Na barra do acolhedor bar do Boubou's, onde se dá as boas vindas aos visitantes, está uma família a tirar uma selfie. Os pais, de cocktail na mão, os filhos, duas crianças com idades à volta dos 10 anos, com refrigerantes. Felizes, posam para uma fotografia, antes de se dirigirem ao pátio do restaurante, onde irão desfrutar de uma refeição de fine dining.
Fine dining e crianças nem sempre surgem na mesma frase, não só porque os espaços dedicados a este tipo de gastronomia desincentivam a presença de miúdos como também estas refeições, não só pelo tipo de pratos como também pela duração, se tornam aborrecidas para os mais pequenos.
O Boubou's descreve-se como um restaurante familiar de cozinha de autor (autora, neste caso, Louise Bourrat) e é exatamente esse sentimento que temos durante a refeição: uma experiência contemporânea num ambiente acolhedor, proporcionado por uma equipa que, mais do simpatia profissional, tem um carinho e atenção que nos fazem sentir em casa. Uma casa com jardim, já que o pátio interior faz qualquer dia de Inverno parecer primavera, e onde as fotos de família e o bricabraque dão um ar de visita a casa daquela tia que adoramos.
O Bobou's abriu portas em 2018 pela mão de Alexis e Agnes Bourrat. Por culpa da pandemia nasceu o irmão mais novo, o Boubou's Sandwich Club, que fica mesmo do outro lado da rua. Louise, que venceu o "Top Chef França" em 2022, começou por ser mais um elemento da cozinha do Boubou's até que, após ter vencido o cooking show no seu país natal, assume a cozinha do restaurante lisboeta, que passou a servir apenas menus degustação.
O apelido não é coincidência: Alexis e Louise são irmãos, filhos de mãe portuguesa e pai francês, nascidos em Lyon. Agnes, mulher de Alexis, é natural da Chéquia mas é inglesa. O casal trabalhou na hotelaria e restauração em Londres antes de escolher Lisboa como casa para abrir o seu primeiro restaurante. São 44 lugares sentados, mais sala interior com vista para a cozinha, uma pequena esplanada exterior e ainda o bar, que está aberto até às duas da manhã, para um cocktail fora de horas.
Das ostras à sobremesa Top Chef, tudo o que comemos no Boubou's
O restaurante tem dois menus degustação, Terrae, 100% e Omnivorous, com peixe e carne. Optámos pelo Omnivorous, a experiência de degustação que inclui proteína animal, e que pode ser degustada em sete (95€) ou 10 momentos (125€). Recomendaram-nos vivamente os 10, por um dos pratos-estrela de Louise, do qual falaremos mais à frente. Seguimos o conselho e não fomos defraudados, e ficámos ainda mais satisfeitos com o wine pairing, que pode ser composto por seis vinhos (75€) ou oito vinhos (105€).
Os ingredientes, oriundos maioritariamente de produtores locais, são as estrelas de cada um dos pratos. A frescura, os sabores cristalinos, a leveza, quer da elaboração quer do empratamento. As criações de Louise Bourrat, embora haja uma ou outra menos bem conseguida, são elegantes e, se quisermos usar um português corriqueiro, sem a mania.
Vamos já falar do prato mais surpreendente deste menu, a língua de boi com ravigote e nasturtium, uma homenagem a um prato tipicamente português que a mãe de Louise costumava confeccionar. Os reticentes em relação a este ingrediente menos convencional têm - e perdoem-nos a franqueza - de se deixar de manias e provar. Porque não se vão arrepender. O mesmo vale para um dos snacks, fígado de galinha, milho e trufa, uma delícia salgada e cremosa que vale a pena provar.
Destacamos o truque de magia sensorial que Louise Bourrat alcança com a batata doce, leche de tigre e lima kaffir. Uma proposta divertida que nos confunde e intriga e nos faz pensar tanto em ceviche como em sobremesa. A cremosidade e o aspecto visual da lula, funcho e lardo di colonanata, uma textura luxuosa, fez-nos quase lembrar um leite creme. Mais uma vez, o sentido de humor de Louise a fazer-se sentir nas suas criações.
Desilusões, temos de falar sobre elas, mas foram apenas duas: a temperatura do robalo, berbigão e yuzu. Queríamos muito que fosse um prato frio, a piscar o olho ao sushi, mas era quente. E a sobremesa alho negro, miso e shiitake, com que Louise venceu o "Top Chef França", não nos surpreendeu. Era boa? Era. Refrescante? Sim. Mas não nos arrebatou. Quanto à mignardise, que mistura cacau e caviar... um grande e sonoro não, sobretudo quando combinada com o último vinho do pairing, o Villa Oeiras. A harmonização de vinhos, eclética e surpreendente, criada pela sommelier Anastasiia Kornilov, levou-nos numa viagem dos Açores à Geórgia, passando por França e pela Alemanha. Irrepreensível.
Veja o que comemos
* a MAGG visitou o Boubou's a convite do restaurante