Os tempos que vivemos não são fáceis para as pessoas mais ansiosas. Os portugueses fechados em casa dividem-se entre o teletrabalho, os filhos e as tarefas domésticas, ao mesmo tempo que tentam contrariar a incerteza deste período. E tudo isto gera muito stresse, que para além dos efeitos psicológicos esperados, também pode causar mudanças físicas visíveis no seu corpo. E uma delas é especialmente dramática, particularmente para o sexo feminino: falamos da queda de cabelo.
De acordo com a médica dermatologista Helena Toda Brito, o stresse e a ansiedade podem causar um determinado tipo de queda dos fios, apelidado de deflúvio telogénico. "Para compreender a queda que ocorre no deflúvio telogénico, é necessário conhecer o ciclo de vida do cabelo", salienta a dermatologista à MAGG, que divide o ciclo de vida dos fios em três fases sucessivas.
"A anagénese é a fase de crescimento, a catagénese refere-se à transição e, finalmente, a telogénese é fase de repouso", explica a especialista, que refere ainda que cerca de 90% dos nossos cabelos encontram-se na fase de crescimento, ou seja, na anagénese.
No deflúvio telogénico, o que acontece é que "após um stresse físico ou emocional grave, um grande número de cabelos entra simultaneamente na fase de repouso", diz Helena Toda Brito. "E como a telogénese tem a duração de cerca de três meses e culmina com a expulsão do cabelo do folículo piloso, o resultado será uma queda de cabelo acentuada cerca de três meses após o evento desencadeador".
E se há coisa que "rima" com stresse, é a quarentena e os tempos que atravessamos. "O isolamento social, as preocupações, os receios em torno da doença [COVID-19] e a incerteza em relação ao futuro podem provocar um stresse emocional grave e prolongado, que poderá potenciar este fenómeno", relata a médica dermatologista. "Mas todos nós expressamos os efeitos do stresse de forma diferente, pelo que tal não irá provocar queda de cabelo em todas as pessoas."
Helena Toda Brito também alerta para outros fatores que podem levar à queda de cabelo, para além do stresse. "É de referir também o efeito indireto de outras alterações, nomeadamente a toma de medicamentos que possam ter como efeito adverso a queda de cabelo, como alguns antidepressivos, e alterações no estilo de vida, como uma dieta desequilibrada ou perda de peso, que possam contribuir também para a queda."
Mais do que solucionar, é importante prevenir
Em primeiro lugar, é preciso entender que podem existir pessoas mais sensíveis a esta queda do cabelo provocada pelo stresse. "Para além do stresse emocional, existem diversos fatores de stresse físico que podem desencadear o deflúvio telogénico", explica Helena Toda Brito. "O período de pós-parto, uma doença crónica grave, cirurgia, uma dieta muito restritiva, todos são fatores. Se estiver presente simultaneamente mais do que uma causa de deflúvio telogénico, a sua gravidade será maior".
Da mesma forma, a especialista também refere que o impacto desta queda pode ser superior em pessoas com condições pré-existentes, como a alopecia androgenética, que se traduz numa queda dos fios hormonal.
No entanto, no que diz respeito à queda de cabelo associada ao stresse, há boas notícias: acaba por passar com o tempo. "Felizmente, esta queda é transitória, sem gravidade, resolvendo-se por si mesma em menos de seis meses, sem necessidade de tratamento", explica a dermatologista.
E apesar de existirem vários tratamentos no mercado para a queda de cabelo (e que acabam por ser úteis em qualquer altura para reforçar a densidade dos fios), estes não são uma solução para o deflúvio telogénico. "Nestes casos determinados pelo stresse, a queda de cabelo foi determinada cerca de três meses antes do seu início, pelo que os cabelos destinados a cair vão-se soltar, independentemente dos cuidados adotados", diz Helena Toda Brito.
Ou seja, mais do que remediar a situação, importa prevenir e travar o seu agravamento, "adotando estratégias de redução do stresse, nomeadamente prática de exercício físico, meditação e sono reparador, e procurando ter uma vida saudável, com uma alimentação equilibrada".
A médica dermatologista alerta para a necessidade de consultar um médico se a queda for muito acentuada ou não se resolver num período de seis meses, "para investigação de outros fatores agravantes ou desencadeadores que estejam a contribuir para a queda de cabelo, como carência de ferro, doenças como hipotiroidismo ou toma de alguns medicamentos".
O secador não é o inimigo
Em casa, é verdade que não temos necessidade de lavar tantas vezes o cabelo, recorrer ao secador ou ferramentas de styling, o que nos pode levar a pensar que estamos a poupar os nossos fios de agressões desnecessárias. No entanto, Helena Toda Brito contraria que lavar menos o cabelo seja benéfico.
"Não há problema em lavar o cabelo todos os dias se houver essa necessidade, desde que a lavagem não seja agressiva. Deve evitar a água muito quente e usar produtos adequados ao seu tipo de cabelo", explica a dermatologista. No entanto, "se a permanência em casa se traduzir numa vida mais sedentária e menor sujidade no cabelo, as lavagens podem ser mais espaçadas, desde que não comprometam a higiene do cabelo e couro cabeludo".
O mesmo acontece com o secador, com Helena Toda Brito a referir que não existe necessidade de evitar a utilização deste. "Desde que seja utilizado com os devidos cuidados, como não utilizar o secador na temperatura máxima e muito próximo do cabelo e do couro cabeludo, não há problema."