Há coisas em que não há consensos possíveis. No frango assado, por exemplo, jamais se irá convencer um amante do frango da Valenciana, em Campolide, Lisboa, que o do Rio de Mel, em Alvalade, é melhor. Não vale a pena a discussão. Cada um fica com a sua, e amigos como dantes. Com as praias é mais ou menos a mesma coisa. Uns gostam de ondas, outros de areais grandes, há quem goste de praias desertas, outros preferem um bom restaurante de praia, há os que têm recordações que valem para a vida, outros que conhecem aquele mar desde sempre e nunca o irão trocar. Por tudo isto, a MAGG criou o desafio Guerra de Praias, que durará ao longo dos meses de julho e agosto. A ideia é que os vários colaboradores da MAGG defendam, com unhas, dentes e facas afiadas, todas as segundas e sextas-feiras, aquela que é, para cada um, a melhor praia do mundo, a praia da sua vida. Os argumentos vinculam cada um dos autores. Depois da Praia da Foz, passamos para a praia da jornalista Catarina da Eira Ballestero. Aqui vai:
Quando soube da Guerra de Praias da MAGG, pensei imediatamente em três locais, todos eles com fortes argumentos para se tornarem a minha escolha final. Mas como só podia eleger uma praia como a minha preferida (e a melhor do meu mundo), fiz uma espécie de lista de prós e contras na minha cabeça. Sou uma pessoa muito ligada às sensações e às memórias que os sítios me trazem, daí a dificuldade acrescida do desafio.
Comecei o processo de seleção da minha praia e pensei imediatamente nas Avencas. Para quem não conhece, a Praia das Avencas situa-se na linha de Cascais, entre a Praia da Parede e a Praia da Bafureira, e foi a praia da minha infância e adolescência. Lembro-me de, em criança, ir para este praia com a minha avó (que me obrigava a usar sandálias de plástico para não cortar os pés nas rochas), de partilhar tardes de verão com os meus colegas de liceu e foi ainda a praia eleita durante os tempos de faculdade. No entanto, o mínimo areal, a impossibilidade de mergulharmos entre as rochas em dias de maré baixa e o facto de efetivamente ter cortado o pé nas rochas (bem a minha avó dizia) fazem com que as minhas queridas Avencas não assegurem o primeiro lugar do meu top 3.
Rumamos a sul, mais concretamente à zona do Sotavento Algarvio e da Ria Formosa. Desde que me conheço que passo férias em agosto no Algarve, dividindo-me entre Tavira e Manta Rota (sem querer ferir suscetibilidades, este é o Algarve que interessa). E é justamente a Praia da Manta Rota que também faz o meu coração palpitar. Um extenso areal, a água mais quente da região e umas bolas de Berlim incríveis. No entanto, o facto de reunir mais população por metro quadrado do que a Praia de Carcavelos e de Santo Amaro combinadas num domingo de agosto, faz com que não chegue ao pódio.
E chegamos finalmente à eleita das eleitas, a.k.a. a melhor praia do mundo e arredores, um paraíso (não tão) escondido no Parque Natural da Ria Formosa. Falamos da Praia da Terra Estreita, localizada em Santa Luzia, uma pequena localidade em Tavira. A Terra Estreita tem tudo, para todos os gostos. Um vasto areal, água quente e transparente, uma ampla concessão com várias espreguiçadeiras (em agosto, o custo é de 20€ por dia para duas pessoas, com oferta de duas bebidas do bar) para quem não quer levar a casa às costas e um bar que serve refeições leves.
No entanto, se deseja descanso e a sensação que não tem (praticamente) ninguém à sua volta, após percorrer a passadeira depois de desembarcar do barco que o leva até à praia (o barco apanha-se no cais de Santa Luzia, junto a uma casinha pequena de madeira dos Passeios Ria Formosa e tem o custo de 2€ por adulto, ida e volta), vire à direita, passe a concessão e caminhe um pouco mais — garanto que, se estiver distraído, ainda pensa que está numa qualquer praia deserta no meio das Caraíbas. Mas alerto já, mesmo que às 9h30 da manhã a preguiça o faça ficar muito perto da passadeira de acesso à praia, o mais provável é que passado duas horas tenha pessoas a invadir o seu espaço pessoal (algo que, aqui entre nós, me tira do sério).
É uma praia ótima para casais que querem sossego (se caminhar um pouco, lá está) mas também para famílias, dado que existe uma zona dedicada a desportos náuticos como windsurf e padel. Aliás, foi a primeira praia onde a minha filha fez férias e colocou os pezinhos no mar com apenas três meses, daí ser complicado achar uma praia que signifique tanto para mim como esta (eu avisei que sou apegada aos lugares). Os barcos para a Terra Estreita circulam com uma frequência de cerca de 15 minutos de intervalo no mês de julho e agosto, sendo também o caminho de ida para a praia um passeio a apreciar por miúdos e adultos — o percurso na Ria Formosa dura cerca de 10 minutos.
Para os madrugadores (ou para quem, tal como eu, tem filhos pequenos que não podem apanhar sol nas horas de maior calor), o primeiro barco em direção à Terra Estreita parte às 8h30 de Santa Luzia. O regresso da praia faz-se pela última vez às 20h15 mas deixo, novamente, um alerta: se ficar na praia até à última da hora, arrisca-se a esperar numa fila longa e demorada, obrigando os funcionários do ferry a fazer viagens extra para além daquelas que constam no horário — e eles não ficam muito contentes com isso.
Mas regressar da Terra Estreita também tem as suas vantagens. Afinal, Santa Luzia é considerada a capital do polvo e, nesta localidade, pode encontrar muitos restaurantes deliciosos para terminar o seu dia de praia da melhor maneira. Pelo menos eu já não consigo esperar mais pelas minhas férias e por aquelas duas semanas em que vou estar com os pezinhos de molho na água maravilhosa da Praia da Terra Estreita.