Yolanda Tati sempre quis ser mãe. Esperou pela altura certa e, seis meses depois, engravidou. Leonardo nasceu a 26 de agosto de 2021, fruto da relação com Marco Turco. Agora, a influenciadora é um dos rostos da campanha da Chicco #MãeEMuitoMais — e conta que é "tudo o que quiser", com a ressalva de que, por vezes, é tudo o que não queria ser.

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É mãe, é engenheira, é animadora de rádio e criadora de conteúdos. No entanto, em pleno 2022, ainda é alvo de comentários como "o teu filho vai ficar da tua cor? Vai continuar a escurecer? Como é que é? Vai ficar branco?".

Em entrevista à MAGG, a animadora da Cidade FM explica que é "mãe e muito mais" e que, dentro da infinitude que esse "mais" comporta, é também ativista e feminista negra. O que é que o ativismo tem que ver com a maternidade? Tudo. Principalmente quando está em causa o testemunho de uma mulher negra, que cresceu, vive e sempre viveu num mundo pautado pelo racismo.

"Identifico-me também como feminista negra. Porque falar do direito da mulher é falar do direito de todas", começou por explicar.

"Sempre tive muito receio de ser mãe adolescente, para começar. Acho que qualquer afrodescendente ou qualquer mulher negra vive muito sob este paradigma do subúrbio e da gravidez precoce. Portanto, quase que, para nós, chegar aos 18 anos sem ser mãe é uma vitória perante a sociedade, que espera algo de nós", disse.

Leonardo é fruto da relação da influenciadora e Marco Turco. A notícia da gravidez surgiu (praticamente) dentro do período desejado pelos pais, seis meses depois de terem começado a tentar. “Foi muito planeado. Só não foi super planeado, porque foi depois. Demorou um bocadinho mais. Começámos a tentar, pensávamos que conseguiríamos assim em dois meses e demorou seis meses. Ou seja, o que saiu fora dos planos foi apenas isso”. O bebé nasceu a 26 de agosto de 2021, quando Yolanda Tati tinha 30 anos. No entanto, uma semana antes do parto, a influenciadora deu entrada no hospital com uma pré-eclâmpsia.

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"Eu tive uma doença – que é a doença que mais mata no parto, a pré-eclâmpsia. Verificou-se no meu quadro clínico na gravidez, estive internada uma semana antes de ser mãe e isso deu-me uma força incrível. Era um dos receios que tinha, o de que houvesse alguma complicação, mas, de facto, superou-se com a determinação, otimismo e positivismo que me caracteriza", contou.

"Os últimos dias têm sido uma autêntica provação, em que, de tantos cenários que contemplei, vejo surgir o único que nunca tive cima da mesa: o de me faltar a mim o corpo e as forças", desabafou, à data, através de uma publicação no Instagram.

"Nunca vou mostrar o Leonardo com ranho, sujo ou babado"

Yolanda Tati admite que se tratou de um susto porque, uma semana depois, Leonardo já estava cá fora, saudável e em segurança. O bebé nasceu a 26 de agosto e, um dia depois, a 27, a influenciadora publicou a primeira fotografia com o filho nos braços.

"Hello world!!! [Olá mundo]. Isso aqui ‘tá assim?? Finalmente, cheguei! Foi nesta quinta-feira, 26/8, em que completei 38 semanas exatas, às 12:51, que vim ao mundo, saudável, com 3,076Kg - um bocadinho antes do suposto, mas tive de vir salvar a mamã daquela pré-eclampsia grave e consegui", escreveu Yolanda Tati, na descrição da imagem.

Foi assim que o pequeno Leonardo foi apresentado aos cerca de 81 mil seguidores da influenciadora. Desde então, é presença assídua na página de Instagram da mãe, mas Yolanda Tati deixa claro que mostra "10% daquilo que é a sua casa" e a sua rotina.

"Prezamos muito a nossa privacidade e com o Leonardo é igual. As pessoas acham que o Leonardo é um bebé super divertido e super sorridente – e é –, mas porque aqui a mãe nunca se deu sequer a permissão de filmar o filho em birra. Isso é uma regra que tenho na minha política. Nunca vou mostrar, porque também não gosto de que me filmem a chorar, ninguém gosta. Nunca vou mostrar o Leonardo com ranho, sujo ou babado. Ou seja, há uma curadoria para dizer ‘ok, isto é o que o mundo vê’", acrescentou, em entrevista à MAGG, na sexta-feira, 6 de maio.

Yolanda admite que, como consequência da exposição pública, tende a receber bitaites e comentários sobre a forma como educa o filho, mas garante que pouco ou nada faz mossa. "Tenho um filtro muito grande. Faço muito a minha cena. Nisso, realmente, não penetra muito, não me afeta, porque eu trabalho com redes sociais. O Instagram, para mim, não é um lugar de lazer. Para me divertir ouço música, estou com o meu filho, vou comprar uns vinis, faço bricolage, faço jardinagem. Enfim. O Instagram é uma ferramenta, onde, à partida, já vou com muitas balizas e certas fronteiras. Portanto, quanto ao meu filho e à maternidade, que é uma coisa tão importante para mim, não posso deixar que esteja em jogo nas redes sociais", frisou.

"O teu filho vai ficar da tua cor? Vai continuar a escurecer?"

Ainda assim, há comentários que marcam. Principalmente quando é a cor de pele do bebé que está em escrutínio. Yolanda Tati explica que nunca conseguiu dissociar a questão do racismo da temática da maternidade. "Penso nisso todos os dias. Penso e tento não pensar, mas é quase indissociável, porque é a minha própria experiência. Acredito que educar é dos maiores desafios que alguém pode ter em mãos, mas educar sem que a educação seja afetada pelos nossos traumas, isso então, é uma prova de fogo autêntica", começou por explicar.

"Procuro que o meu filho não viva sob a sombra daqueles que foram os meus traumas, as minhas piores experiências e a discriminação, neste caso, mas inevitavelmente é algo para que eu o quero educar. Mesmo para que não esteja no lado abusador. Quero educá-lo para que seja feminista, consciente, sensato e para que lute sempre pela igualdade, em todos os contextos da vida dele", acrescentou.

A estrela da Cidade FM admite que tende a "evitar o conflito", mas confessa que há comentários que, para além de não serem "bonitos", têm por base um "não-tema": a cor da pele.

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"Pode não parecer negativo à primeira e eu não achei que fosse e, na altura, nem me manifestei. (...) Já me perguntaram o quão escuro ia ficar o meu filho, se ia escurecer muito mais: 'o teu filho vai ficar da tua cor? Vai continuar a escurecer? Como é que é? Vai ficar branco?'", conta.

"Para já, é um não-tema. Pensar que alguém não só pensa nisso, mas verbaliza esse tipo de questões, para mim, é um alarme. É uma red flag [bandeira vermelha, em português]. Porque isso não dita nada sobre o meu filho. Mas também compreendo que seja uma curiosidade, que advém muito da falta de educação nas escolas, falta de educação biológica, falta de consciência e de algum bom senso. No sentido de perceber que é uma pergunta bastante indelicada", remata.

O interesse pelo tom de pele do filho incomoda e, segundo explica, dependendo da forma como entra em conversa, pode até levantar um outro problema: o da fetichização.

"Por outro lado, também há as pessoas que dizem 'ah, os bebés mestiços ou mulatos são os mais bonitos' – isso é uma espécie de fetichização. Também não é uma questão bonita de se levantar ou um comentário bonito de se fazer", avançou.

"Eu fui uma bebé negra. E, pensando de outra forma, pelo contrário, o que é que seria se tivesse tido um filho com alguém negro como eu? Será que isso seria mau? Porque é que ter um bebé mestiço é algo tão 'uau' e 'são os mais lindos e tão fofinhos'? Tenho muito receio de que isso afete a perspetiva do mundo que o Leonardo terá, sob a lente do seu tom de pele. Que é precisamente aquilo que nós queremos desmistificar ou, pelo menos, banalizar. Não devia ser um tópico", frisou.

No que depender de Yolanda Tati, segundo conta, o facto de ser "mãe e muito mais", como avança o mote da campanha da Chicco, é também sinónimo de ter ferramentar para difundir o seu "ativismo ninja" — e a rádio em que trabalha, a Cidade FM, é uma delas.

"Mesmo antes da gravidez, o meu papel sempre foi esse: o da consciencialização através daquilo a que chamo o meu ativismo ninja. Portanto, mais do que nunca, é passar uma mensagem, numa linguagem desconstruída e descontraída. O meu grande papel na comunicação também é esse: criar pontes, lutar pela igualdade, pela inclusão e pela diversidade, com uma voz acessível e com uma mensagem, digamos, descomplicada".

No entanto, isto também é possível, porque, segundo conta, a sua carreira enquanto locutora nunca esteve em cheque pelo facto de querer ser mãe. Trata-se de uma rádio jovem, é certo, mas garante que tudo se resume à forma como transmite "a sua mensagem".

"Não sou a primeira mãe na Cidade FM. Existe a Laura, que também é mãe. E uma coisa é verdade: amadureci a minha mensagem, isso sinto. Importa-me falar de outras coisas também, sinto que é um marco desta fase. Realmente é uma questão de adaptação e o meu desafio enquanto comunicadora também é esse: adequar a minha mensagem ao meu nicho e a cada uma das pessoas com quem chego a interagir no meu dia a dia", explicou ainda.

"A mulher quando se torna mãe leva um descrédito habitual"

Para Yolanda Tati, "a maternidade nunca foi sinónimo de parar nada".  "Sempre foi algo que iria acrescentar àquilo que eu já era. E não me iria desfazer de nada e de nenhuma daquelas premissas que compreendem o meu ser e a minha essência para passar a ser mãe", avançou.

"O patriarcado continua a reger muitas das nossas premissas sociais. Muitas das nossas normas centram-se na figura masculina como figura dirigente, mais competente e mais capaz e isso acaba por deixar a mulher, por si só, já de parte. E é por isso que a mulher, quando se torna mãe, leva um descrédito habitual, partindo do princípio de que não conseguirá assumir outros papéis. Quando o consegue fazer tão ou melhor do que fazia previamente", frisa.

"Muitas vezes somos nós que, na nossa cabeça, não temos a amplitude bem configurada de tudo aquilo que podemos alcançar" — e é precisamente essa premissa que a influenciadora luta por mudar no seu dia a dia e, também, através da campanha #MãeEMuitoMais, da Chicco, de que é embaixadora.

Trata-se de uma campanha da marca, que desafia todas as mulheres a "abraçar a totalidade infinita do que é ser mulher". Isto, porque, segundo se lê no comunicado oficial, os "objetivos profissionais e pessoais de uma mulher não são e não devem ser incompatíveis com uma possível escolha pela maternidade. Nem a maternidade deve ser uma imposição".

À margem do título de embaixadora da campanha, Yolanda Tati protagonizou também um vídeo sobre a temática da maternidade, que está disponível no Youtube, ao lado de conteúdos com Filipa Gomes ou Márcia d'Orey.