"O Homem Mais Odiado da Internet" é uma minissérie documental da Netflix que estreou na passada quarta-feira, 27 de julho. Dos produtores de "O Impostor do Tinder” e “Don't Fuck with Cats: Hunting an Internet Killer”, a sequência de três episódios escrutina a história de Hunter Moore e do seu site, "IsAnyoneUp", uma das primeiras e mais conhecidas páginas de pornografia de vingança [imagens divulgadas sem consentimento].

O documentário traz a público os testemunhos de várias vítimas que se viram presas na sua teia de destruição e o impacto que a divulgação de fotos íntimas teve nas suas vidas. Além disso, mostra como (e por quem) é que este esquema foi desmantelado, fazendo com que Moore caísse do pedestal construído pelos seus seguidores, tornando-se no homem mais odiado da Internet.

Quem é, afinal, Hunter Moore e como é que tudo isto começou?

Moore nasceu em 1986, na Califórnia, Estados Unidos, e desde tenra idade que sempre se regeu por uma única premissa: arranjar uma forma de enriquecer. Motivado por esse objetivo, utilizou o sangue de empreendedor que lhe corria nas veias para começar o seu próprio negócio, aquando da sua expulsão da escola católica que frequentava, contou numa entrevista à "Rolling Stone", em 2012.

Por isso, antes de entrar no secundário, fundou uma pequena empresa t-shirts e, a partir daí, tentou ganhar dinheiro das mais variadas formas. Foi promotor de festas, DJ, produtor de música e até barbeiro – mas o que aproximou mais da sua meta foi a grande quantia proveniente de um processo de assédio sexual contra uma loja de retalho do qual saiu vitorioso (não, não é ironia).

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Essa fonte de dinheiro, que rapidamente secou, serviu para sustentar um estilo de vida pautado por viagens caras, muitas festas, drogas e sexo. Desde então, a construção do império digital de Moore foi escalando a passos largos com a criação do seu site de pornografia de vingança em 2010, "IsAnyoneUp", projetado para humilhar publicamente aqueles que ousavam tirar fotografias íntimas dos seus corpos.

Embora inicialmente com outro propósito, o site acabou por se popularizar no mundo digital quando Moore partilhou uma imagem da sua ex-namorada, nua. A partir desse momento, extasiado pelas centenas de milhares de visitas que recebia diariamente, percebeu que poderia explorar a miséria alheia e ganhar dinheiro com isso. Como? Bem, "IsAnyoneUp" chegou a ter mais de 350.000 visitas diárias, o que gerou um lucro de, aproximadamente, 30.000 euros mensais só em publicidade. 

Por isso, não demorou muito até o site ficar repleto de fotos comprometedoras de pessoas de todos os cantos dos Estados Unidos, muitas vezes explícitas e enviadas pelos seus ex-companheiros.

Há 12 anos, era tudo muito novo e as leis do mundo digital não eram tão complexas e incisivas quanto hoje. A carência de legislação acabou por viabilizar a divulgação desenfreada de todas estas imagens, vídeos e até mesmo a exposição de informações pessoais das vítimas, como o contacto pessoal e respetivo perfil de Facebook, sem qualquer consequência para o agressor. Ainda assim, Moore descartava a hipótese de que a culpa era sua, uma vez que os conteúdos eram enviados pelos utilizadores. 

No entanto, não foi fiel à sua palavra: como se as submissões não fossem suficientes, ficou viciado em procurar conteúdo para publicar no site, tendo recorrido à pirataria para aceder aos dispositivos das vítimas  – e foi isso que levantou as suspeitas que acabaram por derrubá-lo.

Como é que Hunter Moore foi parado? E o que lhe aconteceu?

Moore era conhecido por se achar acima de tudo e todos. Quem ousava fazer-lhe frente era habitualmente ameaçado de morte por si e pelo seu culto (ou legião de fãs, digamos). Travá-lo não foi fácil, sendo que ignorava todos os pedidos que eram feitos no sentido de remover o conteúdo cuja partilha não havia sido consentida, não se deixando intimidar. Ainda assim, a determinação de uma mulher que teimava em não ser demovida, Charlotte Laws, foi mais forte.

Por isso, a série documental esclarece que a queda de Moore teve início quando, em 2012, divulgou conteúdo de Kayla, filha de Charlotte. Ao perceber que estava no site, a jovem, que na altura tinha 24 anos, contou tudo à mãe, garantindo que as fotografias não tinham sido partilhadas com ninguém e que estavam apenas numa pasta do seu e-mail. Foi aqui que surgiram as suspeitas de que Moore pirateava os dispositivos pessoais das vítimas para deles retirar o conteúdo por que procurava.

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Charlotte Laws levou a cabo uma jornada judicial para proteger a filha e decidiu fazer a sua própria investigação, que durou mais de dois anos. Estabeleceu contacto com mais de 40 vítimas, das quais 40% confirmaram terem sido alvo de pirataria, e compilou todos os testemunhos. Acabou por entregá-los a uma jornalista e até ao FBI, que acabou por comprovar que grande parte do conteúdo do site era adquirido de forma ilegal.

Em janeiro de 2014, Hunter Moore foi preso e, em fevereiro do ano seguinte, declarou-se culpado de conspiração, acesso ilegal a computadores e roubo de identidade, tendo sido submetido a uma pena de prisão de, pelo menos, dois anos.

Acabou por ser libertado em 2017 e, em 2018, lançou um livro que conta com um relato detalhado sobre da construção do site, intitulado "Is Everyone Up?!: The Story of Revenge Porn". Atualmente, o autoproclamado "rei da pornografia de vingança" mantém-se banido do Facebook e, desde então, tem continuado sempre em silêncio – menos quando decidiu manifestar-se em relação ao trailer do documentário com um "LOL", no Twitter.

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