Para compensar a falta de quedas na passadeira vermelha da 92.ª edição dos Óscares, a chuva que se fez sentir em Los Angeles, nos Estados Unidos, fez ceder algumas das tendas que suportavam o cenário preparado para receber algumas das maiores estrelas da indústria de Hollywood. Num cenário que pedia sapatos engraxados e vestidos sem vincos, viram-se panos, vassouras e folhas de papel. Tudo serviu para limpar a água que, pelo menos no início da passadeira vermelha, ameaçou estragar a noite à imprensa e à Academia de Hollywood.
Resolvido o problema, a cerimónia arrancou à uma da manhã em Portugal sem grandes percalços e a abertura da gala mostrou a todos os céticos que os Óscares não precisam de apresentadores para nada. Janelle Monáe, a artista associada ao hip-hop e R&B, subiu ao palco para um momento musical que também serviu de homenagem a alguns dos filmes estreados em 2019.
E se ao início surgiu de colete vermelho, numa clara referência ao filme "Um Amigo Extraordinário", pelo qual Tom Hanks estava nomeado na categoria de Melhor Secundário e que não chega a Portugal, no final da atuação surgiu com uma coroa de flores na cabeça — em alusão ao filme "Midsommar" que não teve o apreço da Academia.
Ainda não o sabíamos, mas estávamos perante aquele que seria o primeiro momento constrangedor da noite. É que à medida que Monáe passava pela primeira fila da plateia, punha o microfone à frente de algumas das estrelas para que a pudessem acompanhar ao trautear partes da canção.
E se há melhor forma de envergonhar atores famosos, é esta: pôr-lhes o microfone à frente e vê-los a fazer as caras mais estranhas em frente às câmaras por não saberem se devem ou não cantar. Houve quem se recusasse, quem aceitasse cantar — como Leonardo DiCaprio —, e quem ameaçasse cantarolar só para desviar a cara assim que o microfone lhes chegasse à boca.
O segundo momento constrangedor da noite fez-nos tremer e pensar se não estaríamos a breves momentos de uma nova bronca nos Óscares. Não houve troca de envelopes, como há dois anos, mas Diane Keaton (que apresentou o prémio de Melhor Argumento Original com Keanu Reeves) quase se tornou viral nas redes sociais depois de um mini-desastre.
No momento em que tentou abrir o envelope para ler o vencedor, o mão falhou-lhe, o envelope escorregou e quase atirou o microfone para o meio do palco. Após o imprevisto, foi Keanu Reeves quem tratou de anunciar que "Parasitas" ganhava uma das categorias a que estava nomeado, vencendo outras produções como "Era Uma Vez... em Hollywood", "Marriage Story" e "1917".
Já na categoria de Melhor Argumento Adaptado, o vencedor foi Taika Waititi por "Jojo Rabbit", que também realizou. O realizador subiu ao palco, agradeceu à mãe e esqueceu parte do discurso. Damos o desconto. Afinal, não é todos os dias que se recebe um Óscar e que se está em frente de algumas das maiores figuras da indústria cinematográfica.
Para anunciar o prémio de Melhor Design de Produção, as atrizes Maya Rudolph e Kristen Wiig subiram ao palco e protagonizaram um dos momentos mais hilariantes da noite ao mostraram-se chateadas e incomodadas com a Academia, num sketch de humor para trazer mais dinamismo a uma gala que, até então, estava a meio gás.
Foi a meio da performance que revelaram que estavam só a representar. "Vocês não querem saber por que estamos chateadas, acreditem. Calma. Estamos só a representar, percebem? É isto que fazemos: representamos. Somos atrizes e fazemos mais do que comédia. E como sabemos que hoje estão aqui muitos realizadores, preparámos isto."
As atrizes cantaram, choraram, riram e arrancaram gargalhadas e palmas da plateia (e de realizadores como Martin Scorsese e Quentin Tarantino).
Eminem rimou e Martin Scorsese adormeceu
A entrega de prémios continuou sem grande surpresas até que, antes de um dos intervalos, a Academia criou uma montagem para mostrar a forma como a música tinha transformado o mundo do cinema. Para isso, utilizou várias canções que já se tornaram indissociáveis de grandes filmes, como é que o caso de "My Heart Will Go On", de Celine Dion, em "Titanic".
Após a montagem, que terminou com o filme "8 Mile", protagonizado por Eminem, o rapper americano subiu ao palco para surpresa de toda a plateia e interpretou a canção "Lose Yourself" que tinha sido vencedora de um Óscar há 18 anos. A câmara saltou de Eminem, sempre frenético em palco, para Martin Scorsese que dormia na plateia — momento que se tornou num dos memes da cerimónia mais partilhados nas redes sociais.
O resto da gala decorreu sem grandes polémicas ou momentos memoráveis, mas ficou marcada por um registo disperso e sempre incoerente. As mudanças de ritmo foram várias e a aposta em vários momentos musicais não ajudaram a encurtar uma cerimónia já de si muito longa. Foi nas categorias principais que começaram a ser anunciadas as surpresas da noite.
"Parasitas" derrota "1917" e surpreende toda a gente
Depois das vitórias previsíveis de Joaquin Phoenix na categoria de Melhor Ator em "Joker" e de Brad Pitt como Melhor Ator Secundário em "Era Uma Vez... em Hollywood", foi a fez de "1917" ganhar tudo o que havia para ganhar nos prémios técnicos. Até que chegou a vez de "Parasitas", que sempre que era mencionado levava a plateia ao rubro.
Além de vencer na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, ganhou ainda o prémio de Melhor Realizador (derrotando "1917" de Sam Mendes) e o prémio principal de Melhor Filme do Ano — que também se esperava que fosse entregue a "1917".
Nas outras categorias as surpresas foram nulas e não muito diferentes do que se esperava e mesmo os discursos não surpreenderam, embora tenha havido alguns momentos emotivos.
Enquanto Joaquin Pheonix recordou o irmão, River Phoenix, que morreu em 1993 com apenas 23 anos depois de uma overdose, e aproveitou para consciencializar para um estilo de vida mais sustentável. Hildur Guðnadóttir, que venceu o prémio de Melhor Banda Sonora por "Joker", agradeceu à família e pediu a todas as mulheres que falassem.
"Este prémio é para todas as mulheres de Hollywood. Falem, elevem a vossa voz. Precisamos todos de vos ouvir", atirou emocionada para a plateia, que respondeu com palmas e uma ovação de pé.
Conheça a lista completa de todos os vencedores da edição de 2020 dos Óscares.
Melhor Ator Secundário
- Brad Pitt ("Era Uma Vez... em Hollywood")
Melhor Filme de Animação
- "Toy Story 4"
Melhor Curta-Metragem de Animação
- "Hair Love"
Melhor Argumento Original
- "Parasitas"
Melhor Argumento Adaptado
- "Jojo Rabbit"
Melhor Curta-Metragem em Live Action
- "The Neighbours' Window"
Melhor Design de Produção
- "Era Uma Vez... em Hollywood"
Melhor Guarda-Roupa
- "Mulherzinhas"
Melhor Documentário
- "American Factory"
Melhor Documentário de Curta-Metragem
- "Learning to Skateboard in a Warzone"
Melhor Atriz Secundária
- Laura Dern ("Marriage Story")
Melhor Edição de Som
- "Ford v Ferrari"
Melhor Mistura de Som
- "1917"
Melhor Cinematografia
- "1917"
Melhor Edição
- "Ford v Ferrari"
Melhores Efeitos Especiais
- "1917"
Melhor Caraterização
- "Bombshell — O Escândalo"
Melhor Filme Estrangeiro
- "Parasitas"
Melhor Banda Sonora
- "Joker"
Melhor Canção Original
- "(I'm Gonna) Love Me Again" ("Rocketman")
Melhor Realizador
- "Parasitas"
Melhor Ator
- Joaquin Phoenix ("Joker")
Melhor Atriz
- Renée Zellweger ("Judy")
Melhor Filme
- "Parasitas"