Falar de restaurantes icónicos em Lisboa e não mencionar o XL, aberto por Vasco Gallego em 1994, é impossível. Casa de políticos, empresários, artistas e figuras da sociedade, entre muitos outros, o histórico espaço junto à Assembleia da República, em Lisboa, manteve-se aberto durante 26 anos, até meados de março de 2020, por altura do primeiro confinamento. E foi numa manhã desses dias tão negros para o setor da restauração — e não só — que o empresário, que hoje se dedica inteiramente à gestão do seu hotel, o Vale do Gaio, no Alentejo, recebeu uma chamada de um amigo de longa data.
Foi essa chamada que marcou o fim do XL como o conhecíamos até então e marcou o nascimento do XXL, o novo restaurante do cozinheiro e empresário Olivier da Costa, inaugurado oficialmente esta segunda-feira, 29 de novembro. O tal amigo, já se adivinha, era Olivier, que depois de sonhar que tinha ficado com o restaurante de Vasco Gallego, ligou para o dono do Vale do Gaio para conversarem sobre o futuro do espaço. Em poucos minutos, fecharam negócio e hoje Olivier está à frente de um restaurante que conhece desde jovem.
"Ainda me lembro de o XL ser do outro lado da rua, um espaço pequenino, e de vir aqui com a minha irmã. Já na altura, em 1994, era o hot spot, o sítio onde toda a gente queria ir", conta-nos Olivier, que assume o orgulho em abrir um dos restaurantes mais emblemáticos da sua infância.
Com 25 anos de carreira celebrados este ano, Olivier tinha começado o seu caminho na restauração em 1998, cerca de quatro anos depois de o XL ter aberto portas originalmente. "Em 98, quando comecei, este era o ponto onde eu queria chegar", explica no almoço de inauguração do novo XXL. "Graças a Deus já pus o pisca há muito tempo e já estou lá à frente, mas olhava para este restaurante e tinha muita pena que não estivesse na berra como anteriormente esteve."
XXL é o recuperar de um ícone, com o respeito pelo legado da casa original
Apesar de Vasco Gallego não estar oficialmente envolvido no projeto do novo XXL, a amizade e um acordo de cavalheiros fez com que existisse um extremo respeito pelo legado do restaurante original, tendo o cuidado para não descaracterizar o espírito do espaço ou da comida que se serve — aliás, o desejo por manter a tradição é tanto que o grupo Olivier está em vias de conseguir recuperar o número de telefone do XL, para que nem isso se perca.
E mesmo tratando-se de um restaurante completamente renovado e com uma carta idealizada de raiz por Olivier, o tal respeito por cumprir com o que de melhor se servia neste icónico espaço faz com que existam pratos com uma forte inspiração na antiga carta, como é o caso das frituras — queijo panado (6€), os croquetes de rabo de boi com mostarda de dijon e foie gras (12€) e as gambas despenteadas com alho confitado — ou dos soufflés.
Mas como é que podemos caracterizar esta comida? Olivier explica: é comida do coração. "São pratos do coração, comida de abraço de mãe, como gosto de dizer. São pratos que nos fazem lembrar qualquer coisa, fiz uma ementa mesmo nesse sentido, uma cozinha de coração, rica, quente e confortável", salienta o empresário e cozinheiro.
"A comida é simples, mas muito boa. São as coisas que eu quero comer, as coisas que a minha família come, que me habituei a ver nas mesas em casa. Tenho muita origem francesa, muita cultura gastronómica deste país, até porque os meus avós tinham essa mesma cultura. O XXL não é um restaurante francês, de todo, mas há coisas que fazem lembrar porque efetivamente há essa inspiração familiar. E é isso que quero passar para quem nos visita", afirma Olivier, que vai mais longe. "Este restaurante vai ser o meu poiso, sinto-me muito bem aqui."
Sem pobrezas 2.0 — o lema das mesas de Olivier da Costa
Adepto de boa comida e de convívios à mesa, Olivier não deixa dúvidas sobre o que deseja para o novo XXL. "Este restaurante é para os amantes de boa comida. É um restaurante que as pessoas escolhem porque sabem que vão comer bem, onde o produto é de excelência e onde há uma enorme qualidade e amor por aquilo que estamos a fazer", diz o empresário e cozinheiro.
Mais do que isso, no novo XXL, Olivier explica que há um espírito de estar à mesa, "a curtir com os amigos", e onde o sabor da comida é fator primordial, mas não tanto os empratamentos exímios. "O meu objetivo não é empratar, aliás, odeio isso. Na minha mesa, não há pobrezas. Há diversão, amor, carinho, sorrisos. É isso que quero: que as pessoas venham numa expetativa de vir a um restaurante bom, até porque há decoração, há serviço, etc, mas que também saiam daqui a dizer que a comida estava ótima. Aqui, as estrelas são os clientes, não é o Michelin", destaca.
Mas mesmo sem destaque para os empratamentos, tudo o que é servido no XXL é digno de feed de Instagram, da comida maravilhosa e gulosa às taças e terrinas que o próprio Olivier encontrou num antiquário — outro detalhe que acrescenta peso à tal ideia de casa, tão realçada por Olivier.
Dos bitoques de lavagante à picanha de tamboril, no XXL o sabor é mesmo à grande
A carta do novo XXL não é gigante, mas garantimos que tudo o que chega à mesa está recheado de sabor. Nas entradas, uma parte da ementa dedicada também às origens de Olivier e ao que sempre se habituou a ver a família comer, há saladinhas como ratatouille com queijo feta (8€), pimentos grelhados (7€), baba ganoush (9€) e salada de fava (9€), entre outras.
O legado do XL está presente na segunda parte das entradas, com pratos gulosos como as gambas despenteadas (36€) e o queijo panado (6€), mas aqui também não falta a mítica alheira de caça com ovo codorniz (6€) ou os croquetes de rabo de boi (12€) — um prato em que tivemos de parar num único croquete, ao nos lembrarmos de que ainda vinha muita coisa para a mesa; caso contrário, iam meia-dúzia.
Os soufflés também fazem parte da carta, com a opção entre o de peixe e camarão (28€) e queijo e espinafres (24€), servido com um creme de queijos — que deve ser posto por cima do soufflé, já depois de se ter servido — que facilmente mudávamos o nome para a oitava maravilha do mundo. E, já sabem, não nos cansamos de dizer: queijo é vida.
Há, obviamente, pratos de peixe e carne — como o bife Café Paris (34€), o entrecôte (85€), o linguado XXL (70€) ou a açorda de bacalhau (24€), entre outras opções —, mas, para além dos clientes, como diz Olivier, os pratos de assinatura são as estrelas da casa.
Falamos da picanha de tamboril (58€), um lombo de tamboril servido com beurre blanc (molho francês preparado com uma redução de vinagre e/ou vinho branco, chalotas e manteiga) e pico de gallo, que quase afirmamos não ter estudos para conseguir transmitir o que provámos. A riqueza do peixe, a subtileza de um molho delicioso, enfim. Das melhores coisas que já provámos e não é à toa: Olivier confidenciou-nos que este é um dos seus favoritos da carta.
Taco a taco no sabor, originalidade e potencial para fazer salivar muitos feeds de Instagram está o bitoque de lagosta (68€), onde o nobre marisco grelhado é servido com manteiga, batata frita, arroz e ovo a cavalo. Brilhante na ideia, ainda mais no sabor.
E como assim estamos a falar de um restaurante de Olivier e ainda não vimos trufa, um dos seus ingredientes preferidos, na carta? Olivier trocou este nobre componente pelo caviar, servido no linguini (60€), outro dos pratos assinatura do XXL.
Nas sobremesas, a lógica de "poucos, mas bons" mantém-se: há soufflé de Ferrero Rocher (16€) para provar e umas incríveis fatias douradas (5€). Alguém convença o chef a juntar estas duas num pijaminha e sou uma mulher feliz.
A acompanhar tudo isto, há centenas de referências de vinho, servidos ao copo e à garrafa, das nacionais às internacionais.
O XXL está aberto todos os dias, apenas ao jantar. E já sabe, se marcar mesa, é sem pobrezas. Sempre.