A artista Xana Abreu, de 45 anos, foi a convidada do programa "Alta Definição" deste sábado, 27 de fevereiro. Durante a entrevista com Daniel Oliveira, a artista, também conhecida como Xana Toc Toc (projeto musical dedicado ao público infantojuvenil), falou sobre os períodos mais conturbados da sua vida, desde a infância, em que sofreu agressões físicas da mãe, à vida adulta, quando lhe foi diagnosticado um cancro.

"Foi-me diagnosticado um cancro numa fase em que a minha mãe também estava doente, com cancro", e também na mesma altura em que o primeiro DVD Xana Toc Toc alcançou o primeiro lugar do top de vendas.

"Estava a cuidar da minha mãe, que estava de cama e com um cancro bastante violento, e comecei a sentir uma dor na mama. E com o caso da minha mãe e da minha família ficava um bocadinho preocupada", conta. Contudo, diziam-lhe, incluindo médicos, que a dor não significava que era cancro e Xana Abreu acabou por ignorar o sintoma. Até que decidiu verificar o que realmente se passava e descobriu-o da pior forma.

"Um médico disse: 'Isto é assim, menina. O seu cancro está a evoluir monstruosamente dia após dia. E para a semana se calhar já não está cá, mas vai ficar numa lista de espera de mês e meio para ser operada'", conta Xana, que considera que por vezes os médicos não têm consciência do peso das palavras, particularmente em momentos frágeis como aquele.

"Como estava sem dinheiro na altura, porque tinha acabado de investir tudo num projeto sem retorno financeiro, eu tinha acabado com o meu seguro de saúde", diz, acrescentando que saiu do hospital em pânico a pensar que tinha chegado a "sua hora". Ainda assim, decidiu recorrer ao privado e uma médica, que ainda hoje a acompanha, foi a sua salvação: passou exames e marcou a operação, mesmo sabendo que Xana poderia não ter como pagar. No entanto, foi a própria médica que tentou ajudar a resolver o problema financeiro e foi com Xana Abreu pedir dinheiro emprestado a familiares para fazer o tratamento — um gesto que não esquece.

A par da recuperação que exigia que se afastasse algum tempo, Xana Abreu preocupava-se com a mãe doente que, perante o afastamento de Xana, achava que esta já não se importava. Sem saber se contaria ou não, a artista acabou por não ter coragem e não revelou à mãe que tinha cancro. "A minha mãe continuou a afirmar que eu já não queria [saber dela]. Ela sentia um abandono da minha parte", conta a artista. A mãe acabou por piorar e morreu sem saber da condição da filha. "Ainda hoje sinto essa culpa", revela Xana Abreu.

Xana Abreu não foi sempre Toc Toc. "Acho que já nasci a desenhar, a pintar e a ilustrar"
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No meio de tudo o que estava a acontecer, seguiu-se o lançamento do primeiro disco da Xana Toc Toc nas lojas, precisamente no mesmo dia em que Xana Abreu foi operada, impedindo-a de desfrutar desse momento e dos que se seguiriam. "A minha editora dizia-me: 'Xana, estás há 40 semanas no número um do top de vendas nacional'. Sabes o que é que isso significava para mim? Nada", diz Daniel Oliveira.

Seguidamente à operação, Xana foi submetida a sessões de quimioterapia, que não conseguiu cumprir como recomendado. "Não consegui ter todas as quimioterapias que me foram receitadas porque o meu corpo não estava a aguentar", conta. "Eu estava-me a ir. Não da doença, mas pela cura", acrescenta.

"Eu não sei o que é o silêncio há oito anos. Estou a falar contigo e sinto zumbidos nos ouvidos"

Apesar do período difícil, quando já estava a conseguir recuperar, a editora perguntou se teria força para começar os concertos nos coliseus. Xana Abreu aceitou o desafio, mas reconhece que estava "super frágil". O primeiro, no Porto, foi para si o mais especial que deu na vida. "Foi o primeiro, nervosa, com uma peruca. Nem as pessoas da minha equipa sabiam que eu estava careca, que estava fragilizada, que tinha tido um cancro. Não sabiam, escondi a toda a gente. Porque a Xana Toc Toc era uma menina saudável", diz.

Quando começou o concerto e ouviu toda a gente a chamar por si, admite que começou a chorar e não parou durante todo o concerto. Depois dos momentos áureos, de ter ganhado força, e de estar já a planear um novo DVD, tudo voltou a desmoronar quando a médica diz que Xana Abreu tinha de ser submetida a uma nova operação. "Eu estava a ser operada e o segundo disco estava a ir para as lojas", conta.

Novamente em fase de recuperação, Xana Abreu chegou a receber um documento a indicar que tinha 70% de invalidez, devido à profundidade do cancro, mas a artista guardou a folha e foi trabalhar. "Eu queria apagar aquilo", afirma. Apesar a recuperação ter evoluído, revela que ficaram algumas mazelas devido à quimioterapia. "Eu não sei o que é o silêncio há oito anos. Estou a falar contigo e sinto zumbidos nos ouvidos".  

O projeto Xana Toc Toc começou há dez anos e há cerca de três que Xana Abreu afastou-se progressivamente do projeto e dos concertos, por considerar já não ter saúde, revela a Daniel Oliveira. Passou então a dedicar-se às artes plásticas e pintura e atualmente expõe as suas obras nacional e internacionalmente e produz vários trabalhos individuais no âmbito da série "Na Tua Pele".