirar já conclusões sobre a época gripal, ainda estamos numa fase precoce", diz ao "Público" Cátia Caneiras, da Comissão de Trabalho de Infecciologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. “Embora se preveja uma menor actividade gripal do que no ano passado, espera-se um aumento em relação ao que está agora.”

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Até porque há fatores que já faziam prever esta diminuição. Uma delas tem que ver com o efeito da vacina da gripe: “Pelo segundo ano consecutivo temos uma vacina tetravalente, que garante maior abrangência dos serotipos [dos vírus da gripe] em circulação. Já na época gripal 2019/20, comparativamente com a época anterior, tivemos uma intensidade mais baixa”, explica Cátia Caneiras.

Além disso, há ainda as ilações que podem ser retiradas relativamente ao inverno no Hemisfério Sul, que é sempre um fator de previsão sobre a época da gripe no Hemisfério Norte. Neste caso, lançou a possibilidade de um “início de actividade gripal mais à frente no tempo”.

Soma-se ainda o facto de o inverno ter chegado mais tarde, com temperaturas baixas que só agora se começam a fazer sentir. Este pormenor conjugado com as medidas de protecção impostas pela COVID-19 — distanciamento e utilização de máscara — explicam a baixa incidência do vírus da gripe.

Tanto assim é que a baixa incidência da gripe tem originado outra conversa, precisamente sobre a utilização da máscara. "Em vez de encararmos como uma inevitabilidade [as estatísticas anuais de gripe], devíamos ponderar, nas próximas épocas, algumas medidas, como o uso de máscara" em grupos "a estudar, como o das comorbilidades e das idades mais avançadas", diz um epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, citado pelo "Jornal de Notícias".

Pedro Simas, virologista, concorda, fazendo ao mesmo jornal a ressalva de que seja garantida a "escolha pessoal": "Do ponto de vista médico e científico, faz sentido que pessoas de grupo de risco tenham a liberdade e o discernimento de se protegerem."

“A implementação generalizada de medidas de controlo de infecção – o uso de máscaras, mais lavagem das mãos – protege para a SARS-CoV-2, para a gripe e para outros vírus respiratórios. São medidas que são comuns e são das mais eficazes no controlo de infecções, sejam virais sejam bacterianas”, diz também ao "Público" Cátia Caneiras, que acredita que se “deve continuar a manter estas medidas", por protegerem "a nossa saúde e a dos outros, não só para a covid, mas também relativamente à gripe.”