Depois de um hiato de quatro anos, o Victoria's Secret Fashion Show está de regresso, mas com muitas mudanças à mistura. Devido às controvérsias sobre a falta de diversidade das modelos que desfilavam anualmente, Timothy Johnson, diretor financeiro da marca, admitiu que os espectadores deverão contar com uma versão renovada deste evento, avança a "Vogue".
Pouco se sabe em relação aos contornos do desfile. Ainda nem sequer há uma data concreta, mas, se a tendência se mantiver, o evento pode acontecer em novembro, mês em que as edições anteriores aconteciam. Mas tudo indica que querem contrariar as polémicas de assédio sexual, falta de inclusão e body shaming a que se viram circunscritos nos últimos anos e que culminaram nas escassas audiências da transmissão televisiva e, claro, no decréscimo das vendas da lingerie e outros produtos com a insígnia da marca.
Em 2018, Ed Razek, então executivo da L Brands, empresa-mãe que detém a Victoria's Secret, chegou mesmo a dizer que a inclusão não ia ao encontro da premissa do projeto. "Se não deveria haver transexuais no espectáculo? Não, acho que não devia", explicou, em entrevista à "Vogue", justificando que assim o é porque o "espectáculo é uma fantasia". E esta conceção idílica do evento não comporta (ou não comportava) modelos transgénero nem plus-size – apesar de Razek ter afirmado que tentaram incorporá-las noutros moldes, mas sem sucesso.
No entanto, a empresa está focada em mudar, pelo que querem levar a cabo um "compromisso com a defesa da voz das mulheres e das suas perspectivas únicas", segundo um comunicado divulgado pelo "Page Six". "Isto levar-nos-á a recuperar uma das nossas melhores estratégias de marketing e entretenimento, mas alterando-a para refletir quem somos hoje", acrescenta a missiva.
O último desfile, que ocorreu em Nova Iorque, Estados Unidos, foi para o ar em 2018. Na passarela ainda desfilaram os icónicos "anjos" da marca, como são apelidadas as modelos que têm um contrato com a marca. É um grupo restrito, ao qual pertencem nomes conhecidos como a portuguesa Sara Sampaio, as brasileiras Adriana Lima e Alessandra Ambrósio, e a mulher de Adam Levigne, Behati Prinsloo.
No repertório de modelos da marca constam ainda outros nomes sonantes da indústria, cuja carreira foi catalisada, em certa parte, graças a este evento, que teve início em 1995. Tyra Banks foi um dos anjos da Victoria's Secret entre 1997 e 2004, assim como Gisele Bündchen, de 2000 a 2005. A par destas personalidades, também as supermodelos Naomi Campbell e Claudia Schiffer chegaram a pisar a passarela.
É expectável que, ao contrário das edições anteriores, não haja anjos que valham à empresa, já quem em 2021 anunciaram que estes iriam ser substituídos pelo VS Collective, uma grupeta de mulheres famosas pela sua carreira e ativismo. Da seleção fazem parte famosas como a jogadora de futebol norte-americana Megan Rapinoe, a atriz Priyanka Chopra Jonas, e a modelo Paloma Elsesser, a primeira a usar tamanho 48 na capa da "Vogue".
Se esta estratégia se vai manter? Ainda ninguém sabe, mas os sinais de mudanças já começam a crepitar no seio da marca. Em 2019, o primeiro ano em que o Victoria's Secret Fashion Show não se concretizou, contrataram Valentina Sampaio, a primeira modelo transgénero, seguindo-se, em 2020, o lançamento da primeira coleção que comportava tamanhos grandes, que iam do XXS ao XXL. Dois anos depois, em 2022, Sofia Jirau tornou-se a primeira modelo com síndrome de Down a aparecer numa campanha.