Pela primeira vez desde que recebeu a edição de estreia em Portugal — num longínquo 2004 em que Britney Spears conseguiu a proeza de continuar a tocar piano mesmo depois de se levantar do banco —, o Rock in Rio Lisboa mudou de recinto. O festival de Roberta Medina deixou o Parque da Bela Vista, e rumou ao Parque Tejo, precisamente o mesmo local onde se realizaram as Jornadas Mundiais da Juventude, em agosto do ano passado.

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Depois de um primeiro fim de semana de concertos, com Scorpions e Ed Sheeran a serem os cabeças de cartaz de sábado e domingo, respetivamente, vamos a veredictos: qual dos recintos é melhor? E, meus caros, nem sequer é uma luta justa: a aposta no Parque Tejo não podia ter saído mais ao lado, desde as condições naturais do local, à forma como tudo foi organizado.

Esqueçam ver o artista por um canudo — aqui, nem uma ponta do ecrã

Há 20 anos que estamos habituados a ver o imponente Palco Mundo num vale, em que as condições da Bela Vista permitem que mesmo os festivaleiros mais despreocupados em arranjar um bom lugar consigam ver um concerto em condições com o auxílio dos dois grandes ecrãs junto ao palco. No recinto anterior, os stands das marcas ladeavam o Palco Mundo, em declives que até permitiam mais condições para as pessoas acompanharem as canções dos seus artistas preferidos.

rock in rio

No Parque Tejo, e apesar de existir um declive no terreno em direção ao palco, a Tenda Vip está muito mais perto, obstruindo muito a vista a quem fica mais atrás, bem como vários stands de marcas que ninguém percebe muito bem como é que foram organizados daquela forma.

Centenas de pessoas não conseguiam sequer ver uma nesga de ecrã, nem sentir qualquer ambiente festivaleiro, isto porque o som era outro dos problemas. Para além de falhas na transmissão do Palco Mundo, em que Ed Sheeran ficou completamente mudo durante alguns segundos, a sensação é que alguém tinha chegado ao botão do volume e o tinha reduzido em muito.

Um recinto confuso e apertado

Para além do Parque Tejo não possuir as condições naturais da Bela Vista, a sensação é que aqui estamos todos em todos os lugares, todos ao mesmo tempo. O recinto claramente menor obrigou a organização a condensar tudo, com o Digital Stage quase em cima do Palco Galp (outra desilusão, dado que no recinto anterior ficava também num vale, o que fazia com que ali se passasse todo um festival à parte, e agora mais parece um palco caído do céu em cima de stands e da entrada do recinto).

As filas para os brindes confundem-se umas com as outras, temos de serpentear entre os inúmeros stands das marcas (que, mais uma vez, nos pareceram muito menos organizados do que na Bela Vista), e quase que parece que estamos num centro comercial exterior. Muito menos espaço para andar, pessoas paradas em todo o lado, e praticamente zero sombras, a não ser na zona de restauração. E nem vamos falar sobre o vento, devido à proximidade ao rio, que nos fez comer cabelos e poeiras o dia todo.

Como é que podemos pedir 84€ por um bilhete e tratar as pessoas como condenados?

Ao contrário da Bela Vista, em que táxis, veículos TVDE e até carros particulares podiam aproximar-se bastante do recinto, existindo lugares de estacionamento nas imediações, e também a proximidade de uma estação de metro, a conversa é outra no Parque Tejo. A única forma de chegar ao recinto era a pé, a partir de determinado ponto, ou então através dos shuttles que partem da Gare do Oriente, e que a organização vende como alternativa.

Pois. Mas não é. Este domingo, após o final do concerto de Ed Sheeran, e com a debandada geral dos fesivaleiros, o cenário era dantesco. Centenas de pessoas afuniladas por uma única saída, em que a multidão era parada por várias vezes, fazendo com que o simples ato de sair do recinto pudesse demorar dezenas de minutos. Depois, caso o objetivo fosse ficar à espera do shuttle, éramos obrigados a ficar como sardinhas em lata numa espécie de garrafão onde — pasmem-se —, estavam mais centenas de pessoas paradas, à espera de autocarros que tardavam em chegar. Caótico, lento e acima de tudo desesperante.

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Das (poucas) coisas boas deste recinto? Mais casas de banho, maior limpeza e há que dar uma palavra aos promotores espalhados já fora do recinto, a indicar o caminho tanto para o Parque das Nações como em direção à estação CP de Sacavém.

Depois de 20 anos de Rock in Rio Lisboa, pela primeira vez, o recinto mudou e a Vodafone não patrocinou o evento, o que marcou o fim de uma era de sofás vermelhos. E só esperamos que o descalabro destes dias seja suficiente para a era Parque Tejo não durar mais do que uma edição.