
Não é da sua visão. São mesmo milhares de jogadores de ténis num torneio e centenas de pessoas na mesma rua à mesma hora. Mas é tudo uma mera coincidência. Confuso? Nós explicamos.
Se precisou de vários minutos para perceber o que está por detrás das imagens inusitadas do fotógrafo Pelle Cass, é compreensível. Mas a genialidade do artista tem um segredo e é simples. Uma câmara num tripé, a tirar milhares de fotos no mesmo ângulo, sem parar, durante uma hora. O que irá obter? Imagens de diferentes pessoas, com diversas posições, no mesmo sítio. O que Pelle Cass faz? Selecionar as imagens que tirou nesse dia e sobrepô-las cuidadosamente. O resultado? Uma imagem incrivelmente viciante que deixa qualquer um a pensar se está a precisar de uns óculos novos.
Editado no Photoshop, encenado ou um truque? Pelle Cass diz que não e é um dos primeiros mandamentos das suas fotografias. "Eu nunca altero nada e nunca movo uma figura ou um único pixel que seja. Eu simplesmente decido o que fica e o que fica de fora", disse à revista "Vice". O artista revela que também uso o humor e a ironia para a narrativa visual das suas fotografias e, se deixar as pessoas na dúvida, ainda melhor. "Se acontecer encontrar gêmeos na mesma fotografia, eu deixo-os para que as pessoas pensem que é um truque do Photoshop", revela.
A arte do fotógrafo de Brooklyn, que é focada no lapso do tempo, demora cerca de 30 a 40 horas a ser feita e, em trabalhos mais complexos, cerca de 80 horas. O trabalho começou com a vontade de Pelle Cass distinguir-se das milhares fotografias que já existiam. “Eu não me destacaria porque todos os fotógrafos podem tirar fotos de desporto, e amadores ou profissionais até usam bem os tripés”, explica o artista.
Pelle Cass, 68 anos e fotógrafo há cerca de 50, começou a meter a criatividade em prática em 1984, com a exposição Selections of Summer, na Galeria Frank Marino Gallery, em Nova Iorque. Os seus trabalhos antigos já mostravam as ideias pouco comuns do artista, com imagens a preto e branco sobrepostas com manuscritos, alfinetes numa fotografia a triplicar, bem como pinturas e esculturas.
No entanto, foi em 2010 na Galeria Kayafas, em Boston, que apresentou o seu primeiro álbum de fotografias inusitadas apelidado de "Selected People". Aqui o fotógrafo começou por fotografar as ruas onde habitava, as de Brookline, em Massachusetts, aparentemente paradas e com pouco ritmo. O artista mostrou pela primeira vez ao público imagens de ruas, praças e parques caóticos e quebrou qualquer tabu que poderia existir na fotografia. Algumas parecem provocar um símbolo ou uma intenção, como um círculo, um triângulo ou apenas camisolas da mesma cor.

Em 2018, após aprimorar as suas habilidades, ao fotografar as ruas da sua cidade natal, o artista passou para um patamar superior (e vai parecer-lhe impossível) de fotografar desportos conhecidos, e foi desde campos de futebol a lacrosse universitário, passando pelo basquetebol, esgrima, piscinas de mergulho, hóquei em patins, e muitos outros. O álbum, que tem como nome "Crowded Fields", comprime numa única fotografia grupos de jogadores, dançarinos (alguns suspensos no ar), atletas, entre outros, a cruzarem-se no espaço e no tempo. E é neste álbum que consegue perceber na prática a famosa frase de que "a fotografia é uma das poucas coisas que tem o poder sobre o tempo: paralisa-o".
Este último trabalho do fotógrafo levou, segundo o mesmo, uma década para evoluir, mas a motivação nunca faltou. “Eu acho que as fotografias convencionais de exposição única são distorcidas pela sua brevidade desumana. O olho nunca vê um único momento. Quando chega a casa de um jogo de hóquei, pode lembrar-se de algumas imagens específicas de grandes jogadas, mas a memória de um jogo já é mais como uma impressão geral de atividade e animação”, explica o fotógrafo, referindo que era esse o objetivo na construção das imagens deste álbum, "atividade e animação".
Pelle Cass já esteve as suas obras expostas no México, na Noruega e nos Estados Unidos, com destaque para Boston. Pode ver o mais recente trabalho do artista no site oficial ou, se quiser seguir o trabalho de Pelle Cass de perto, pode fazê-lo na rede social Instagram.