Quando engravidei, fugi a sete pés das aulas de preparação para o parto, não por medo de me assustar com imagens gráficas ou de hiperventilar de cada vez que ouvisse a palavra contrações, mas porque as dinâmicas de grupo em salas de aula sempre me fizeram algum "comicho", citando Tia Lena do Instagram (vulgo, Madalena Abecasis). Anos mais tarde, comprovei que continuo uma nódoa nisto com as famigeradas reuniões de pais que, meus amigos, estão de uma competição que ninguém aguenta.

Na minha infância, recordo-me de os meus pais irem às reuniões para saberem como é que a escola estava a correr e pouco mais. Agora é melhor irem prontos para a batalha, que se há campo em que estamos todos a tentar ser melhores que os outros é na parentalidade.

Falta uma semana para "abandonar" a minha filha. E é uma merda
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Esta semana, durante uma reunião de pais de uma das minhas filhas, o meu marido — coitado, nem sabia no que se estava a meter — resolveu, pasmem-se, fazer uma simples questão sobre o uso de máscaras. O que queríamos saber era se a escola tinha algum tipo de indicação sobre quando as educadoras poderiam não as usar e se as instituições de ensino teriam o mesmo tratamento que grande parte da sociedade. É que podemos andar todos aos linguadões em discotecas, mas as crianças e as educadoras livrarem-se disso, 'tá quieto — mesmo que o regresso às aulas não tenha significado um aumento de casos.

As educadoras lá me responderam que não tinham grandes novidades, coitadas, e o assunto poderia ter ficado por ali. Não, uma das mães tinha de dar uma opinião não solicitada, desatar a falar de coisas que não tinham nada que ver com a questão inicial que para aqui não interessam, tudo isto num tom subliminar e condescendente de "eu sei mais e vou explicar".

E é justamente essa ideia que me tira do sério no que diz respeito à maternidade, paternidade, parentalidade, etc.: parece que andamos todos em competição uns com os outros, num exercício constante de julgamento, às vezes mais óbvio, outras disfarçado.

Se damos colo a mais, habituamos os bebés e eles depois não querem ninguém. Se damos menos, não estamos a criar laços com os nossos filhos. Se amamentamos, não nos podemos queixar de nos levantarmos quatro vezes por noite. Se não, somos egoístas. Escrevem-se livros sobre não nos podermos julgar, mas há capítulos que afirmam coisas como "dar de mamar é um vínculo único". Então, espera, se der um biberão sou uma merda? Fica a dúvida.

Ainda no outro dia, vi algures no Instagram alguém desabafar de como era tão difícil ser mãe nos dias de hoje, com a quantidade de opiniões não solicitadas mascaradas de conselhos de amiga (da onça, claramente). E é tão verdade. Parece que ter uma criança nos braços deu uma luz verde a muitas pessoas para botar discurso de especialista sobre tudo quando, amiga, andamos cá todas ao mesmo, a tentar o nosso melhor sem que nos lixem o juízo.

E podem-me explicar porque é que, em pleno ano de 2021, existiam dois pais apenas na reunião, em comparação com as restantes 12 mães? Mas só as mulheres é que se interessam pela educação dos filhos? É só triste — principalmente se tivermos em conta que a reunião decorreu por Zoom às 19h para que todos pudessem estar presentes.

Ah, e continuo péssima nas dinâmicas de grupo, que não me contive e lá tive de falar novamente em resposta à mãe que teve de me explicar o seu ponto, tentando que a minha cara passivo-agressiva (ou resting bitch face) mostrasse o quão pouco solicitada foi a sua intervenção. Continuo forte nas dinâmicas — e tão boa a fazer amigas nas reuniões. Ou não.