A cada ano que passa, a chegada do 25 de Abril é sempre um momento de balanço. Mesmo 44 anos depois. Como era o país antes da revolução, o que sentia e fazia quem viveu nessa época, o que mudou, como mudou, quem foi mais afectado ou até como seria se nada tivesse acontecido.
E o que se vestia antes do 25 de Abril?
Falamos do início dos anos 70. Altura em que reinavam os hippies, o flower power, os padrões psicadélicos e até os punks. Um pouco por todo o lado, mas não em Portugal. Em pleno regime de Estado Novo, Portugal era um país ultra tradicional e conservador, o que o levou a estar sempre um pouco atrás em várias áreas, inclusivé na moda.
Enquanto que "lá fora", as mulheres usavam as calças à boca de sino, as mini saias, os vestidos justos e as plataformas, por cá, quem usava calças eram praticamente só os homens e as mini saias e decotes eram censurados. Os looks das portuguesas antes da revolução eram então os vestidos cintados e abaixo do joelho, os saltos muito baixos, a gola alta, padrões florais e xadrez, mas muito discretos. Basicamente o que fosse permitido pelo regime de Salazar.
Os homens, com menos restrições, vestiam blazers, camisas ou polos justos com golas XL, gravatas igualmente grandes, gola alta, calças à boca de sino e calçavam texanas.
Em Portugal, a realidade era bem diferente da de outros países. O acesso à roupa era muito limitado e eram as modistas e alfaiates quem fazia a roupa da maioria das pessoas. Profissões que praticamente se extinguiram com a entrada dos pronto-a-vestir logo após o 25 de Abril e com o aumento do poder de compra, mas que atualmente voltaram a ganhar força, pela preferência de várias pessoas por roupas mais exclusivas e personalizadas. As revistas internacionais serviam de inspiração para conhecer as tendências, passá-las às costureiras e ficar "na moda", dentro do possível. E looks como estes eram a principal inspiração.
Susana Marques Pinto, stylist, produtora e professora de moda, que vivia em Londres nos anos anteriores ao 25 de Abril, contou: "Eu trabalhava na Yves Saint Laurent, em Londres, no auge do movimento hippie, onde tudo era cor e padrões, e quando vinha a Portugal a única imagem que tinha era de um país e de uma moda cinzentos e retrógrados."
A stylist recordou ainda que nessa altura havia apenas uma loja que contrariava todo esse lado cinzento da moda portuguesa que era a Porfírios. "A Porfírios era muito à frente. Havia música muito alta, filas para entrar e roupa muito colorida. Foi o primeiro passo de modernidade em Portugal e, sinceramente, não sei como sobreviveu ao Estado Novo", afirmou Susana Marques Pinto.
O segundo passo para uma revolução na moda portuguesa foi a abertura da loja "Maçã" de Ana Salazar onde a estilista vendia roupa que trazia de Londres, como por exemplo os jeans. Isto levou algumas mulheres a arriscar, mesmo antes do 25 de Abril.
Os penteados dos anos 70 eram também muito característicos. Se no caso das mulheres, a inspiração vinha de cabelos como os da atriz Farrah Fawcett, Sophia Loren ou Elizabeth Taylor, no caso dos homens, a inspiração vinha principalmente de Elvis Presley ou dos The Beatles.
Com a massificação e democratização da moda, pós 25 de Abril, a oferta passou a ser muito maior, o estilo começou a mudar e a equiparar-se ao que se usava noutros países.