Em Portugal, o dia a dia é vivido com os fones nos ouvidos, telemóvel na mão, e com bons dias às vezes tirados a custo numa ida ao café. Em São Tomé e Príncipe, país insular em África, não há essas correias, há sim uma vida feita ao ritmo "leve leve" que deu nome a um projeto solidário e guloso. Como é que as duas coisas se juntam? Em bolos de chocolate e café Leve Leve, em que parte dos lucros vão para o povo do Ilhéu das Rolas.
O nome pode ser-lhe familiar pelo facto de antigamente aqui funcionar o famoso Pestana Equador, que acabou por não resistir à pandemia e a comunidade está a sofrer com as consequências.
"O Ilhéu das Rolas é um ilhéu pequenino em São Tomé que nos tocou particularmente. Tinha lá o hotel Pestana, que fechou depois da pandemia, e era quem gerava água e tudo mais para o ilhéu. Eles agora ficaram completamente isolados e sem esses recursos básicos e houve muita desistência escolar e alguns problemas", explica à MAGG Joana Raimundo, de 26 anos.
A ligação a São Tomé e Príncipe começou quando o pai de Joana viajou para lá em lua de mel em 2020 e fortaleceu-se quando em setembro do ano seguinte pai e filha voltaram ao país, já em missão: levaram materiais escolares novos para os alunos do ilhéu. Depois disso, decidiram criar algo com ainda maior impacto.
"A ideia geral foi fazer alguma coisa para ajudar lá, principalmente na parte da educação, que é uma das lacunas. E nesse sentido queríamos criar realmente alguma coisa que ajudasse o país. Então, como estamos ligados à área da restauração, decidimos criar o bolo e agregámos posteriormente, com parte dos lucros do bolo, uma missão solidária", explica Joana, à frente do projeto solidário Leve Leve.
Mas afinal, o que significa 'leve leve'? "Em São Tomé quando perguntamos 'está tudo bem?', eles dizem sempre 'leve leve', que é tipo o ritmo deles, muito tranquilo, e é uma expressão muito característica que ficou-nos. E fez todo o sentido ser o nome do projeto", refere Joana Raimundo.
Deixe-se levar pelos bolos com chocolate de São Tomé e Príncipe
O projeto Leve Leve surgiu durante a pandemia e numa altura em que o outro projeto com dedo de Joana Raimundo, o The Fifties, em Lisboa, esteve fechado, dado que optaram por não realizar take away. Com mais tempo e envolvida no que estava a acontecer no ilhéu, Joana decidiu então criar os bolos Leve Leve, que além de ajudarem a comunidade, têm a essência do povo de São Tomé.
"Eles levam essencialmente cacau e café e neste momento já estamos a importar em fruto, a torrar o cacau e a produzir o chocolate mesmo cá", explica Joana.
O bolo é feito em quatro camadas, uma primeira de pão de ló de amêndoas e cacau, outra de mousse de cacau 70% de São Tomé, depois um crocante de café e no topo "o que simboliza a terra do 'leve leve', que é uma massa crocante, húmida, que fica em género de terra e é também de cacau", descreve a responsável.
Existe um bolo mais pequeno que rende seis fatias (30€), um grande equivalente a 12 fatias (50€) e há ainda bolos Leve Leve em versão de pote que vêm com um scrunchie (elástico de tecido) da designer são-tomense Rroselyn Silva (conjunto de seis potes por 40€).
Estão ainda a ser planeadas novidades para a Páscoa, à partida um ovo com as mesmas quatro camadas do bolo e que será lançado em breve.
As receitas geradas a partir da venda dos ovos da Páscoa poderão ser convertidas já para a próxima missão do projeto Leve Leve, que vai decorrer no final de abril. "Vamos dar uma formação aos professores e auxiliares [das escolas] sobre primeiros socorros, porque o ilhéu não tem um hospital e se alguma criança se magoa, eles têm que deslocar-se de barco para ir para a ilha principal", explica Joana, que leva consigo uma enfermeira.
Para encomendar os bolos ou potes Leve Leve, basta enviar mensagem privada através do Instagram e esperar que lhe seja entregue o bolo que faz magia na boca, ao mesmo tempo que causa sorrisos nos rostos dos habitantes do Ilhéu das Rolas.