Na primeira semana de "O Amor Acontece", o novo programa da TVI, Portugal rendeu-se ao amor e à interação entre o casal Jorge, de 75 anos, e Ide, de 64 anos. Nesta nova aposta da estação televisiva de Queluz de Baixo, quatro casais viveram quatro intensos dias em autênticas casas de sonho, na expectativa de que o amor, de facto, acontecesse. Os casais mais jovens não se renderam aos afetos e foi o casal composto pelos dois concorrentes mais velhos do programa que brilhou no campo físico e afetivo. Jorge e Ide renderam-se ao amor e perderam-se em beijos, abraços e carícias ao longo da semana.
Neste contexto, será que Jorge e Ide são um caso isolado ou a idade é diretamente proporcional à predisposição para amar? Generalizações à parte, “existe uma noção que, com o passar dos anos, o nosso tempo e que as nossas vivências estão a chegar ao fim, aquele aproximar do término, e se calhar também as aproveitamos com o máximo potencial possível”, explica Rita Castro, psicóloga e sexóloga, à MAGG.
Na terceira idade, as experiências sexuais tradicionais dão origem a outras
Com a premissa de que os estereótipos intrínsecos na sociedade acabam por influenciar a nossa perceção daquilo que faz parte do domínio da sexualidade, a especialista esclarece que, “com o avançar da idade, por vezes, o que acontece é que acabam as experiências sexuais tradicionais, sendo que ainda vivemos muito com a ideia de que tudo se resume à penetração, e constrói-se mais o afeto e o toque físico”.
Rita Castro desmistifica ainda o estigma de que a vida sexual termina com o avançar da idade. "Há mudanças, sobretudo ao nível da resposta sexual, ereção ou lubrificação, mas não significa que tenha de ser um declínio.". A psicóloga e sexóloga esclarece que “mesmo perdendo a função da ereção e até o sexo penetrativo, se deixar de fazer sentido, podemos continuar a ter as carícias genitais, o toque no corpo e os orgasmos", e acrescenta que, "muitas vezes, aquela questão do roça, roça, do coxa com coxa, pode desencadear mais prazer e mais disponibilidade para o contacto físico".
Com a noção de que a ideia de "amor para a vida toda" deixou de ser uma regra imposta pela sociedade, a especialista Rita Castro diz-nos que “têm-se visto, cada vez mais, amores a acontecer em centros de dia e nas residências para pessoas mais velhas, porque cada vez mais também há informação e a permissão social para que isso aconteça”.
Em relação àquilo que é a noção do amor, principalmente junto dos mais jovens, a especialista confessa que temos tendência a confundir “o [amor] não fazer sentido com a dificuldade” e acrescenta que “às vezes, perante a dificuldade, tendemos a sair da relação e, na realidade, não foi o amor que acabou, foi só um desafio que se criou”. Já no que diz respeito às pessoas com mais idade, já há uma noção de que é preciso “regar o amor”.
Costuma-se dizer que amor faz bem ao corpo e à alma e, se dúvidas restassem, Rita Castro convida-nos a refletir. "Se pensarmos que a saúde não é a ausência de doença por si só, mas sobretudo o bem-estar, então esta componente das relações íntimas e de proximidade é muito importante."
A especialista enumera os benefícios da sexualidade e do prazer – desde as emoções positivas aos orgasmos e à sua influência na imunidade e na saúde cardiovascular – e deixa bem claro que “não é, de facto, aquela velha história de que as relações [em idades mais avançadas] poderiam fazer mal ao coração, claro que é preciso ter atenção ao esforço físico, mas já sabemos que faz melhor do que pior”.
Mitos e preconceitos à parte, confirma-se que “estamos sempre disponíveis para o amor, às vezes a forma de o expressar é que pode ser diferente de caso para caso, mas o amor é desde que nascemos até à morte – e o sexo e a sexualidade também". "Se calhar o nosso conceito de sexo é que tem de mudar”, esclarece a psicóloga e sexóloga.