Comer não é só uma questão de matar a fome. A decisão sobre o que colocar no prato à hora da refeição tem implicações a vários níveis — económicas, ambientais e éticas. Navegar pelos diferentes rótulos de omnívorismo, pescetarianismo, vegetarianismo e veganismo pode ser assustador (e redutor) mas o ponto chave é manter uma dieta saudável e saber que aquilo que ingerimos é produzido de uma forma segura e sustentável. 

Os desafios mundiais sem precedentes causados pela pandemia do COVID-19 causaram uma crise de saúde global aliada a uma crise económica já existente, que coloca em perspectiva a vulnerabilidade dos nossos sistemas alimentares. Este contexto permite-nos reflectir sobre as nossas necessidades mais básicas e os tempos de incerteza ajudam-nos a apreciar uma coisa que tomamos como garantida e a que muitos não têm acesso: a comida.

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Shop créditos: Pixabay

Em Portugal cerca de 910 toneladas de alimentos são perdidos diariamente na fase da produção mas apesar disso, segundo dados da Direção-Geral de Saúde, 50,7% das famílias portuguesas sofrem de algum grau de instabilidade alimentar. Por este motivo é crucial aproximar os produtores nacionais dos consumidores e incentivar a um consumo responsável.

Neste Dia Mundial da Alimentação, devemos não só celebrar a comida — que é um pilar da nossa cultura e das nossas comunidades — mas também aproveitar a data para adoptar hábitos alimentares saudáveis baseados em escolhas sustentáveis. A MAGG dá-lhe algumas dicas de como pode continuar a comer carne e peixe de uma forma sustentável e evitar o desperdício alimentar em sua casa.

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Peixe

Para a Associação Natureza Portugal (ANP), é imperativo mudar a forma como produzimos e consumimos todo o tipo de alimentos, mas quando se fala em peixe, a sobrepesca é a grande ameaça aos nossos oceanos. Para combatê-la não tem que abrir mão de comer peixe, mas sim garantir que apoia o pescado sustentável, que é capturado de forma a ter menor impacto sobre os recursos marinhos e sobre as pessoas que destes dependem.

Peixe
Peixe créditos: Pixabay

Algumas opções sustentáveis para continuar a comer peixe são:

  • Compre as espécies de peixe certas - escolha peixe da nossa costa cujo nível de stock no mar seja saudável e evite optar por espécies ameaçadas em que ajuda a contribuir para a sua possível extinção;
  • Compre localmente - encontre uma peixaria local, pois é a melhor fonte de informação de como e onde o peixe foi apanhado, onde lhe pode oferecer uma maior variedade e recomendar que diferentes espécies experimentar. Ao mesmo tempo estimula a economia local e ajuda pequenos negócios;
  • Opte por variar - ao comprar uma maior variedade de peixe ajuda a manter os níveis de stock de peixe nos oceanos, a proteger espécies em risco e a manter o equilíbrio marítimo;
  • Compre peixes de maior porte - opte por peixes de maiores proporções e não coma peixe bebé, ou seja, um peixe que não é ainda adulto e que não terá tido tempo para se reproduzir;
  • Compre produtos frescos - ao comprar peixe fresco a pegada de carbono é menor, a utilização de plástico para embalamento não é utilizado e normalmente é mais barato;
  • Confira os rótulos - procure informação de pescado certificado que indica que o peixe tem certificados responsáveis e que provém de uma pesca ou aquicultura sustentável e biológica.

Carne

As formas de produção agrícola variam no seu grau de intensificação, e a produção intensiva tem consequências não só para o ambiente, apresentando caracteristicamente maiores impactos na biodiversidade, solo, água, e clima, como também na saúde humana e na qualidade dos produtos. "Por exemplo, os alimentos produzidos desta forma terão necessariamente maiores níveis de agroquímicos, antibióticos e outros químicos em geral, presentes na sua composição que permanecem até ao momento do seu consumo. Por oposição, a produção extensiva está associada a menores impactos na saúde e no planeta, o que se traduz também em produtos de melhor qualidade", explica à MAGG Tiago Luís, especialista em Alimentação na ANP|WWF.

Carne
Carne créditos: Pixabay

Oito maneiras de tornar o seu hábito de comer carne mais ético e sustentável:

  • Reduzir as porções - ao reduzir as quantidades que come evita o sobre-consumo de carne e permite que os recursos animais sejam divididos e partilhados por todos de uma forma mais eficaz;
  • Escolher produtores de menor escala  - produtores menores têm por norma condições que permitem que os animais vivam permanentemente no campo (em regime extensivo e criados em modo de produção integrada ou biológica), promovem a sua boa saúde e qualidade de vida e onde lhes oferecem uma dieta natural;
  • Evitar a carne processada - reduza, ou se possível evite, a compra de carne processada como o bacon;
  • Comer mais carne picada - ao picar a carne aproveita-se mais do animal e este tipo de carne é mais barato do que qualquer outro corte;
  • Pensar em sabor - em vez de comer carne só para o encher, pense em variar as receitas e optar por novos sabores (como especiarias e molhos) para conseguir tirar o máximo proveito da sua refeição;
  • Reduzir o desperdício alimentar - garanta que aproveita todos os elementos comestíveis do animal e que só compra as quantidades de que necessita;
  • Optar por produtos com menor uso de antibióticos - uma boa maneira de evitar comprar produto animal que foi sujeita ao uso de antibióticos é evitar comprar animais provenientes de uma produção intensiva. Animais que vivem em condições naturais são mais saudáveis e requerem menos uso de medicamentos;
  • Compre carne certificada -  a certificação por parte de entidades independentes garante que há um cumprimento estrito de regras ao nível do respeito pelo meio ambiente e pelo bem-estar animal tendo como objectivo último o consumo de carne de qualidade com total segurança alimentar;
  • Ler os rótulos - analise os ingredientes e evite opções que incluam aditivos e preservativos menos benéficos para a saúde como o caso de açúcares e proteína de soja. É importante educar-se em aditivos alimentares para entender quais deverão ser aqueles a evitar.
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Os responsáveis contactados pela MAGG lembram ainda que o consumidor tem um papel determinante na definição dos sistemas alimentares: uma maior procura de alimentos mais sustentáveis obriga a um aumento da adopção de modos de produção de alimentos que respeitem os limites do planeta e da saúde humana.