Saiu na passada sexta-feira, 10 de outubro, o primeiro episódio de uma série que vem transformar a nossa visão sobre o mundo dos espiões e o futuro não tão longínquo de Itália: “Citadel: Diana”. Com uma história que promete não deixar ninguém indiferente no que toca aos bons e aos maus da fita e com uma relação conflituosa e emocionante entre irmãs como foco principal, a série junta-se ao catálogo já conhecido de “Citadel”, uma produção norte-americana produzida pelos irmãos Russo, e vem com a promessa de ser a próxima série a entrar na lista das mais gostadas.
Mas ainda antes de lhe contarmos tudo sobre o primeiro episódio (prometemos não dar tantos spoilers assim), o melhor é começarmos pelo início. “Citadel” estreou em 2023 na Prime Video e a produção dá-nos a conhecer este mundo homónimo, que é nada mais nada menos que uma organização de espiões que não está vinculada a nenhum país, e que tem como único objetivo assegurar a proteção de todos os cidadãos do mundo e de combater a Manticore, os tão conhecidos maus da fita. Na série norte-americana, Richard Madden e Priyanka Chopra-Jonas fizeram parte do elenco principal, e mostraram a todos os fãs deste género o que é que os espiões podem realmente ser.
Agora, um ano depois desta estreia, chega ao streaming “Citadel: Diana”, a versão italiana desta organização. Sendo que a Citadel não pertence a nenhum país, este universo espalha-se por todo o mundo, e são vários os países que contam com espiões desta organização nas suas cidades, nos seus governos e nos seus impérios - e, claro, Itália não é exceção. No entanto, a série italiana mostra-se um pouco diferente da série norte-americana: aqui, Diana, a personagem principal, é uma agente da Citadel que se infiltrou na organização italiana da Manticore, e por lá permaneceu com o único intuito de saber quem mandou matar os seus pais.
No entanto, as coisas não correm como planeado quando, um dia, os maus da fita conseguem destruir a Citadel, fazendo com que esta organização deixasse de existir. Sendo que Diana, interpretada pela atriz Matilda De Angelis, se encontrava infiltrada na Manticore, a espia não conseguiu simplesmente sair, pelo que acabou por ficar presa no lado negro da força durante os oito anos seguites. Assim, “Citadel: Diana” passa-se no futuro, em 2030, e conta a trajetória da atriz principal desde os seus primeiros dias como infiltrada até ao momento exato em que encontra uma escapatória, oito anos depois de entrar.
O primeiro episódio, de nome “Dividida em Dois”, foi divulgado a um grupo de jornalistas no passado mês de setembro em Londres, onde a MAGG teve a oportunidade de estar presente também com a produção e o elenco da série. Neste momento, a série completa já se encontra disponível na Prime Video, e inclusive está em segundo lugar das séries mais vistas durante a semana na plataforma de streaming. Ainda assim, apesar de já estar disponível, esta crítica serve para que os indecisos tomem uma decisão - que esperemos que seja a certa - quanto à nova série italiana, e que não se deixem enganar: não é por ser numa língua diferente que fica automaticamente mais difícil de ver. Isso não acontece.
Queremos já começar por dizer que sim, é possível ver “Citadel: Diana” sem antes ter visto “Citadel”. As histórias são diferentes, as personagens são diferentes e o próprio espaço é diferente. Itália nada tem que ver com Inglaterra, onde se passa a série norte-americana, e o próprio enredo está construído para dar a conhecer a visão da organização italiana. Ainda assim, apesar de não estarem completamente interligadas, aconselhamos sempre a ver primeiro “Citadel”, pois é aí que descobrimos o como e o porquê de a organização ter sido destruída. Fora isso, “Citadel: Diana” é completamente independente.
Mas, claro, não conseguimos deixar de perceber que existem alguns cameos e algumas semelhanças. Uma das caras conhecidas da Manticore de “Citadel” aparece quase despercebida na série italiana, o que acaba por ser um docinho para quem já viu a série norte-americana e consegue conectar os pontos. De resto, a própria história é diferente porque “Citadel: Diana” se passa no futuro, mais concretamente em 2030, e Milão foi a cidade escolhida para dar a conhecer Diana, a forte e destemida personagem principal desta história que, como já referimos, é uma infiltrada na Manticore.
E porque é que tivemos um pequeno vislumbre do possível futuro de Itália? Porque a série foi desenhada exatamente para não parecer irreal, para que os italianos a vissem como algo que poderia realmente acontecer no seu país daqui a cinco anos. Em “Citadel: Diana”, Milão está sobre quase como uma nuvem negra, um país que parece comandado por forças autoritárias, visivelmente transformado em algo mais escuro.
Gina Gardini, a produtora da série, chegou a dizer à MAGG que se inspirou no período de fascismo que Itália atravessou no seu passado, e que a maioria dos elementos foi pensada com esse intuito. Sendo que Itália tem como primeira-ministra Giorgia Meloni, conhecida pelos seus ideais de extrema-direita, a série pode não estar tão longe assim do futuro de Itália.
“Não queríamos passar a barreira de algo muito científico, algo muito distópico, e então o que fizemos foi olhar para o passado italiano, e um passado muito específico de arquitetura e arte dentro do fascismo, e foi como construímos o futuro de Itália. Foi também o porquê de termos escolhido Milão, por causa desse passado específico, e eu acho que fizemos um bom trabalho em criar algo que não é o agora, então não é o que as pessoas estão habituadas, mas ao mesmo tempo criar algo que não parece assim tão longínquo, que estás num sítio que não vamos conseguir identificar”, explicou Gina Gardini à MAGG. O próprio conceito das roupas e dos cortes de cabelo das personagens vêm inspirados nesse período, o que parece que torna tudo ainda mais real.
Assim, com esta dualidade entre as duas organizações que Diana representa, conhecemos um lado deste mundo que nunca antes tinha sido revelado: a própria Manticore. Com Diana lá dentro, os telespectadores ficam a conhecer o lado dos vilões, os porquês das suas ações e a garra e determinação que têm em querer destruir tudo e todos. Não é algo assim tão comum neste género de séries e filmes, uma vez que os espiões e heróis ficam sempre com as câmaras focadas em si, mas acaba por ser uma lufada de ar fresco, e é este caminho que torna a série italiana tão única. Uma personagem, um coração dividido, duas caras diferentes.
No primeiro segundo, a primeira coisa que se ouve é o disparo de uma arma. Fica tudo em silêncio, como se estivéssemos no campo, e há uma paragem pequena do coração. O que é que aconteceu? Quem é que morreu? A história começa no fim, como um ciclo, e só na parte final do episódio é que percebemos o porquê daquela morte e como aconteceu. O suspense mantém-se até ao fim, a intriga de querer perceber logo a história toda começa a remoer e é com este sentimento que percebemos que vamos ficar completamente agarrados.
Mais escura e menos sentimental que “Citadel”, “Citadel: Diana” mostra-nos o lado negro das coisas, o conflito de sentimentos entre o bem e o mal, as saudades de casa e as mentiras que precisam de ser ditas. Não há humor (o que, sendo sinceros, foi a parte que não nos agradou tanto, é sempre preciso uma pitada de comédia para nos fazer ficar mais agarrados às séries), não há distância entre o real e o fictício, há apenas uma linha temporal que não se mexe. Uma linha que nos conta tudo o que se passou sem precisar de pequenas notas, o que torna a série ainda mais intrigante.
No entanto, temos uma pequena confissão a fazer. No mesmo dia em que vimos “Citadel: Diana”, tivemos a oportunidade de ver também “Citadel: Honey Bunny”, a outra série do mundo Citadel que vai estrear ainda este ano (e sim, também temos uma entrevista e uma crítica sobre a produção), e não conseguimos não comparar as duas. Tendo tido a oportunidade de ver os dois episódios piloto, a verdade é que a série italiana é muito mais científica, tensa e fechada, e muito menos espontânea e engraçada. Ainda assim, isso não a torna, de todo, mais aborrecida. Toda a sua ação e reviravoltas fazem de “Citadel: Diana” um must na lista de séries a ver mais tarde.
De uma coisa, contudo, não nos podemos queixar - aliás, de várias. A primeira é, sem dúvida, os seus cenários. Itália, mesmo no futuro, é um dos países europeus mais bonitos de se ver no ecrã, com toda a sua arquitetura planeada ao pormenor e pequenos espaços idealizados de uma maneira quase que irreal.
A segunda foi a banda sonora escolhida que torna todo o enredo e cenário mais misterioso e enigmático. Os altos, os baixos, os momentos de silêncio e os êxitos mais conhecidos fazem de “Citadel: Diana” uma montanha russa no que toca a sentimentos, tornando a visualização da série muito mais emocionante.
Outra coisa de que também não podemos deixar de falar são os close ups feitos na produção. Isto é algo que também já vem de “Citadel”, e que os irmãos Russo tentam incorporar em tudo o que fazem. Tornar uma série em algo cinematográfico, que até dá dó ver apenas num pequeno ecrã e não numa grande tela de cinema, é algo que faz com que uma produção seja única, e que deixe os telespectadores mais agarrados à história. Não é por acaso que os dois irmãos são tão conhecidos pelo sucesso que tiveram com a MCU (Marvel Cinematic Universe), e parecem querer levar esse espírito para todas as suas produções. Não nos estamos a queixar, de todo, e quando virem a série vão perceber.
Ainda assim, no final, a única coisa que importa é aquilo que nasce connosco: o amor pela nossa família. Diana apenas entrou neste mundo e apenas faz o que faz pela sua família, para descobrir quem matou os seus pais e para proteger a irmã a todo o custo. Mesmo agora, oito anos depois e com mais maturidade, Diana não consegue largar este sentimento, e, apesar de não se manifestar logo no primeiro episódio, a única coisa que Diana quer é viver feliz para sempre com a única família que lhe resta: a irmã. Esta é uma verdadeira história de amor entre irmãs, que promete não deixar ninguém indiferente.