Quando pensa em desgostos amorosos, o que é que lhe vem à cabeça? Lágrimas, tristeza, quem sabe até saídas com amigos. Mas alguma vez pensou que um coração partido pudesse mudar a sua vida? É que, à MAGG, o ator brasileiro Cauã Reymond, que se estreou em 2002 na série juvenil "Malhação", garante que só depois de "tomar um pé na bunda" da, à data, namorada, é que repensou o rumo da carreira.

Há 20 anos, queria ser modelo. Agora, agradece todos os dias "pelo término" e pela "ligação telefónica em que o pai lhe disse: porque é que você não tenta ser ator?'".

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Cauã Reymond esteve recentemente de passagem por Portugal. Não apenas para provar o "peixe grelhado do dia", de que diz ser fã, mas para promover dois novos projetos, que estão prestes a chegar a Portugal: "Um Lugar ao Sol", a atual novela "das 21 horas" do Brasil e que irá ser exibida na SIC; e "Ilha de Ferro", uma série com duas temporadas (que pode ou não avançar para uma terceira, deixa a dúvida no ar), que vai ser transmitida pelo canal Globo.

Enquanto "artista inquieto", garante que já está a trabalhar em novos conteúdos (da moda ao futebol) enquanto produtor e, em entrevista, revelou tudo (o que pode) sobre o que aí vem. Mas, antes, a MAGG procurou saber como é que tudo isto começou.

Afinal, como é que passa de não pensar sequer numa carreira artística para, duas décadas depois, ser reconhecido como um dos rostos mais conhecidos (e conceituados) das novelas brasileiras, com projetos como "Cordel Encantado", "Avenida Brasil" ou "Da Cor do Pecado" no currículo?

Ator dormia "no quarto dos cachorros"

"Eu nunca quis ser ator. Na verdade, fui lutador e, quando era mais novo, pratiquei e cheguei a dar aulas de jiu jitsu. Trabalhei como modelo na Europa, em Paris e em Milão e depois acabei por me mudar para Nova Iorque. Na altura, estava com uma namorada, tomei um pé na bunda [risos] e cheguei mesmo a ligar ao meu pai a dizer que ia voltar para o Brasil, para acabar a faculdade de psicologia que tinha trancado, e foi ele que me disse: ‘porque é que você não tenta ser ator?’. Até aí, eu nunca tinha pensado nisso", começa por explicar.

"Hoje em dia, a profissão de modelo e de ator já estão mais próximas, mas naquela época não. Partiu de uma ingenuidade dele e eu fui. Procurei um curso, ganhei uma bolsa de estudos e fui um sortudo porque a professora gostou de mim. Lembro-me de que, na altura, eu disse-lhe que mesmo com a bolsa de estudos não podia continuar, porque não tinha dinheiro para sobreviver e ela disse que me arranjava um emprego em Nova Iorque. E, pronto, trabalhava meio-período e estudava meio-período", conta.

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À MAGG, o ator de 41 anos recorda as dificuldades com que se deparou para viver (e sobreviver) nos Estados Unidos. "Eu limpava o banheiro, pintava paredes, atendia telefonemas, varria o chão. Eu era um faz tudo".

"Foi um período bem difícil. Eu dormia numa cama insuflável em casa de um aluno. Trocava aulas de jiu jitsu para poder dormir no quarto dos cachorros dele. E era mesmo, ele tirou dali os cachorros para eu ficar com o quarto. Isto quando estava a lutar para ser ator", acrescenta.

Depois do 11 de setembro, em 2001, as coisas complicaram-se e viu-se obrigado a voltar para o Brasil. Altura em que, garante, não acreditava sequer na hipótese de vir a ser um ator famoso.

"A minha professora sempre disse que me iria tornar um ator muito famoso e muito rápido e eu ria, mas fui um sortudo. Passei o meu primeiro teste para a 'Malhação' e nunca mais parei", conta, com a ressalva de que quando iniciou a carreira como ator no Brasil, estava "desarmado", porque "não conseguia usar nenhuma das técnicas que tinha aprendido".

"Na altura em que estava a gravar ‘Malhação’, fiz um filme e fui muito elogiado – e na ‘Malhação’ eu não era elogiado. Diziam que eu era um ator muito verde", conta.

Recorde-se de que Cauã Reymond deu vida a Mau-Mau, na série juvenil "Malhação", criada por Andréa Maltarolli e Emanuel Jacobina, altura em que começou a ser bastante acarinhado pelo público brasileiro. Mas não só, já que a produção foi exibida internacionalmente, sob o título "New Wave", chegando mesmo a Portugal.

Cauã Reymond
Cauã Reymond enquanto Mau-Mau, na série juvenil "Malhação" créditos: Twitter

Cauã dá vida a dois irmãos gémeos numa nova produção prestes a chegar à SIC

Se, há 20 anos, considerava "Malhação" um projeto desafiante; em pleno 2022, garante que a nova novela brasileira, atualmente exibida em horário nobre no Brasil, foi o maior desafio da sua carreira.

"Essa novela que vai estrear, ‘Um Lugar Ao Sol’, foi o meu maior desafio. Por conta do volume de trabalho e até do tempo: foram quase três anos. Não começámos a gravar há três anos, mas conto com a altura em que fui convidado e recebi os capítulos. Porque depois há reuniões, leituras, ensaios e tudo isso. Só terminámos de gravar em outubro do ano passado e foi duro, foram 14 meses de filmagens, com sete meses de paragem por conta da pandemia", avança.

O projeto está prestes a chegar a Portugal, através da SIC, ainda com data de estreia por revelar, mas Cauã levanta a ponta do véu.

"A novela conta a história de dois gémeos Christian e Christofer/Renato, que crescem separados. Eu faço os dois, mas na verdade um acaba por tomar o lugar do outro, portanto faço quase um terceiro gémeo. Foi o maior desafio da minha carreira. Ser protagonista de uma novela das 21h já é um desafio gigante na carreira de um ator e fazendo gémeos ainda mais difícil é. E isto tudo no meio da pandemia pior ainda".

"Estes irmãos foram criados separadamente: um foi criado num lar rico e o outro num abrigo. O que faz com que façam coisas que levam o público a questionar a ética e moral das personagens. O irmão do meio pobre não teve as mesmas oportunidades e vai deparar-se com a dúvida: será que as conquistas materiais valeram assim tanto a pena? E são muitas as situações que se desenrolam a partir daí. Não posso revelar muito mais”, diz, entre risos.

Cauã Reymond
Cauã Reymond em "Um Lugar ao Sol" créditos: Globo

"Até contracenei com uma bola de ténis"

"Contracenei com um duplo, que no caso foi o meu irmão, Pável Reymond. E até contracenei com uma bola de ténis. Muitas vezes mesmo. E em alguns momentos usaram o corpo do meu irmão, por exemplo, com uma tecnologia nova. E aí, quando isso acontecia, eu falava com uma bola de ténis e tinha de responder a mim mesmo", conta.

"Há jeitos diferentes e não têm necessariamente a mesma energia interna. Nem se movimentam da mesma maneira: neste caso, um é muito tímido e o outro é muito extrovertido. Os dois são angustiados, mas cada um trabalha essa angústia de uma forma diferente".

"Um Lugar ao Sol", diz, foi a primeira "novela inédita" gravada durante a pandemia, com a particularidade de ter sido gravada na totalidade antes da exibição, sem que a trama fosse influenciada (ou até alterada) pela opinião do público. O que teve tanto de bom quanto de mau, confessa Cauã. "É muito diferente de tudo o resto. É uma novela das 21 horas e foi a primeira novela inédita depois da pandemia, totalmente gravada sem mexer consoante a opinião do público. Recebíamos o feedback, mas não podíamos alterar nada no rumo da história", avança.

"Por um lado, é muito bom, porque não muda o arco dramático do personagem. Você sabe exatamente qual é o começo e qual será o fim. Mas, por outro, a gente sofreu muito. Tivemos muitas dificuldades nas gravações, tanto que na última semana de novela eu estava a gravar cenas do começo e do final".

"Habituei-me a lutar pela minha privacidade"

À MAGG, Cauã conta que "Um Lugar Ao Sol" não foi influenciada pela opinião do público e que procura aplicar a mesma dinâmica na sua vida pessoal, ainda que "não tenha muitos haters".

"Você sabe que não tenho muitos haters? Devo ter um ou outro, mas só costumo ler os primeiros comentários e depois deixo. Sou muito espontâneo, publico o que me dá vontade. Quando comecei a minha carreira, havia muitos paparazzi, que me perseguiam mesmo, então habituei-me muito a lutar pela minha privacidade. Mas sempre lidei bem, se me respeitarem, eu também vou respeitar", garante.

Importa referir que, desde o início da carreira como ator, Cauã namorou sempre com figuras públicas. De 2002 a 2005 namorou com a atriz Alinne Moraes. E em abril de 2007 começou a namorar a atriz Grazi Massafera, com quem nunca casou oficialmente, porque alegava já se sentir casado, utilizando até alianças de compromisso, mesmo sem registo oficial.

Fruto da relação, em 2012, nasceu Sofia Massafera Marques, a primeira filha do casal, que acabou por terminar em outubro de 2012. Em abril de 2019, após três anos de namoro, casou-se em segredo com a Mariana Goldfarb, com a qual, até hoje, mantém uma relação.

"Acho natural a curiosidade das pessoas. Mas sabe que quanto mais velho você vai ficando, vai-se incomodando cada vez mais. A fama faz mais sentido quando você é mais jovem, porque parece que preenche algum tipo de vazio", começa por explicar à MAGG.

"Senti muito isso, principalmente quando gravei a 'Malhação', mas passou-me muito rápido. Percebi que aquilo fazia parte do carinho das pessoas, mas que tinha de manter certas coisas privadas. O pior lado da fama é a falta de privacidade, diria. Mas há coisas que, quer eu goste quer não, nunca vão mudar. Então não vale a pena me preocupar", explica.

Sofia, filha de Cauã, já participou num filme produzido pelo ator

Ainda que lute por manter a sua vida íntima privada, o ator brasileiro explica que não quer influenciar, de forma alguma, a carreira de filha, Sofia. "Ela já é uma criança exposta. Tem redes sociais controladas e com outros nomes, mas os amigos e colegas na escola já sabem que ela é filha de duas pessoas famosas. Então não gosto de pensar muito nisso e prefiro viver tudo no passo a passo".

"No Brasil, a gente está num momento muito interessante. As pessoas estão a encontrar a liberdade para ser, fazer e agir como quiserem, sempre respeitando o outro. E a minha filha está dentro desse ambiente", explica.

"Desde que não esteja fazendo mal aos outros ou atrapalhando alguém, e dentro da lei, pode fazer o que quiser, com o apoio do pai. Se ela quiser ser atriz, será apoiada. Mas se quiser ser engenheira também".

E foi neste sentido que a pequena Sofia participou no filme "A Viagem de Pedro", produzido por Cauã e gravado entre Lisboa, Açores, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A produção foi gravada em 2018, mas deve chegar a Portugal em maio de 2022. A plataforma onde será exibido ainda não é conhecida.

"Podem esperar um filme super reflexivo. Em que a gente convida o espectador a acompanhar essa viagem, desde o momento em que D. Pedro foi expulso do Brasil até que conquista o trono em Portugal", começa por revelar, ainda que com a ressalva de que não se trata de uma produção meramente histórica.

"Na verdade, a gente imaginou como tudo aconteceu, este trajeto de Brasil, Portugal [continental] e Açores. Vão encontrar um Pedro frágil, repensando a sua trajetória. E muitos amigos meus, de 50 anos e até mais, ficaram muito emocionados. Porque fala de um momento na vida de um homem em que ele revisita e fantasmas que o assombram".

"Acho que vai demorar um tempo até voltar a fazer novelas"

O ator revela que não pensa voltar a gravar novelas num futuro próximo, já que ainda está a recuperar de "Um Lugar Ao Sol". Afinal, explica, "14 meses de novela equivale quase a sete filmes".

"Acho que vai demorar um tempo até voltar a fazer novelas. A gente trabalha geralmente das 9h às 23h. Se contar com o deslocamento, são 13 horas do seu dia. Aí se quiser dormir 8 horas, sobram três horas para lavar os dentes, malhar, estar com a esposa, com a filha, por aí. É um período muito difícil e a gente fica cansado emocionalmente", justifica.

Ainda assim, garante ser "um artista inquieto" e confessa que já tem outros projetos "no forno". À MAGG, faz referência a dois novos conteúdos, que já se encontram em fase de produção. "Estou a desenvolver (e vou filmar agora) um programa sobre moda e comportamento, que eu criei do zero. Pensei no projeto, no apresentador, e tive sorte porque consegui mesmo quem eu queria", revela Cauã, ainda sem avançar qual a personalidade que vai conduzir o novo programa brasileiro, cujo nome ainda não está fechado.

"Podem esperar um programa moderno e pop, em que a gente começa a desvendar o convidado através da forma como se vestem. Não é um reality show, mas um programa de entrevistas, onde vamos ter figuras públicas e anónimos", avança o ator, com a possibilidade de o programa chegar a Portugal, "se tiver êxito" no Brasil.

Mas este não é o único projeto de Cauã prestes a ver a luz do dia e próximo tem mesmo uma história peculiar.

"Mata-Mata" é a nova série de Cauã, inspirada no mundo do futebol

O ator brasileiro revela que, em criança, não tinha qualquer interesse no mundo do futebol, mas que tudo mudou assim que se aproximou do irmão. O "bichinho do futebol" aumentou com o passar dos anos e, agora, dá origem a uma nova série de ficção, produzida pelo ator: "Mata-Mata", cujo episódio piloto está prestes a ser gravado.

"Quando o meu irmão veio morar comigo, eu tinha 25 anos e o meu irmão tinha 17. Fomos criados separados e eu queria encontrar algum assunto para poder criar uma conexão com ele. E o meu irmão sempre gostou muito de futebol. E aí comecei a desenvolver uma curiosidade através disso, que nunca acabou. É um assunto que me diverte e que me interessa. E pensei: porque é que não faço uma série sobre isso? Porque o meio tem intriga, tem sexo, tem dinheiro, tem poder. Tem tudo o que uma boa dramatologia pede".

E a verdade é que, à MAGG, o ator revela que, embora se trate de uma série de ficção, as histórias que lhe dão vida são verídicas.

"Fiquei muito próximo de um agente de futebol, que me contou várias histórias reais. Mas eu sempre falei: me conta o milagre, mas nunca o nome do santo. Não quis mesmo saber quem eram as pessoas envolvidas, só queria saber a história", conta.

"Não queria que, em algum momento, alguém dissesse que tal história era de tal pessoa. Não tenho interesse em copiar a história de ninguém, mas a verdade é que o que acontece com um muitas vezes acontece com outros".

Até à data, o ator diz não poder adiantar muito mais, mas diz que "é pouco provável" que a produção seja finalizada e emitida já este ano "acredito mais que seja no ano que vem".