
O Soi, o restaurante que, desde 2017, traz uma proposta contemporânea de street food asiática ao Cais do Sodré, acaba de entrar numa nova fase. O destaque vai para as criações exclusivas e por tempo limitado criadas no âmbito da Street Trip tailandesa. Esta iniciativa é, acima de tudo, um regresso às origens do Soi.
"Para mim, a cozinha tailandesa é a que teve as portas mais abertas", afirma, sobre as influências das restantes gastronomias asiáticas. "É uma cozinha do povo para o povo, mais honesta", que tanto exalta o lado moderno como o religioso. "O Soi vem tentar trazer um pouco dessa energia", comenta o mentor e chef do Soi, Maurício Vale, com a MAGG.
Entre abril e julho, apresenta oito dos snacks de que mais gostou quando viajou pela Tailândia, nomeadamente por Chiag Rai, Chiang Mai, Banguecoque e Phuket. Neste revisitar de lugares, estarão disponíveis dois snacks por mês, além da carta habitual do Soi.
"Fiz um percurso pelas cidades e tentei lembrar-me dos dois pratos de que tinha gostado mais. Tudo puro, super tailandês", explicou à MAGG. Maurício Vale tinha 19 anos quando viajou durante quase um ano pela Tailândia, experiência esta que mudou radicalmente a sua visão da cozinha. O fascínio foi aumentado ao longo do tempo, principalmente pela comida de rua, e fez com que retornasse a este país do Sudeste asiático muitas vezes.
Junto de mestres locais, aprendeu as bases da cozinha tailandesa e tudo sobre os seus fascinantes ingredientes para, no Soi, elevar a fasquia da comida de rua. Nesse sentido, em abril, apresenta os seus favoritos de Chiang Rai, o norte montanhoso da Tailândia, com maiores influências de Laos e Myanmar.
Daqui nasceram dois pratos com sabores mais intensos, fermentações e menos uso do leite de coco. O Miang Kham (tacos de alface, barriga de porco grelhada, chutney de tamarindo, aromáticas, chalota e pickles, por 9€) é um clássico que convida a enrolar diversos sabores e texturas numa folha de alface.
Já o Gaeng Hang Lay (mexilhão cozinhado com caril Singapura, aromáticas e brioche torrado, por 12,50€), um dos nossos favoritos deste jantar, parece um prato de sopa de mexilhão, que nos compele a molhar o pão e quase nos convence a pedir uma palhinha para terminar.
Em maio, Chiang Mai, que junta às influências birmanesas e de Laos a da etnia chinesa Yunnan, está presente nos snacks Sai Ua (salsicha de porco e arroz fermentado) e Khao Soi Nua (sopa de novilho estufado), replicados com o cunho deste chef com formação profissional em gestão hoteleira.
Junho será de Banguecoque, que inspirou o Tod Mun Goong (bolinhos de camarão), e o Moo Ping (espetada de porco marinada), e julho de Phuket, que, com fortes influências chinesas e malaias, ajudou a criar o Som Tum (salada de papaia verde) e o Yum Pla Tod (peixe frito combinado com sweet chilli).
Além das sugestões do chef para a Street Trip tailandesa, provámos também pratos da carta, que sofreu alterações, mas sempre mantendo-se fiel às influências que absorveu durante o mochilão de norte a sul da Tailândia. Um dos fatores que nunca muda é o de que grande parte das propostas são para se comer com as mãos.
Uma delas é o amuse bouche, um "pani puri feito para jogar com todos os paladares", com pancetta fumada, para um sabor tostado, queijo creme com sabores exóticos (como lima, líchia e hortelã), pickle de mexilhão, molho satai "à base de amendoim com caril vermelho" e chilli oil em pó para finalizar.
A oscilação de sabores, cores e texturas deste pequeno snack é verdadeiramente surpreendente. Vamos confessar que, ao ouvirmos esta mistura (principalmente com o mexilhão, para o chef um "produto super desvalorizado"), torcemos mentalmente o nariz, mas não tardámos a perceber que funcionava — e de que maneira.
"Aqui temos uma abordagem natural, sem químicos, com várias raízes aromáticas", diz-nos o chef, ao apresentar o caril de erva príncipe (16,50€). Este prato leva, segundo nos explicou, "leite de coco, uma pasta triturada e salteada no wok, malaguetas e chalota, e é aromatizado com tamarindo e lichia e no fim coco fresco ralado", conseguindo assim uma "maior intensidade de sabores" para acompanhar a "tempura de corvina bem fininha e crocante".
Já o caril panang é super diferente do anterior, já que tem uma base de malagueta fumada, amendoim torrado, camarão tigre, leite de coco, manjericão tailandês, tomate assado e arroz perfumado com jasmin (16€). Ambos passaram no teste.
Como sobremesa, Maurício Vale serviu-nos um gelado de chá tailandês. "O thai tea é uma bebida carregada de gelo. Consegui trazer para cá esse chá e adicionei coco, como leite de coco aromatizado e coco ralado", descreve. É imperdível para os fãs desta fruta.
Para beber, há opções como a limonada de morango e gengibre (4€), a de abacaxi e hortelã (4€) e cocktails como o Sakura, com vodka, sumo de framboesa, xarope de cereja e açúcar (10€). Como está explícito em cada um destes pratos, o Soi veio representar uma "diferenciação de todos os outros asiáticos que havia da altura", enquanto "abordagem cheia de riqueza cultural, assim como a street food manifesta".