Os meses de janeiro e fevereiro vão ser repletos de grandes filmes, alguns até nomeados para vários prémios, e o difícil vai ser decidir para qual se vira primeiro. Depois da estreia de produções como "O Caso de Richard Jewell", o mais recente projeto de Clint Eastwood enquanto realizador, e "A Despedida", de Lulu Wang, há mais para ver nos cinemas portugueses e pelo menos dois deles estão nomeados para vários prémios nos Óscares — a gala de maior prestígio de Hollywood.
"Uma Vida Escondida", de Terrence Malick, estreou-se em Portugal a 16 de janeiro, mas arriscamos a dizer que muito provavelmente tem passado ao lado de muitos espectadores que, neste momento, se encontram de olhos postos nos principais nomeados para os Óscares.
O filme conta a história de um agricultor austríaco que, no início da Segunda Guerra Mundial, se recusa a combater pelo lado nazi e é acusado de traição. A crítica internacional elogia o trabalho de Terrence Malick e a forma como distingue a fé da religião, não deixando de as criticar.
Mas há ainda "1917", a produção que, depois de vencer o prémio de Melhor Filme nos Globos de Ouro, se arrisca agora a repetir a proeza nos Óscares. O filme de Sam Mendes é um épico de guerra, focando-se especificamente na Primeira Guerra Mundial, e promete ser tecnicamente superior — ao apostar na ideia de que toda a ação decorre de um único take contínuo e sem cortes.
Mostramos-lhe todas as estreias de cinema que vale a pena espreitar este fim de semana.
"Uma Vida Escondida", de Terrence Malick
O mais recente trabalho de Terrence Malick, o realizador de filmes como "A Árvore da Vida", chama-se "Uma Vida Escondida" e é possível que, pelo menos em Portugal, passe despercebido numa altura em que está toda a gente com os olhos postos nos nomeados para os Óscares.
O filme passa-se na Áustria de 1939, marcada pelo início da Segunda Guerra Mundial, e acompanha a figura de Franz Jägerstätter — um agricultor e católico devoto que se recusa a lutar pelos nazis no conflito armado. Como consequência, o agricultor é acusado de traição à pátria e condenado pelo regime.
Segundo a crítica internacional, que tem avaliado positivamente a produção, "Uma Vida Escondida" confirma a "genialidade que Terrence Malick" tem vindo a mostrar em algumas das suas produções mais recentes.
E enquanto que a agência de notícias Associated Press elogia o "coração e a metafísica da narrativa que ajudam o filme a ter os pés bem assentes na terra", a revista "Variety" diz que o filme ganha pontos ao fazer a distinção entre a fé e a religião. "Terrence Malick faz uma distinção crítica entre a fé e a religião, invocado as falhas desta última — uma instituição humana que é tão falível e corruptível como qualquer indivíduo", lê-se.
O filme de quase três horas está exibição nas principais salas de cinema do País.
"Bad Boys Para Sempre", de Adil El Arbi e Bilall Fallah
Passaram quase 17 anos desde que o filme "Bad Boys 2" chegou a Portugal, em meados de 2013. Repleto de momentos humorísticos, ação e longas perseguições a alta velocidade (não fosse este um filme de Michael Bay), ficou também conhecido pelas falhas em termos de estrutura e de argumento.
Mas pelo menos nisto não havia dúvidas: era a dupla composta por Martin Lawrence e Will Smith que dava carisma a um filme que, durante quase duas horas, parecia sem rumo. E talvez por isso este regresso tenha gerado tanto entusiasmo — nos fãs e nos críticos.
A revista "IndieWire" escreve que um dos pontos fortes do filme está não na vontade de rescrever as regras aplicadas aos blockbusters, mas sim na forma como permite a dois atores revisitar as suas personagens num contexto em que a indústria de Hollywood está cada vez mais diferente.
"O filme 'Bad Boys Para Sempre' não tem como objetivo aumentar a fasquia ou rescrever as regras que são aplicadas aos blockbusters. Mas é um gosto ver Lawrence e Smith a revisitarem estas personagens e a darem-lhes um lugar sensato na cena atual de Hollywood", lê-se.
Já o "The New York Times" não tem dúvidas: este terceiro capítulo é o mais "interessante e agradável do franchise, que poderá levar os seguidores da saga a "avaliá-lo muito bem" quando comparado com os filmes anteriores.
"1917", de Sam Mendes
Provavelmente já ouviu falar de "1917", a nova grande produção de Sam Mendes, e há razões para isso. É que depois de ter ganho o prémio de Melhor Filme nos Globos de Ouro, arrisca-se a repetir a proeza nos Óscares e é uma dos filmes mais aguardados em Portugal.
Em causa está não só o facto de ser um épico que retrata o conflito armado da Primeira Guerra Mundial, mas também o facto de estar feito em jeito de um longo shot contínuo onde não há cortes. Ou, melhor dizendo, dá a ideia de que a ação decorre num único take. A ideia não é nova e já a vimos replicada noutros grandes filmes como "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)".
Ainda assim, a grande maioria da crítica internacional desfez-se em elogios à técnica de Sam Mendes neste seu novo projeto.
A BBC diz que o realizador tem a capacidade de, neste filme, "personalizar a experiência da guerra através da experiência de dois soldados britânicos que são enviados para uma longa". Como? "Através da criação de um filme que tem tanto de tenso como de profundamente emocionante e comovente."
A revista "Time" é da mesma opinião: "Sam Mendes criou um filme que parece vivo. É uma produção cuidadosamente polida, não uma que se esforça pelo realismo. Mas a verdade é que a devoção à vida e à beleza, mesmo durante a guerra, faz parte do seu poder."
"Bombshell — O Escândalo", de Jay Roach
Outra das grandes estreias de cinema de janeiro é "Bombshell — O Escândalo" que acompanha o caso em que duas mulheres dizem ter sido sexualmente assediadas por Roger Ailes, o antigo rei de todo o império da Fox News.
Além de contar com um elenco invejável (com Nicole Kidman, Charlize Theron e Margot Robbie nos papéis principais), valeu ainda três nomeações para os Óscares nas categorias de Melhor Caraterização, Melhor Atriz (Charlize Theron) e Melhor Atriz Secundária (Margot Robbie).
Segundo a revista "Time", o filme serve como uma "representação satírica onde a comédia e o humor negro têm lugar na forma como são mostrados casos de assédio sexual nos locais de trabalho". No entanto, considera que nem por isso o filme de Jay Roach "perde a noção das repercussões devastadoras que surgem" após as primeiras denúncias de assédio na Fox.
Já o "The New York Times" diz que o filme traz uma lição importante — a de que o sexismo não discrimina ninguém. "Aqui está uma coisa importante sobre o sexismo: não discrimina ninguém. É um preconceito que igual oportunidade para todos que é transversal a qualquer período histórico, cultural ou fação política. O filme 'Bombshell' percebe isso mesmo", lê-se.