Se dúvidas houvesse sobre o que fala o novo filme de Quentin Tarantino, o título ajuda a explicar. "Era Uma Vez... em Hollywood" é sobre Los Angeles e a indústria de Hollywood de 1969 que, segundo revelou o realizador à revista "Variety", "já não existe".
Foi uma altura marcada por racismo e segregação no cinema, e uma sociedade norte-americana que se preparava para lidar com os assassinatos violentos do culto liderado por Charles Manson. Uma das vítimas foi Sharon Tate, a atriz norte-americana de apenas 26 anos que estava grávida e era casada com o realizador polaco Roman Polanski.
Mas uma das cenas do filme, que já estreou nos EUA, está a gerar duras críticas ao realizador norte-americano. É que durante as gravações da série de televisão "The Green Hornet", o duplo Cliff Booth (Brad Pitt) troca insultos com Bruce Lee (Mike Moh) e o conflito culmina com uma luta de três rondas entre os dois.
Embora na primeira ronda Lee não tenha problemas em derrotar Booth, a segunda termina com a personagem de Brad Pitt a arremessar o colega contra um carro e a ganhar o duelo. A terceira ronda nunca chega a acontecer.
Em declarações exclusivas à revista "The Wrap", Shannon Lee, filha de Bruce Lee, lamentou ver o pai interpretado de uma forma tão arrogante. "Ele aparece como uma pessoa muito arrogante e cheia de si mesma. Não como alguém que teve de lutar três vezes mais do que as outras pessoas para conseguir aquilo que conseguiu ao longo dos anos", explica.
Shannon Lee vai ainda mais longe e diz que a intenção de Tarantino foi caricaturar Bruce Lee no cinema. E talvez por isso tenha sido "muito duro" ouvir as pessoas a rirem-se da personagem no cinema.
"Acho que a personagem foi realizada para ser caricaturada. Eu percebo que estas duas personagens [a de Brad Pitt e Leonardo DiCaprio] são anti-heróis e isto é uma espécie de violência fantasiosa do que poderia acontecer numa altura em que claramente havia muito racismo e exclusão. Só não precisavam de o tratar da mesma forma como os brancos de Hollywood o trataram enquanto ele foi vivo", acrescentou.
É que o ator foi várias vezes ignorado ou relegado para papéis secundários, como em "The Green Hornet", mesmo quando os papéis a que se candidatava eram referentes a personagens asiáticas — que muitas vezes foram atribuídas a atores brancos.
Já à revista "Deadline", Shannon Lee fez saber que não gostou do facto de Tarantino não a ter contactado a informar de que a figura de Bruce Lee faria parte da história.
"Há um grau de irritação porque sei que o Tarantino falou com várias pessoas menos comigo. Ao mesmo tempo, há uma parte de mim que diz que isto não merece o meu tempo e a minha energia", revelou.
"Era Uma Vez em... Hollywood" chega às salas de cinema portuguesas a 15 de agosto e a crítica já o considera um dos melhores filmes do realizador norte-americano que ficou conhecido por produções como "Reservoir Dogs" e "Pulp Fiction".