D'zrt. O nome da banda portuguesa formada em 2004 na série da TVI "Morangos com Açúcar", que ninguém esperava voltar a ouvir tantas vezes num espaço de 12 horas. Este foi o tempo decorrido para esgotar o primeiro concerto do regresso da banda, anunciado a 29 de julho. Depois de quase deitarem o site de vendas a baixo, anunciaram mais e mais até chegarem a um total de nove concertos quase esgotados. A razão? O sucesso que marcou gerações.

Uma parte dos que compraram os bilhetes para o regresso dos D'zrt farão parte da geração Alfa, nascida entre 2010 e 2019, que conheceu a banda na TVI Player ou no canal Biggs. Aos olhos dos que cresceram com a banda em tempo real e lançavam a mochila para um canto da sala depois da escola para não perder nada de mais um episódio de "Morangos com Açúcar", estes não vão sentir o regresso dos D'zrt da mesma forma de quem acompanhou cada momento da banda.

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"Fiquei um bocado atordoada, é a palavra certa, quando soube do regresso. Depois disso fiquei ansiosa. Depois vieram-me as memórias e fiquei louca tipo adolescente. Depois tentei e consegui comprar o bilhete para o dia 29 e estou muito ansiosa para este regresso. Não vai ser a mesma coisa não é, sem o Angélico [Sandro Milton Vieira Angélico], mas acho que eles vão fazer-lhe uma homenagem", refere Inês Santos, atualmente com 36 anos e mãe, que começou a acompanhar exclusivamente a banda, e não os "Morangos com Açúcar", aos 19 anos.

E porquê os D'zrt e não, por exemplo, os 4 Taste? "Fui ao primeiro concerto na ExpoFACIC, em Cantanhede, em 2004, por causa do Cifrão [Vítor Fonseca] e da vertente dele ligada à dança. Quando percebi que ele fazia parte do grupo fui ver os D'zrt e gostei imenso do concerto", conta. "Passado mais ou menos um mês, eu tenho família na Nazaré e eles foram lá às festas, fui vê-los e foi a partir daí que comecei a segui-los" — e foi então que algumas aventuras aconteceram.

Pelos D'zrt, até dormir numa esquadra

Depois do concerto da Nazaré, Inês Santos nunca mais largou os D'zrt. Fez parte de um grupo de fãs da boysband, da qual também fazia parte outra grande fã, Rita, mais conhecida como Ritazza, que é até atualmente madrinha do filho de Inês, e juntas, com outras fãs que se tornaram amigas, correram o País e fizeram algumas loucuras para acompanhar o quarteto.

"Durante os concertos tínhamos um grupo de quatro a cinco raparigas e íamos juntas. Entretanto, eu, principalmente, porque sou de Coimbra, ficava ali um bocadinho mais distante, porque as outras meninas eram da zona de Lisboa. Então às vezes acabava por ir ter com elas e ia ou regressava sozinha", começa por explicar.

"Aconteceu-me em Braga ir a um concerto e eu tinha de regressar a Coimbra. Eram 3/4 da manhã, fui para a Rede Expressos e o senhor não me queria deixar lá por causa dos sem abrigo e por ser uma jovem... então foi deixar-me em Braga ao pé do Banco de Portugal. Mas o taxista, que até hoje gostava de saber o nome porque foi um anjo, saiu do táxi e foi dizer ao polícia que estava em frente ao Banco de Portugal que eu estava sozinha, que ia para Coimbra e tinha ido lá ver os D'zrt", continua.

Acha que a história ficou por uma simples vigia? Óbvio que não.

"O polícia chamou um carro da patrulha e eu fui passar a noite à polícia com eles. E depois os polícias levaram-me às 7 horas da manhã à Rede Expressos. Imagine: eu acompanhada por dois polícias a dizerem ao senhor da Rede Expressos 'olhe, esta menina tem de sair em Coimbra, mas ela teve uma noite complicada, acorde-a se ela adormecer'", termina.

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Se os pais sabiam de tudo isto? Sim. "Claro que souberam. A minha mãe sabia tudo. Eu tinha já 19 anos e foi depois até aos 21, mas no meio destas loucuras nós eramos um grupo muito atinado: não fumávamos, não bebíamos... e os nossos pais, tanto a minha mãe, como a mãe da Ritazza, faziam de tudo. Inclusive, ela tinha o número da Ritazza, do Angélico, do Robson, o manager deles, caso por algum motivo nós não atendermos", sublinha.

Há mais histórias para contar deste grupo agora crescido, mas também de outros dois fãs dos D'zrt — que cometeram loucuras num outro patamar.

"Cometi uma loucura pelos D'zrt: furei a minha orelha com 16 anos e coloquei um brinco igual ao do Zé Milho [Vítor Fonseca]", conta Daniel Ribeiro, atualmente com 25 anos.

Começou a acompanhar os "Morangos com Açúcar" aos 6 anos, precisamente quando a série começou em 2003, e de todas as bandas que passaram pela série, esta foi a que mais o marcou por se identificar com as canções. Apesar de só ter conseguido ver a banda uma vez, no Fórum Algarve em 2010, por viver no alto Alentejo e longe dos principais concertos, foi-se rodeando da presença do quarteto quer no quarto, quer nas caixas nas quais guarda toda as memórias materiais.

Um outro tipo de recordação é a de Tiago Falacha, 23 anos, para quem a banda está sempre presente seja para onde for. Tem uma tatuagem dos D'zrt, que juntou às seis que já tinha.

"Ela doeu, mas está feita. Era um tributo que queria fazer já há muito tempo", conta. "Enquanto fã dos D'zrt, podes imortalizar do jeito que tu quiseres. Esta foi a forma que eu encontrei para imortalizar a banda que eu admiro".

Tatuagem Tiago Falacha
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Tiago não se quer ficar por esta, porque falta ainda um tributo ainda mais especial: uma tatuagem dedicada ao Angélico. "Ainda vou fazê-la. Vou fazer a frase que ele lançou no último álbum. 'Eu acredito na amizade, Eu acredito no amor, Eu acredito em muitas outras coisas... Eu acredito'. Essa também vou fazer", afirma.

Também Inês Santos tem uma tatuagem, um cifrão por causa do seu grande ídolo, que suscitou a admiração que tem pela banda, mas guarda muitas outras recordações dos momentos que viveu bem de perto com Paulo Vintém, Vítor Fonseca, Edmundo Vieira e Angélico Vieira.

Angélico. "É impossível não chorar quando o vejo"

28 de junho de 2011. Esta data ficará para sempre marcada na memória dos fãs dos D'zrt e até de quem os acompanhava casualmente, porque diz respeito ao dia em que o cantor Angélico Vieira morreu, aos 28 anos, no hospital de Santo António, no Porto, na sequência de um acidente de viação na A1.

Incluímo-nos no grupo de quem não seguia a banda para todo o lado, apenas tinha os CDs, mas que mesmo assim chorou ao ver as imagens e as notícias de última hora sobre a morte do cantor. Torna-se por essa razão ainda mais difícil imaginar o que terão sentido aqueles que idolatravam Angélico.

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"Lembro-me perfeitamente do momento em que recebi uma mensagem de uma pessoa a dizer que tinha visto na internet uma notícia do acidente. Eram umas 7 e tal da manhã. A minha preocupação foi ligar para a Ritazza, que não me atendeu, porque ela tinha falado em ir ver o Angélico nesse dia ao Porto. Por isso, foi assim uma mistura de preocupações", lembra Inês Sousa.

"Claro que marcou-me muito por ele ser uma pessoa tão jovem e com tanto para dar e depois tudo o que envolveu, não é? Porque estas coisas, quando é com gente famosa, depois há sempre o que as pessoas pensam, por causa da velocidade, depois por o outro rapaz [Hélio Filipe] que também seguia ter falecido, a Armanda que ficou super mal. Portanto, foi tudo muito complicado de lidar", refere Inês Sousa.

Também Isadora Fialho recorda a morte do Angélico como um "choque tremendo". "Na altura, quando soube oficialmente da morte dele, estava na escola, em aulas, e fiquei em choque completamente. Ainda hoje quando vejo vídeos ou ouço músicas começo logo a chorar, é impossível não chorar quando o vejo", diz. "Levei um tempo a aceitar e sinto muito a falta e recordo-o bastante", refere a fã de 29 anos.

Quando uma banda ultrapassa a barreira da música

Os D'zrt passaram mais do que o "Feeling" musical que podiam dar aos fãs. Quem os acompanhava e acabou até por se tornar próximo de alguns membros da banda após trocar contactos em concertos, começou a criar uma ligação que foi essencial em certos momentos da vida. Tiago Falacha é um desses exemplos.

"A 24 de junho de 2009 a minha mãe basicamente abandonou-me a mim, ao meu irmão gémeo com paralisia cerebral e à minha irmã, com 21 anos agora. Eu era um puto, tinha 9 anos na altura, e passado uns tempos comecei a ficar longe das pessoas, a isolar-me, e não achei normal. Comecei a aperceber-me das coisas e fui ao psicólogo, isto com 11 anos, e ele disse que estava com uma depressão aguda", conta.

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Tiago começou o tratamento, que chegou a coincidir com a morte de Angélico, deitando-o ainda mais abaixo. Apesar de tudo, depois disso, a banda acabou por ajudá-lo na recuperação. "Aos 17 anos, cheguei da escola, no meu aniversário, e os meus tios disseram que tinha uma surpresa lá em cima. Tinha um bilhetinho e dizia em baixo D'zrt. Abro e penso 'está aqui alguma coisa mal'. Então não é que aquela guitarra foi dada pelo Edmundo, Cifrão e Vintém?", lembra Tiago, que tocou durante muitos anos, algo que o terá ajudado a ultrapassar a depressão.

No caso de Isadora Fialho, sem detalhar muito, refere apenas que as músicas foram essenciais em momentos mais difíceis. "Sempre me transmitiram coisas boas, sempre me ajudaram em muitos momentos da minha vida quando ouvia música deles, e ainda ajudam", refere.

11 anos depois, nove concertos. O que esperam os maiores fãs do País

"Tudo o que eu quero é voltar; Pôr de parte as coisas más e amar", diz o verso da canção "Querer Voltar" dos D'zrt, que não podia encaixar melhor com o regresso da banda a 29 e 30 de abril e 1 e 2 de maio no Altice Arena, em Lisboa, a 6 e 7 de maio em Guimarães e a 19, 20 e 21 de maio no Super Bock Arena, no Porto.

Serão nove concertos, até 2023 muito aguardados, depois de mais de 10 anos sem voltarem a subir a um palco. Apesar de o fazerem sem Angélico, os fãs veem este regresso como uma homenagem.

"É um sonho totalmente realizado a banda voltar em homenagem ao Angélico", refere Daniel Ribeiro, que não dormiu para conseguir comprar o bilhete para o dia 29 no Altice Arena.

O fã dos D'zrt espera não só um grande concerto da banda, como participações especiais, e não quer ouvir a banda pela última vez no concerto de 2023. Por isso, deixa uma ideia à TVI. "Que pensasse lançar uma nova temporada dos 'Morangos com Açúcar' em que passasse músicas dos D'zrt. Tenho a certeza de que ia ser um sucesso, porque os jovens ainda acompanham muito a série no canal Biggs e na TVI Ficção", sugere.

Já Isadora espera acima de tudo um momento nostálgico. "Acho que vai ser bom recordar a vibe deles todos juntos e acho que vão fazer algo fantástico. Aliás, já começaram a fazer ao esgotar nove concertos em poucos dias", afirma a fã que, apesar dos anos passados, tem sempre a banda presente na memória e nos recortes que ainda guarda.

Pedimos que cada um escolhesse o tema favorito e com o qual vai vibrar durante os concertos e apesar de uma escolha difícil, conseguiram escolher só uma (exceto Tiago Falacha) entre o reportório que já sabem de cor. "Para mim tanto me faz", é o tema favorito de Daniel, "Querer voltar", a favorita de Isadora, "Verão Azul", a de Inês Santos, e os temas "Querer voltar" e "Para Mim Tanto Me Faz" e "Verão Azul" são algumas das favoritas do Tiago.