A minha filha mais nova nasceu em dezembro de 2019, também conhecido como o mês (e ano) em que nos estávamos a despedir do mundo tal como o conhecíamos até à data, com a agravante de que não fazíamos puto de ideia do que vinha aí — aposto que tinha fechado a pista do Lux mais vezes se soubesse, certo?
Em janeiro de 2020 lá começámos a ouvir falar de Wuhan, em fevereiro era quase uma lotaria saber quando nos chegava o primeiro caso, em março o céu abateu-se sobre as nossas cabeças. Ou para quem não apanhou a referência aos livros do Astérix, chegou a pandemia, os confinamentos, o teletrabalho e todo um desespero pelas vidas que este vírus nos levou (sem falar na economia e na sanidade mental).
Voltando à minha filha. Ao contrário do que aconteceu com a mais velha, mas igual a tantos outros bebés de pandemia, esta miúda parece ligada a mim pela anca. Depois de uma licença de mais ou menos cinco meses, o regresso ao (tele)trabalho não nos separou e os confinamentos que se seguiram, bem como os devidos cuidados a ter com uma situação pandémica que tanto melhorava como piorava, levaram a que esta bebé de ano e meio seja das crianças menos sociáveis que conheço. Traduzindo: se eu ou o pai não estamos ao pé, o cenário é grave.
O que me leva à próxima quarta-feira, 1 de setembro, dia que, por um lado, é ansiado há muito por significar que esta miúda se vai aperceber de que existem pessoas no mundo (e que pessoas são fixes); mas por outro, me causa uma ansiedade desmedida só ao pensar que vou passar a minha filha para os braços de uma total desconhecida, na soleira de uma porta (sim, as regras de contingência da COVID-19 ditam que os pais ainda não podem entrar no recinto da escola).
E assim como eu, imagino que toda esta questão esteja a assolar muitos pais. É que, bebés de pandemia ou não, passar crianças de meses ou pouco mais de 1 ano para os braços de alguém que nunca viram na vida, não é fácil. "As crianças podem sentir-se mesmo abandonadas. Por outro lado, também existem aquelas que têm esse medo, mas que não têm de se sentir realmente abandonadas pelos pais, depende de cada uma", explicou-me Inês Chiote Rodrigues, psicóloga clínica, neste artigo para a MAGG.
Mais: sabem a lógica de "vou fazer isto depressa que é para ela nem se aperceber"? Pois, não vai dar. "Sem querer, os pais poderão estar a passar a mensagem à criança de que desaparecem de repente e nunca mais vão aparecer. Também é natural que a mudança de um contexto, como os miúdos terem estado com uma ama até ao momento de entrada para a creche, traga algumas dúvidas e inseguranças por parte das crianças", reforça a especialista.
Diz Inês Chiote Rodrigues que o melhor é os pais despedirem-se sempre, reforçando que voltam daí a X tempo, para que as crianças aprendam que, "embora os pais possam não estar dentro do seu campo visual, eles continuam presentes e não irão desaparecer".
A teoria está lá. Na prática, quem aposta na choradeira pegada de mãe e filha? Pois. Mães e pais de bebés de pandemia, estamos juntos.