Esta segunda-feira, 17 de abril, foi marcada pela morte de um dos bebés gémeos de Cristiano Ronaldo e de Georgina Rodríguez, que terá acontecido no momento do parto. Perante a notícia, a MAGG decidiu falar com dois ginecologistas e uma enfermeira que fazem partos todos os dias. São especialistas que sabem indicar quais os principais riscos associados a uma gravidez gemelar, bem como as causas de morte de gémeos.
"A gravidez de gémeos é sempre de risco". Fernando Cirurgião, ginecologista e obstetra no Hospital Lusíadas Amadora e diretor do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital São Francisco Xavier explica à MAGG que uma mulher, quando está grávida de gémeos, já sabe que terá sempre uma gravidez de risco que tem de ser vigiada constantemente para reduzir a probabilidade de problemas como a mortalidade de um dos fetos.
Quais os principais riscos numa gravidez gemelar?
Sílvia Roque, ginecologista e obstetra no Hospital Lusíadas Lisboa, garante que na gravidez gemelar há sempre mais riscos, porque são dois fetos e também depende dos próprios tipos de gravidez: "há só com uma placenta e um saco amniótico (gravidez monocoriónica-monoamniótica), dois sacos amnióticos e uma placenta, (monocoriónica-biamniótica) e, por fim, há o caso de dois sacos amnióticos e duas placentas (bicoriónica-biamniótica)".
O primeiro tipo, gravidez monocoriónica-monoamniótica, significa uma gravidez de "altíssimo risco, em que os bebés têm de nascer por volta das 32 semanas, porque podem entrelaçar-se nos cordões", esclarece a especialista acrescentado que neste caso a vigilância médica tem de ser feita de duas em duas semanas.
O segundo caso, gravidez monocoriónica-biamniótica, costuma ocorrer quando nascem os ditos "gémeos verdadeiros". O terceiro tipo, bicoriónica-biamniótica, é o mais frequente e acarreta menor risco. É neste último que há menos complicações e os gémeos têm sexos diferentes, como era o caso dos bebés gémeos de Cristiano Ronaldo e Georgina Rodríguez.
Embora o terceiro caso seja o mais seguro, continua a haver risco. Por exemplo, o síndrome de transfusão feto-fetal (STFF) ocorre quando as placentas dos bebés formam ligações. "Um dos bebés pode alimentar-se menos e morrer. Pode ainda haver o descolamento da placenta de um dos fetos e um dos bebés também pode ter malformações genéticas", conta Sílvia Roque.
Fernando Cirurgião explica que o crescimento dos gémeos vai sempre sendo monitorizado e quando as placentas se começam a juntar e a criar grandes assimetrias nos pesos calculados dos bebés, "aí pode haver a necessidade de induzir o nascimento prematuro ou então fazer uma cirurgia com um laser entre elas, de forma a quebrar essas ligações, equilibrando o que cada um recebe".
Contudo, "quando os gémeos têm cada um o seu espaço (duas placentas e dois sacos amnióticos) o risco de prematuridade é menor", adianta o especialista. As mulheres geralmente descobrem o tipo de gravidez que têm na primeira ecografia, por volta das 8 semanas de gestação. E tudo vai sendo calculado para evitar complicações no parto.
"É importante, por exemplo, vestirmos o bebé e fazer-se uma cerimónia fúnebre"
O tamanho dos bebés e a prematuridade nos gémeos (antes das habituais 37 ou 38 semanas) são indicados por ambos os ginecologistas e obstetras como possíveis fatores de problemas na gravidez múltipla, bem como as patologias maternas, que podem ser prévias ou desenvolvidas enquanto os fetos estão a crescer. A hipertensão, a diabetes gestacional, as alterações das análises no fígado são algumas doenças que podem complicar o nascimento dos bebés, se não forem controladas.
Carmen Ferreira é enfermeira parteira e explica que a probabilidade de algo correr mal depende de caso para caso, sendo que as doenças de risco aumentam essa hipótese. É por essa razão que se faz uma vigilância obstétrica durante a gravidez e no trabalho de parto, que permite criar segurança no seguimento deste tipo de gravidez: "Nós conseguimos controlar o risco no começo e durante a gravidez, através dos exames pré-natais. Há até um exame na ecografia para nós percebermos se há aumento do nível da hipertensão arterial (pré-eclâmpsia), por isso estamos sempre um passo à frente".
Aliado à vigilância constante da gravidez está o estilo de vida saudável, também destacado pela enfermeira como forma de evitar problemas. Contudo, a especialista esclarece que durante o parto pode haver "situações não tão controláveis no pré-natal" e aí o que se faz é seguir as indicações da Organização Mundial de Saúde (OMS). "A gravidez de gémeos tem sempre mais risco por serem dois bebés", afirma a especialista tranquilizando, no entanto, que nenhum bebé morrer é o mais comum de acontecer.
Carmen Ferreira também sublinha o tamanho do bebé como possível causa de complicações no nascimento. "Com as contrações no parto pode haver alguma suspeita de sofrimento fetal ou até após o nascimento, na adaptação à vida extra-uterina, pode dar-se alguma patologia fetal", explica.
No caso de morte de um dos bebés "é preciso trabalhar o luto com os pais ainda na sala de partos", garante a enfermeira, acrescentado que são aplicadas estratégias pela equipa de saúde responsável: "é importante, por exemplo, vestirmos o bebé e fazer-se uma cerimónia fúnebre. Estes rituais ajudam no luto e vai ser importante para gerir os sentimentos no pós parto. A mãe tem ainda de ter apoio psicológico, porque hormonalmente está mais predisposta a ter uma depressão pós-parto".