Para nós, adultos, sempre foi óbvio como é que devemos arrumar os livros: numa estante, em fila, lombada com lombada. Contudo, para as crianças não é tão simples assim. Joana Soares, mãe, psicóloga, veterinária e, agora, co-fundadora d'Alata, deparou-se com isso mesmo com o filho mais velho, Tomé.
"Nós tínhamos os livros arrumados em lombada e eles acabavam sempre espalhados no chão e depois eu pedia 'arruma isso tudo'. Ele tentava arrumar e os livros caiam uns para cima dos outros no chão. Porque, realmente, arrumar em lombada é tão óbvio, mas para uma criança de 3 anos é praticamente impossível", conta Joana Soares à MAGG.
No início da pandemia em Portugal, Joana e o marido Frederico viram-se confinados num apartamento com duas crianças em fase de desenvolvimento — um recém-nascido, José, e o Tomé, na altura com três anos — e tentaram procurar formas de gerir todas as emoções dos filhos, próprias da idade. Foi então que encontraram a pedagogia Montessori, que se foca na autonomia das crianças.
"A criança tem o instinto de trabalhar as competências que tem de trabalhar. Portanto, não somos nós que temos de dizer 'agora vais aprender as cores', 'agora vais ter de aprender a contar'. Não. A criança tem esse instinto natural. O que nós damos é o chamado ambiente preparado para ela poder desenvolver as competências quando tiver necessidade de as desenvolver", e é aqui que entra a Alata, inspirada nesta pedagogia.
Joana e o marido não estão sozinhos neste projeto. Com eles está Sofia, uma amiga de Joana e mãe de Henrique, na mesma faixa etária do Tomé. A ideia do trio foi criar estantes que deixassem os livros à disposição das crianças para que, de forma autónoma, possam fazer as suas escolhas e arrumá-los por iniciativa própria — e sem os deixar cair, como acontecia no caso de Tomé, o verdadeiro inspirador do projeto.
"Gostamos muito de ler, mas o Tomé nunca tinha despertado para os livros. Normalmente acabavam todos espalhados no chão e não havia assim grandes rituais associados. Na altura [do confinamento] comecei a ler sobre isto e apercebi-me de que havia algumas coisas que podíamos alterar para fazer a diferença, e uma delas era a forma como apresentávamos os livros", conta Joana. Em Portugal não havia nenhuma solução, então encomendou uma estante de apresentação frontal na Polónia que resultou na perfeição em casa e deu origem a um momento de leitura "sagrado" à noite.
"Ele passou a ter uma interação com os livros completamente diferente. Agora estão virados para a frente, ou seja, é muito mais fácil de escolher, além de que tem menos livros à disposição, vamos rodando, porque todas as semanas as crianças têm interesses diferentes", refere Joana. O problema da arrumação também ficou resolvido. "Agora, depois de tirar um livro, eu não tenho sequer de pedir se ele [Tomé] pode voltar a arrumá-lo. É ele, por iniciativa, que o vai colocar no sitio onde o tirou", continua a mãe.
Para que Tomé não fosse o único a beneficiar deste método, o casal pensou trazer para Portugal o conceito e foi assim que nasceu Alata, a 20 de janeiro.
Da estante polaca para as novas estantes portuguesas
Joana, Frederico e Sofia são uma série de coisas. Bastou perguntar a ocupação de Joana até surgir o novo projeto. "Sou da área da psicologia, da área da medicina veterinária, da área da música. Trabalhei como professora de piano muitos anos", conta. Já Frederico é da área das medicinas complementares e Sofia da medicina veterinária, que ajuda na consultoria dos livros. As profissões não ficaram para trás, mas Alata veio dar o complemento que faltava ao percurso profissional e um apoio adicional às crianças no contexto em que vivemos desde o ano passado.
"Na altura, o que aconteceu foi que tivemos algum impacto da pandemia nas nossas vidas profissionais e ao mesmo tempo pessoal. Estar com duas crianças num apartamento não dá", refere Joana. O casal começou a pensar em mudar de vida e dedicou-se à formação em marcenaria. Apesar de não serem Joana e Frederico a fazer as estantes, o conhecimento não ocupa lugar e têm uma maior noção do que estão a oferecer a outras crianças.
Para já, enquanto aperfeiçoam a técnica, as estantes são feitas por uma empresa do norte do País e com madeira sustentável. "É certificada. Aquilo que tentamos garantir é que é de florestas sustentáveis, portanto, com o selo FSC, e os fornecedores são portugueses", destaca a co-fundadora.
Mas, afinal, o que tem a Alata para oferecer? Além das famosas estantes de livros que facilitam a vida das crianças (e dos pais), tem estantes com prateleiras para apresentar os brinquedos e pôr fim aos caixotes confusos que as crianças despejam no meio do quarto ficando sem saber com o que brincar. Essencialmente, o foco atual do projeto é a organização do espaço. "Aqui o que queremos é simplificar e dar mais autonomia à criança na forma como podem lidar com os seus materiais, com os seus brinquedos e livros", explica Joana.
As estantes não vêm com livros, mas se forem necessárias sugestões, Alata tem uma série delas. "De nada serve uma estante com a apresentação correta se os livros que lá estão não forem os indicados. Portanto, neste momento, o que fazemos acaba por ser curadoria de livros", processo que é feito através das redes sociais e no site. Além disso, na compra de uma estante, durante um ano os livros recomendados têm 15% de desconto.
Em breve vai ser lançada uma gama para crianças exploradoras da natureza, que é, no fundo, uma nova estante para exporem as suas descobertas durante um passeio ao ar livre. Pinhas, pedras, bolotas — cabe lá tudo. Apesar de ser ainda um projeto recente, as novas ideias não ficam por aqui. "Queríamos também começar a desenhar materiais para trabalhar competências especificas, como a passagem do tempo e competências matemáticas", avança Joana à MAGG.
Os artigos d'Alata foram pensados para crianças dos 0 aos 6 anos, ou melhor, "desde que a criança começa a interagir com o ambiente". Além de Tomé, o resultado das estantes de organização no desenvolvimento das crianças é notório desde tenra idade. Exemplo disso é José, que está familiarizado com o sistema desde bebé. "O mais engraçado é perceber como o bebé, que na altura tinha 3 meses, cresceu nesta fase de adaptação", destaca Joana. "Ainda hoje de manhã, ele acordou e a primeira coisa que fez foi entrar no quarto do irmão, tirar um livro da estante e andava com um que é metade do corpo dele pela casa a ver quem é que convencia a sentar-se para ver o livro com ele", conta Joana.
Em fase de lançamento, as estantes têm um valor promocional. A estante de livros da linha Bokkie custa 124€ (em vez de 155€), a estante frontal 164€ (em vez de 205€) e na linha Krakki há a estante frontal com armazenamento por 252€ (em vez de 315€) e a prateleira de atividades por 166€ (em vez de 208€). As encomendas podem ser feitas através do site d'Alata.