Com racismo como mote da conversa, o último episódio do debate show "Scroll", que foi para o ar no passado domingo, 17 de outubro, na RTP2, revelou-se controverso. Com excertos virais nas redes sociais, os internautas não pouparam comentários aos argumentos dos convidados, mas direcionaram as críticas ao moderador Diogo Faro. "É quase dia sim, dia não. Credo", reagiu o apresentador nas redes sociais.

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Com Diogo Faro e Beatriz Tavares como moderadores, o episódio contou com Mafalda Fernandes, Pedro Ferreira Castro, Peter Castro, Júlia Lopes e ainda Mário Amaro como convidados. Apesar de, segundo Diogo Faro, "todos os convidados terem tido o mesmo tempo de antena", foi a prestação de Pedro Ferreira Castro que espoletou uma onda de reações negativas nas redes sociais.

"Convidas as pessoas para o teu programa para depois censurar parte do discurso?", escreveu um internauta. "Diogo Faro tem 35 anos e convida putos de 17 para discutir racismo com eles na televisão", lê-se na mesma rede social.

"Se alguém quiser medir o tempo de fala dos convidados, vai perceber que são muito semelhantes. Devem divergir por questões de segundos. Tenho a certeza de que, tanto neste como nos outros programas, a edição se preocupa em garantir o mesmo tempo para todos os convidados. Eu procuro fazer isso quando estou a moderar", garante à MAGG o apresentador de 34 anos.

No entanto, no cerne das críticas não está apenas o tempo de antena de cada convidado, mas a alegada falta de imparcialidade do apresentador Diogo Faro e, ainda, acusações de censura por parte de Pedro Ferreira Castro e de vários utilizadores da rede social Twitter.

"Soube antes do tempo, mas não quis acreditar que alguém fosse capaz de censurar outra pessoa por não partilhar da mesma visão. Afinal aconteceu, fui censurado, porque supostamente o que disse era fora do âmbito do programa. Acreditem que esta minha prestação foi uma amostra daquela que na realidade foi", escreveu Pedro Ferreira Castro, que se diz alvo de censura por parte do programa.

À MAGG, Diogo Faro garante não ter qualquer controlo na edição dos episódios do programa "Scroll".

"Não se chama censura, chama-se edição"

"Toda a gente sabe que todos os conteúdos são editados. Não entrou tudo o que todos os convidados disseram. Houve partes do Pedro que não apareceram como também houve partes da Júlia ou da Mafalda que não apareceram. Agora, não dá para passar uma conversa de duas horas num programa de 50 minutos", explica Diogo Faro.

"Isso da censura não faz sentido nenhum. Então em qualquer programa que não seja em direto, há censura. Não se chama censura, chama-se edição", remata o apresentador.

"Tenho pena de que a maioria não veja o episódio todo. Não queira saber o que se passou de facto e como foram tratados os convidados. Que não replique as coisas tão importantes que eles disseram em vez de só propagar a parte mais feia. Que acreditem em boatos e os multipliquem", escreveu Diogo Faro no Twitter.

Na sequência de emissão do quinto episódio do programa "Scroll", que foi para o ar no passado domingo, 17, Pedro Ferreira Castro recorreu às redes sociais para comentar a edição do debate e, ainda, a postura do apresentador e moderador Diogo Faro.

O jovem de 17 anos queixa-se de uma alegada edição que deturpa a sua postura face ao tema causa: o racismo em Portugal.

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Pedro Ferreira Castro alega que abordou temas relativos à comunicação social e ensino em Portugal e, ainda, à posição do estado Novo no racismo. No entanto, na mesma publicação, avança que os seus comentários foram censurados e lança críticas à prestação de Diogo Faro, enquanto moderador e apresentador do programa.

“[O Diogo Faro] teve uma postura miserável no sentido em que não foi um verdadeiro moderador. Não foi imparcial, queria passar a doutrina de que Portugal é sistemicamente racista e, pior, deturpar as minhas palavras", avança à MAGG.

Em entrevista, Pedro Ferreira Castro diz acreditar que Diogo Faro interferiu na edição dos conteúdos. Já o apresentador garante que "não teve mão nenhuma na escolha dos convidados, na edição ou na realização".

"Na realidade, fui para uma emboscada"

O jovem alega ainda que, para o programa ser justo, os apresentadores teriam de ser substituídos, porque não se limitavam a moderar, mas a contrargumentar.

"Tentei ter um papel moderado. Também não fiz nada para achincalhar de propósito qualquer um dos convidados. Eu só não tenho de atacar os convidados e foi visto que não o fiz, mesmo que discordasse e que todas a gente que ali estava também discordasse", diz Diogo Faro.

No entanto, Pedro Ferreira Castro avança que, à priori, já sentia que o painel estava "extremamente desigual".

"Eu não me quero vitimizar, agora considero que tínhamos um painel extremamente desigual, onde tínhamos uma pessoa contra sete. Acho que devia ter tido mais tempo para falar, para poder argumentar contra os outros sete pontos de vista."

"De certa forma, a imagem que passa, é a de que fui para uma emboscada. E, na realidade, foi isso. Fui quase para um ringue, onde achavam que por serem mais, eu saía do programa. Só que, no ringue, surpreendi. Consegui debater com toda a gente. Por mim, até podiam ter aparecido lá 15, não tinha sido dominado."

O comediante e apresentador faz questão de esclarecer que também não teve qualquer influência na escolha do painel de convidados. "Eu sou apresentador do programa. Fui selecionado em casting, tanto eu como a Beatriz, sendo que entrámos já na última fase de construção do programa. Portanto, a ideia não foi minha nem da Beatriz e os painéis já estavam fechados. Não escolhi absolutamente ninguém."

Já Pedro Ferreira Castro avança que só aceitaria regressar ao programa com a premissa de que não seriam os mesmos apresentadores a conduzir o debate. "Custou-me imenso ver o programa, só vi porque participei. Não teria paciência para ver aquela introdução super enviesada. [Os apresentadores] não foram imparciais. Foi tudo menos imparcial do princípio ao fim", remata.

O jovem de 17 anos acusa Diogo Faro de falta de imparcialidade. No entanto, à MAGG, Diogo Faro conta que "na maior parte dos assuntos, não tem de ser imparcial".

"Não vou ser imparcial no feminismo ou na identidade de género. Não sei [se fui imparcial], cada um fará o seu julgamento. Mas no racismo não sou imparcial. Sou antirracista e não, ali [no programa “Scroll”] não tenho de ser imparcial. Não sou jornalista, estou ali como moderador. Na maior parte dos temas posso ser imparcial, mas sou parcial no racismo, porque sou antirracista", explica.

Face às acusações, Diogo Faro esclarece que o "Scroll" é um programa do qual se orgulha. "Com falhas, claro. É a primeira vez que há um programa do género em Portugal", diz. "Não estamos cá para virar a cara às críticas, estamos cá para aprender", acrescenta."Há muita gente que me quer atacar por atacar, mas há muitas críticas que são fundamentadas e justas. E estamos cá para aceitar e para fazer melhor".

O mote do episódio deste domingo, 17, foi o racismo em Portugal, mas o programa "Scroll" conta com temáticas diferentes todos os domingos, às 18h35, na RTP2.