Durante cerca de cerca de quatro horas só tivemos uma certeza: estávamos no Lx Factory e não passaríamos fome depois de jantar no novo Ni Michi. É mais do que um restaurante com comida mexicana. É também o palco de outros sabores da América Latina trazida para Lisboa pelos irmãos Filipe e Luís Ferreira. Mas essa história já conhecemos. A que nos traz aqui é outra: o que realmente é servido à mesa.
Experiência de sabores latinos que se preze, para nós, tem de começar por uma margarita. Só que no Ni Michi fomos convencidos a trocar a nossa favorita e clássica margarita (7€) (que deixámos para o final só para matar as saudades) para provar um outro cocktail famoso para as bandas da América Latina: o pisco.
Arriscamo-nos a dizer que até nos podem tirar a margarita desde que a troquem pelo pisco do Ni Michi, que não só fica bem nas fotos, como cai bem (demasiado bem ao ponto de o teor álcoolico passar despercebido) e apetece provar as restantes variedades.
Piscámos então o olho ao pisco sour (7,90€) e também ao pisco de manga e maracujá (7,90€) que, ao contrário do que pensávamos, não era assim tão doce e faz um balanço equilibrado com a comida que mistura temperos, texturas e um tanto ou quanto picante, para o qual passámos logo de seguida a conhecer estas poções mágicas feitas com dezenas de referências latinas e garrafas de fornecedores diferentes para garantir o resultado mais fiel ao que se bebe no continente sul americano, como nos explicaram.
Igualmente extensa em variedade é a ementa do Ni Michi, numa carta que contém uma grande bagagem de sabores do sul do continente americano. Tacos mexicanos, ceviches peruanos e as chaufas — que misturam a receita do arroz frito chinês, levada por este povo para o Perú, e ingredientes peruanos — foram algumas das coisas que provámos.
Shakira, estamos contigo
Antes de todos os petiscos e pratos, veio para a mesa um clássico: nachos, neste caso acompanhados de queijo fundido e guacamole, a chamada canasta mexicana (4,20€). Seguimos com empanada de queijo e cebola caramelizada que, de tão bem recheada, corríamos a apanhar tudo com o garfo para envolver na massa (3,90€) e também com empanada de ternera, feita com vitela e com um alerta de picante, embora não fosse assim tanto (3,90€).
Ainda a petiscar — embora de faco e garfo porque os pratos vêm sempre acompanhados de um molho que acrescenta um apontamento diferenciador —, provámos as fajitas de camarão, que não adorámos pelo pesado contraste entre o panado e a tortilla (15€) e também os tacos, esses sim, com uma mistura de ingredientes que dão match na boca. Destacamos o taco pulpo a la diabla (14€), assim chamado pelo molho ligeiramente picante que nos fez querer comer mais (e beber mais, para dizer verdade).
Enquanto cumpríamos o propósito com que foi atribuído o nome ao restaurante — "darmos valor aos momentos em que não fazemos nada, tornando-os em momentos criativos e de edificação", disseram à MAGG os proprietários numa entrevista anterior —, apurámos a audição e a visão para o que estava ao nosso redor.
A primeira detetou uma música da "Rainha da Música Latina", Shakira, autora do êxito "Whenever, Wherever" que tocava no restaurante. E, de facto, estamos com a artista colombiana: "A qualquer momento, em qualquer lugar/ Fomos feitos para estarmos juntos/ Estarei lá para ti e tu estarás por perto", e que assim seja com a gastronomia e os piscos do Ni Michi que a meio das quatro horas que passámos neste espaço já nos tinham proporcionado momentos tão pouco frequentes nos dias pandémicos que correm.
Quanto à visão, analisámos com atenção o painel pintado pelo artista UtOPiA e depois disso sentimo-nos ligeiramente observados pela figura — pelo menos até chegarem os restantes pratos.
Ora eis que mergulhámos na degustação de ceviches, composta pelo clássico, de salmão e aji amarillo (26€). E é chegada a altura de assumirmos aqui um vício: picante (embora já fosse percetível depois desta prova no Panda Cantina, em Lisboa). Sendo o aji amarillo o mais picante, foi o que mais nos conquistou, mas não só por isso. Também pelas diferentes texturas entre o milho crocante, o peixe fresco e a batata doce.
Ainda provámos a chaufa do mar (14,80€), que levou-nos mais para o oriente do que para o sul da América, mas estava bastante saborosa. Por fim, regressámos aos sabores latinos mais tradicionais com os churros acompanhados de leite condensado cozido (4,50€).
Sem planos para o dia dos Namorados? Este tem compota afrodisíaca
Do início ao fim sentimos que era sexta-feira (ainda que fosse terça-feira) e que de seguida a noite seguia para uma pista de dança por Lisboa. Isto porque o Ni Michi é um espaço que convida a juntar amigos, particularmente em fevereiro, altura em que o restaurante vai começar a ter música ao vivo com ritmos latinos e também Dj.
Até serem reveladas as datas, há outra certa: o dia dos Namorados. Para 14 de fevereiro, o Ni Michi tem preparado um menu dedicado ao São Valentim, que começa com cocktail de boas vindas, segue com empanadas de ternera e termina com mousse de chocolate mexicano com compota de malaguetas afrodisíaca. O jantar custa 50€ por pessoa, com seleção de bebidas incluídas.
Com amigos ou namorado, é difícil sair do Ni Michi e não ficar enamorado pelo que acabou de acontecer. E o espaço parece adivinhar, não tivesse à porta um placar com letras néon que se lê com o tom de Georgina Rodríguez em "Eu, Georgina": "Me Gusta Que Te Guste Que Me Gustas" (que é como quem diz: "gosto que tu gostes de me gostares".