O que é possível quando os pais ouvem os filhos? A resposta é dada por Gonçalo Castel-Branco, fundador e curador executivo do projeto The Presidential: uma experiência única e que todos os que tiveram (ou ainda vão ter) o privilégio de a viver vão recordar durante décadas.
Mas voltemos a 2016, ano que marca o início desta "resposta", quando Gonçalo Castel-Branco visitou o Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento, e aí encontrou o Comboio Presidencial, uma autêntica joia da coroa do património ferroviário português, construído em 1890.
Outrora apelidado de Comboio Real, ganhou a designação de Comboio Presidencial no início do século XX, e transportou reis, papas e inúmeros chefes de estado portugueses e não só — incluindo o Papa Paulo VI e a rainha Isabel II. Retirado de circulação no início da década de 70, o comboio transportou o corpo de António Salazar de Lisboa até Santa Comba Dão, naquela que foi a sua última viagem oficial.
Desde essa altura — tendo sofrido uma renovação em 2010 que manteve todas as carruagens com os materiais originais, à exceção de estofos, por exemplo, embora tenham sido usados tecidos iguais aos anteriores —que o Comboio Presidencial ficou parado no museu do Entroncamento, até à visita de Gonçalo Castel-Branco.
"Fiquei apaixonado pelo comboio e logo com a ideia de que tinha de conseguir fazer algo. Depois de visitar o museu, estava a jantar com a minha família, a contar-lhes o que tinha visto e que ideia podia nascer, quando a minha filha de 10 anos, na altura, a comer, disse: 'porque é que não fazemos um restaurante?", contou-nos o curador executivo do The Presidential no fim de semana inaugural da edição de despedida desta experiência. "Não se fala de boca cheia e é uma ótima ideia", respondeu Gonçalo à filha Inês — hoje com 18 anos e inserida na equipa deste projeto — em 2016.
E foi assim que nasceu esta experiência única e premiada, já que o The Presidential — Gourmet Train Experience venceu o prémio internacional de Melhor Evento Público do Mundo em 2017 pelos BEA Awards, foi finalista dos World Restaurant Awards na categoria de melhor evento do ano de 2018, foi incluído na lista da Forbes dos 10 melhores comboios de luxo do mundo, e ainda na "bucket list" da "GQ" e considerado uma "experiência imperdível".
Comboio histórico e comida de chef. A receita para uma experiência inesquecível
Bom, podemos começar pelo meio de transporte, algo único, até porque a edição de 2022 marca o final desta experiência. Afinal, quem não quer comer e beber em carruagens recheadas de história? E a questão é que não estamos a falar de uma comida qualquer.
Não é à toa que o The Presidential usa a palavra Gourmet na sua definição. Na edição deste ano, as 16 viagens no Douro são acompanhadas de um almoço a quatro mãos, com dois chefs a idealizarem o menu a cada fim de semana. Entre nomes como Marlene Vieira e Michele Marques, Hugo Candeias e Pedro Pena Bastos, e José Avillez e Vasco Coelho Santos, entre outros, a MAGG teve a oportunidade de seguir viagem no domingo inaugural, liderado pelos chefs Rui Silvestre e Henrique Sá Pessoa.
E o imperdível começa logo no embarque na estação de São Bento, no Porto, assim que entramos no compartimento que nos é destinado. As cabines dividem-se entre espaços com seis, três ou dois lugares, onde todos os passageiros são distribuídos nesta viagem até à Quinta do Vesúvio, ainda antes de sentados nas carruagens restaurante para o almoço propriamente dito — que se dividem nas capacidades de 32, 20 e 16 lugares.
Calhou-nos na rifa uma cabine de dois lugares, o local onde viajavam os ministros nas viagens oficiais do comboio, tal como nos explica Gonçalo Castel-Branco. É aqui que somos brindados com o primeiro vinho do dia, no caso um espumante Niepoort Olo 2016, o complemento perfeito para um início marcado pelas propostas porco piri piri, sashimi da peixe galo e sapateira e bloody oyster. Sim, estamos a beber espumante e a comer ostras num comboio. CP, não esperamos menos na próxima viagem de Alfa.
Depois de encaminhados para a nossa mesa, começamos os pratos mais compostos do menu degustação, e continuamos caminho com o choco, batata e coentros (harmonizado com um Niepoort Conciso 2019), e um atum rabilho com couve-flor e wasabi (com um Niepoort Dócil Loureiro 2021).
Já estávamos naquele nível de achar estes pratos as coisas mais deliciosas que já tínhamos provado (e com uma queda para considerar o choco o preferido), quando chegou à mesa o salmonete com ervilhas, chouriço e tomate, uma proposta de Henrique Sá Pessoa que nos fez ir ao céu dos salmonetes e voltar.
A delicadeza do peixe, o contraste com o sabor do chouriço e a leveza da ervilha não só deu a este prato do chef do Alma o prémio de melhor proposta desta viagem gastronómica, como estamos quase a fazer uma abaixo-assinado para ter entrada direta num dos seus restaurantes. Ah, e acompanhado em beleza com o Niepoort VV Vinhas Velhas 2018.
O almoço, no que diz respeito aos pratos principais, terminou com um borrego ibérico com cenoura de areia e molho de tagine, uma proposta do chef Rui Silvestre, harmonizada com um Niepoort Tinta Amarela 2016 — que, já agora, foi dos melhores tintos que já bebemos na vida.
Ainda antes de chegarmos à Quinta do Vesúvio, a sobremesa é feita de dois momentos, com a ajuda do Niepoort 10 Years Old Tawny: a sopa thay, coco e especiarias de Rui Silvestre, e o mar e citrinos de Sá Pessoa. Ambas propostas leves depois de um menu bastante completo, com o nosso coração a pender para a do chef do Alma (restaurante onde esta mesma sobremesa está na carta).
A meio da viagem, há uma pausa para relaxar (e tirar fotos extra instagramáveis)
O almoço termina com a paragem na estação do Vesúvio, local onde os passageiros desta experiência inesquecível podem usufruir de duas horas para relaxar numa das mais antigas quintas privadas do Douro. Aliás, tal como explica Gonçalo Castel-Branco à chegada à quinta, só há mesmo duas formas de o conseguir: ou recebem um convite da família Symington, que detém a propriedade, ou são passageiros do comboio presidencial.
Já na quinta, para além de descansar no jardim ou nos sofás da varanda da imponente casa apalaçada, pode ainda provar alguns dos melhores Portos da Graham’s (alguns tão raros que nunca foram comercializados), fazer uma mini visita à quinta e saber mais sobre as vindimas, ou até tirar proveito do bar de charutos, também na varanda.
Seja qual for a sua opção, garanta que guarda tempo para tirar fotografias e registar a magnífica paisagem do Douro antes de fazer a viagem de regresso ao Porto que, para surpresa de quase ninguém, envolve mais comida e bebida. E ainda bem.
Lanche? Está mais para jantar, mas somos fãs
A experiência gastronómica não fica completa sem um lanche na hora de regressar ao Porto. E prepare-se, porque o desfile de delícias continua.
No fim de semana que embarcámos no comboio presidencial, este momento foi composto de cesto de pães e broas de centeio, queijo da Ilha 12 meses de cura Lactaçores, presunto de porco preto Varanegra Salsicharia Estremocense, paiola do Pinhão, conservas José Gourmet (com um especial destaque para as sardinhas fumadas), scones de arandos e natas batidas e ainda caldo verde, entre outras opções, tudo bem regado com seleção de vinhos Niepoort, chá ou limonada, e bebidas espirituosas, do whisky ao gin.
Apesar de existirem várias datas esgotadas para esta viagem final do comboio, pode ainda reservar o seu lugar na experiência The Presidential para os dias 25 de setembro (domingo, chefs Hugo Candeias e Pedro Pena Bastos), 8, 9 (chefs Marlene Vieira e Michele Marques), e 15 e 16 de outubro (chefs Alexandre Silva e João Rodrigues).
O bilhete — que dá acesso à viagem no comboio, menu de degustação de chefs, harmonização de vinhos, acesso exclusivo à Quinta do Vesúvio, prova de vinhos do Porto, lanche e gift bag exclusivo — tem o valor de 750€ por pessoa.