Especialista em comunicação não verbal, Irina Golovanova conhece a importância da nossa postura corporal, expressão fácil, ritmo e tom de voz. Não sabemos se a sua perspicácia chega ao nível da de Sherlock Holmes, no entanto há muitos anos que a russa de 35 anos se dedica a explicar às pessoas como é que podem melhorar a sua comunicação e poder de influência com algo tão simples como o corpo.

Foi por isso que decidiu escrever o "O Poder dos seus Gestos", editado em maio pela Porto Editora. Neste livro, a autora desconstrói alguns mitos (não é verdade que alguém que mente desvia sempre o olhar, por exemplo) e explica como é que podemos todos comunicar e observar de forma inteligente.

A propósito do novo livro, a MAGG pediu à autora dicas para se preparar para o próximo encontro — seja ele profissional ou pessoal, só tem de ser importante. Irina Golovanova respondeu com um pequeno guia de três passos, que vão garantir que prepara "o encontro de forma estratégica e que dá o seu melhor no momento". E quanto tempo vai demorar? Seis minutos. A autora fez as contas.

"Antes de começarmos, vamos combinar o seguinte: ficar apenas pela leitura não traz benefícios. É preciso colocar em prática. A sério. É como numa ida à farmácia, não basta comprar o medicamento. Se quer que este o ajude verdadeiramente, deve tomá-lo", diz Irina Golovanova. "Portanto, se ficar apenas pela leitura, só vai conseguir uma pequena parte dos benefícios possíveis e dificilmente conseguirá os melhores resultados."

Passamos a palavra à autora, Irina Golovanova.

O livro está à venda na Porto Editora e custa 15,50€
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1.º passo. Definir o objetivo

Comece por se socorrer de uma caneta e de uma folha de papel. Depois, complete a seguinte frase.

Eu sou (QUEM) _________ e quero que (QUEM) _________ me considere (COMO) __________.

Vou partilhar alguns exemplos consigo.

  • “Eu sou uma estudante que procura emprego e quero que o(s) entrevistador(es) me considere(m) proativa, dinâmica e confiável."

Se passarmos para um exemplo numa vertente mais pessoal, a frase facilmente poderia ser esta.

  • “Eu sou uma rapariga de 22 anos e quero que, no jantar em que vou conhecer os amigos do meu namorado, me considerem divertida e gira.”

Aquilo que coloca no “como” vai sempre depender do contexto, de quem é e também do seu público-alvo. Não há errado nem certo — é definido por si e só por isso já está certo.

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Curiosamente, este exercício, à primeira vista muito simples, torna-se difícil quando peço para pôr os objetivos por escrito. Algumas pessoas bloqueiam e não conseguem encontrar as palavras certas para descrever como querem ser vistas; outras, pelo contrário, fazem-no com muitas palavras (o que torna difícil manter o foco).

A minha sugestão é que se concentre nas duas palavras mais importantes para si. Como exemplo, sugiro “simpática” e “confiável”, uma imagem que se adapta a várias situações. As suas palavras podem ser diferentes — defina-as.

2.º passo. Descreva o seu objetivo em comportamentos não verbais

Agora precisa de pensar em três comportamentos-chave para cada palavra que usou para descrever o seu objetivo (o tal “como”). Como seria o comportamento não verbal de uma pessoa simpática? Provavelmente pensou (e escreveu) que seria “com um sorriso” e que usaria o “acenar com a cabeça” (ao ouvir os outros). Outro comportamento associado a uma linguagem não verbal positiva (segundo um estudo realizado pela Universidade Livre de Amesterdão) é “ausência de todo o tipo de barreiras dos interlocutores”.

Claro que depois ainda pode reforçar a sua imagem com aquilo que vai dizer e o que vai vestir, mas se pudesse desligar o som, como num programa de televisão, pergunte-se a si mesma: como seria o comportamento não verbal de uma pessoa simpática? É possível que tenha pensado noutros comportamentos, igualmente válidos. Garanta apenas que não resultam unicamente da sua sensibilidade, mas sim de uma imagem comum.

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Faça o mesmo exercício para a palavra “confiável”. Em quem confiaria? Eu confiaria numa pessoa que me olhasse nos olhos, não escondesse as mãos e deixasse transparecer as suas emoções no rosto.

Concluído? Falta apenas mais um passo. É o último. Prometo.

3.º passo. Valide a sua escolha

Avalie de 1 a 10 (1 – nada natural, 10 – muito natural) se os comportamentos que indicou para cada uma das palavras são naturais para si. Por exemplo, se é uma pessoa naturalmente sorridente (digamos tem 9 ou 10 nesta escala) e associou “sorriso” a ser “simpática”, então este comportamento é natural para si e aqui não precisa de fazer nada. No momento basta ser quem é naturalmente.

Mas se, por exemplo, referiu que uma pessoa confiável deve manter o contacto visual, mas sabe que para si isso é difícil e desconfortável (por exemplo, indicou 6 na grelha de 1 a 10), então é neste aspeto que vai centrar o seu esforço no próximo jantar ou na próxima entrevista.

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Classifique os seis comportamentos (três palavras para cada um dos dois objetivos) com um número de 1 a 10 e verifique: esta reunião vai implicar uma alteração grande ao seu comportamento natural? Ou basta agir naturalmente para conseguir atingir os objetivos? Precisa de “afinar” um ou dois comportamentos que elegeu? Ou mais? Se a maioria dos comportamentos que referiu exige um grande esforço, então se calhar é preferível voltar ao 1.º passo e verificar se os objetivos que definiu são os mais adequados. Porque é que quer passar uma imagem tão diferente da sua imagem natural? Como alternativa, e já que é um encontro tão importante, faça o esforço necessário para adequar o seu comportamento — é possível, é apenas uma questão de treino.

Este é um exercício simples, mas vai permitir olhar para a sua comunicação de forma mais objetiva e estratégica. Se tem dúvidas sobre o seu comportamento natural, consulte os seus amigos ou os colegas que a conhecem bem — por norma, eles têm uma visão mais objetiva e mais próxima da verdade.

É simples, certo? As coisas geniais não precisam de ser complicadas. E o mais importante é que esta estratégia funciona. Experimente.