António Raminhos prepara-se para percorrer o país, de norte a sul, para fazer humor com a saúde mental. "Não sou eu, é a minha cabeça" é o novo espetáculo a solo do comediante. De que forma se pode troçar de um assunto tão sério quanto este e conseguir provocar risadas? Fomos tentar descobrir.
Já existem dez datas e arenas definidas para este que é o regresso de Raminhos, a título individual, aos palcos, depois de a pandemia ter obrigado a uma paragem de um ano. Mas onde vai o artista de 42 anos buscar credibilidade para tratar um tema tão sensível?
"Desde pequeno que lido com questões relacionadas com a ansiedade e com transtorno obssesivo-compulsivo, mas só aos 26 anos é que me foi diagnosticado. Até lá era o esquisitinho, o parvinho, tinha manias", contou à MAGG. "Ninguém falava em saúde mental nos anos 80", aponta.
"Abordo estas questões de forma natural para que as pessoas possam ter aquilo que eu não tive, que é uma identificação"
Foi ao ler "muitos livros sobre o tema" — sendo que os que existiam eram escritos em inglês e encomendados através da Amazon — que começou "a perceber que noutro país havia pessoas com o mesmo tipo de padrões, com as mesmas ideias, os mesmos medos".
Com este espetáculo, Raminhos procura normalizar a saúde mental. "Já há algum tempo que abordo estas questões de forma natural para que as pessoas possam ter aquilo que eu não tive, que é uma identificação. 'Se calhar, há mais gajos como eu'", elucidou-nos.
"Estou a juntar a parte real daquela situação que aconteceu mesmo e a permitir a quem lida com questões parecidas que possa identificar-se", reforça o humorista, que, em palco, sempre optou por abordar "questões muito pessoais" num "registo de storytelling".
Raminhos defende que "a comédia tem de ser genuína e tem de envolver verdade". "Porque é que, às vezes, as pessoas se riem não tanto da piada em si mas mais da situação? Porque percebem que o que estás a contar é real, aconteceu mesmo", aponta, garantindo que quem passou pelas mesmas situações que serão abordadas vai reconhecer verdade no discurso do comediante.
"O maior problema de pessoas que lidam com questões de saúde mental é fazer entender o outro de que aquilo é real"
"O maior problema de pessoas que lidam com questões de saúde mental é fazer entender o outro de que aquilo é real", refere, contando que chega a ter quem o aborde a dizer "eu lido com estas questões, mas vim com o meu namorado para ele perceber que não sou só eu". Com este solo, Raminhos quer que "quem esteja na dúvida acerca de se deve procurar ajuda ou não o possa fazer".
Em "Não sou eu, é a minha cabeça", vai tentar explicar "o que é na realidade a ansiedade" e de que forma "ela pode ser uma coisa boa". "Falar um bocadinho do estigma de ir ao psicólogo e ao psiquiatra, pelo qual eu também passei e às vezes ainda tenho", elabora, acrescentando: "Vou abordar muito as primeiras pancadas que eu tive, que hoje tenho noção de que eram comportamentos obsessivos".
Assim se passarão cerca de 50 minutos. "De comédia em torno da minha história", revela à MAGG. Mas o espetáculo não acaba aqui. Segue-se "uma espécie de grupo de auto-ajuda, com uma sessão aberta de perguntas e respostas" na qual Raminhos estará a falar com o público.
"Não se trata de dar conselhos ou sugestões daquilo que devem fazer, porque eu sou um sofredor como os outros, não sou nenhum guru", avisa. Em vez disso, "o objetivo é que as pessoas possam fazer partilhas e rir, contar pormenores, trazer ligeireza a um tema que, por si só, já é chato".
Assistir a este espetáculo interativo e participar nele implica um custo de 15€. Os bilhetes estão à venda na Ticketline e na BOL, sendo que já há salas "praticamente cheias". O objetivo é, findas estas dez datas, conseguirem realizar o solo em mais. Cada um tem início às 21h30.
Entre 19 de setembro e 25 de novembro, António Raminhos vai tentar desmistificar a doença mental. Este roadshow, apenas acessível a maiores de 16 anos, é produzido pela Brain Entertainment e patrocinado pela Multicare, a única seguradora com cobertura para despesas relacionadas com a saúde mental.
Onde e quando vão acontecer estes espetáculos?
19 de setembro - Leiria - Teatro Miguel Franco;
22 de setembro - Portimão - Auditório do Museu de Portimão;
1 de outubro - Sintra - Auditório Municipal António Silva;
7 de outubro - Évora - Auditório da Fundação Eugénio de Almeida;
15 de outubro - Viana - Auditório do Casino Afifense;
20 de outubro - Lisboa - Estúdio Time Out;
22 de outubro - Coimbra - Auditório do Conservatório de Música;
29 de outubro - Covilhã - Auditório Unidos do Tortosendo;
24 de novembro – Porto - Hard Club - sala 1;
25 de novembro - Braga - Auditório do Altice Fórum Braga.