A comida oriunda do subcontinente indiano, em particular da Índia, não pode ser definida ou categorizada com uma expressão chapéu. "Comida indiana" é demasiado simplista para definir a gastronomia de uma região que tem praticamente o dobro dos habitantes do continente europeu e raízes culinárias muito mais complexas e ancestrais do que as nossas.
Com esta explicação prévia, e assumindo a nossa curiosidade, visitámos o Oven, restaurante criado pelo chef nepalês Hari Chapagain, e que abriu portas em agosto de 2021. Tínhamos de pedir um clássico lassi de manga (3,95€), a bebida doce, cremosa e ligeiramente ácida que combina iogurte com polpa da fruta tropical. Experimentámos também um dos cocktails da carta, Mustang (pisco, ginger vodka, blu curacao, lima e clara de ovo, 10€).
O couvert ao estilo do Oven não tem pão e manteiga mas tem papadam super estaladiço, numa dose generosa e com os respetivos molhos (manga, iogurte e mistura de malaguetas).
Porque a fome apertava e queríamos mesmo experimentar o máximo possível de pratos, pedimos três entradas. Chicken samosa (6,95€), deliciosas chamuças de massa estaladiça, recheadas com frango e especiarias. Generosas em recheio, ligeiramente picantes, são quase uma refeição. Mo Mo (7,95€) são dumplings nepaleses, recheados com frango e especiarias. Muito aromáticos, vinham acompanhados com um molho picante e cremoso.
Em mesa indiana que se preze não pode faltar naan, o delicioso pão achatado, feito no ancestral forno tandoor, peça central da cozinha e dá origem ao nome do restaurante (oven é forno em inglês). O forno, utilizado na cozinha indiana e nepalesa, foi trazido de propósito de Nova Deli para Lisboa e atinge temperaturas na ordem dos 300ºC a 400ºC.
Pedimos garlic naan, recheado com alhos e coentros (3,95€) e esquecemos tudo aquilo que sabíamos sobre naan menos bem executados, muitas vezes massudos ou ensopados em ghee. Este era leve, estaladiço por fora e muito macio por dentro.
Se estávamos satisfeitos com as entradas? Sim. Se quisemos devorar mais pratos? Claro.
"Eu gosto de comida picante", disse eu, a sorrir, cheia de confiança. Só após a segunda garfada do vindaloo de frango (12,95€) perceberia o sorriso condescendente do funcionário do Oven. As três malaguetas na ementa indicam exatamente isso: é o prato mais picante da carta e nós, claro, tínhamos de o experimentar. Ficámos a suar em sítios onde pensávamos ser impossível mas levámos com gosto a nossa empreitada até ao fim. Este prato não é para toda a gente, apenas para os mais experimentados nos níveis superiores da escala de Scoville. Por isso, se visitarem o Oven e vos disserem que é picante, acreditem: é mesmo picante.
Muito mais suave, mais igualmente saboroso, o lamb shank byriani (22,95€), pernil de Borrego cozinhado em baixas
temperaturas durante horas, com especiarias servido com arroz basmati aromatizado com açafrão, frutos secos e especiarias. Não sendo picante, é uma explosão de sabores que pode confundir os menos habituados a combinações exóticas de especiarias. O borrego estava inacreditavelmente amanteigado, resultado da cozedura lenta, e o arroz solto e aromático.
As sobremesas criadas pelo chef Hari Chapagain parecem nomes de filmes que poderiam pertencer à saga Indiana Jones: Golden Stone, Devil's chocolate... aquando a nossa visita pedimos uma Blood moon (bolo húmido de chai masala recheado com mousse de lichias, com essência de framboesa, coberto por um glace vermelho, acompanhada com kulfi de coco, 9,95€).
Além do impacto visual, a frescura e leveza dos vários componentes constituíram o final de uma refeição opípara e que nos deixou com vontade de, numa próxima visita, não nos esquecermos do leque na mala (sim, porque aquele vindaloo não se vai ficar a rir de nós). Uma última nota: a não ser que venham de um jejum de 10 dias, as sobremesas são mesmo (mas mesmo!) para dividir.
*a MAGG visitou o Oven a convite do restaurante.